I. Como começou a criação?
Quando se fala de lançamentos de novos aplicativos de celular, geralmente, diz-se que eles foram “criados”. O mesmo acontece quando um pintor lança um novo quadro de sua autoria; chamam-no de “criador”. Mas a palavra “criação” ou “criador”, quando usada dessa maneira, tem significado muito amplo. Por mais inovador que seja um app ou quão novas sejam as técnicas utilizadas em uma pintura, ambos se baseiam em coisas que existiam anteriormente. O desenvolvedor do aplicativo utiliza um computador, um programa para escrever os códigos, um provedor e todos eles existiam antes do novo aplicativo; o mesmo se aplica ao pintor e sua obra, que usa tintas e uma tela previamente existentes.
Porém, o verbo “criar” significa “fazer do nada” Klicken Sie, um zu untersuchen. Nesse sentido, somente Deus, por seu poder infinito, pode ser chamado de Criador.
Vemos muitas vezes no noticiário que os cientistas estão fazendo experimentos para “criar” vida. Para isso, eles usam os elementos químicos, suas moléculas e seus átomos; isto é, usam da matéria. Não sabemos se um dia conseguirão alcançar seu propósito, mas, ainda que consigam, não poderão dizer que criaram uma nova vida, pois tudo o que utilizam em seus experimentos são coisas preexistentes na natureza; ou seja, coisas que foram realmente criadas por Deus.
Diz o Padre Leo J. Trese, em sua obra A Fé Explicada:
Quando Deus cria, não necessita de materiais ou utensílios para poder trabalhar. Simplesmente quer que alguma coisa seja, e pronto, essa coisa surge. Faça-se a luz, disse Ele no princípio, e a luz se fez… Faça-se um firmamento no meio das águas, Disse Deus, e assim se fez (Gn 1, 3-6).
(TRESE; 1999; p. 31)
Diz o Catecismo da Igreja Católica e o Catecismo Menor de São Pio X:
Acreditamos que Deus não precisa de nada preexistente, nem de qualquer ajuda, para criar. A criação tão pouco é uma emanação necessária da substância divina. Deus cria livremente “do nada”.
(CIC, 296)
51. Por que Deus é chamado “Criador do Céu e da Terra”?
Deus é chamado Criador do Céu e da Terra, ou seja, do Mundo, porque o fez do nada, e fazer do nada é criar.
Portanto, Deus criou todas as coisas, mas não só isso: Ele mantém toda a criação na existência.
II. A Ordem da Criação
Na ordem da criação divina, as primeiras criaturas foram os anjos. Um anjo é um ser espiritual, propriamente um espírito, isto é, um ser com vontade e inteligência, mas sem corpo ou dependência da matéria.
Sobre os anjos, diz o CIC:
A existência dos seres espirituais, não-corporais, a que a Sagrada Escritura habitualmente chama anjos, é uma verdade de fé. O testemunho da Escritura é tão claro como a unanimidade da Tradição.
(CIC, 328)
A alma humana também é um espírito, mas não é um anjo e nunca será, nem mesmo quando, por causa da morte, a alma humana estiver separada do corpo ela será um anjo. O homem é feito de corpo e alma, por isso nunca estará completo enquanto essas duas partes estiverem separadas. Mas esse tema será melhor abordado na catequese sobre a ressurreição dos mortos.
O menor dos anjos é infinitamente superior ao mais inteligente dos homens. Mas os anjos são apenas a mais baixa e pequena das categorias das hostes angélicas. Nas Escrituras vemos que existem serem espirituais ainda mais perfeitos que os anjos, são eles os arcanjos, os principados, as potestades, as virtudes, as dominações, os tronos, os querubins e os serafins. Todas esses são chamados de anjos de maneira genérica.
Podemos dizer que a diferença no grau de perfeição que existe entre um anjo e um homem é a mesma que existe entre o primeiro e um arcanjo.
Porém, o conhecimento que temos sobre os anjos – o termo anjos aqui é usado de maneira geral – aqui nesta vida é muito pequeno. Só nos foram dados a saber o nome de três anjos: Gabriel, que significa “Fortaleza de Deus”; Miguel, “Quem como Deus?”; e Rafael, “Remédio de Deus”. Deus apenas nos deixou um vislumbre daquilo que nos espera no Seu reino.
III. A Liberdade dos Anjos e a Revolta de Satanás
Quando da criação dos anjos, Deus deu a eles uma vontade que os fez supremamente livres. Todos sabemos que para alcançar o céu é necessário que antes amemos a Deus. É pelo seus atos de amor a Deus que um espírito, anjo ou alma, alcança o céu. E o amor precisa ser provado, caso contrário não é amor. E o amor só pode ser provado através da livre e voluntária submissão da vontade criada por Deus, por aquilo que chamamos de ato de obediência ou um ato de lealdade.
Deus deu aos anjos o livre-arbítrio para que fossem capazes de fazer o seu ato de amor por Ele, de escolhê-Lo. Depois disso, poderiam vê-Lo face a face e entrar na eterna união com Ele; isto é, o céu.
A nós não foi revelado qual foi a prova à qual os anjos foram submetidos. Sobre isso diz o Padre Leo Trese:
Muitos teólogos pensam que Ele deu aos anjos uma visão prévia de Jesus Cristo, o Redentor da raça humana, e lhes mandou que o adorassem. Jesus Cristo em todas as suas humilhações, uma criança no estábulo, um criminoso na cruz. Segundo esta teoria, alguns anjos se teriam rebelado ante a perspectiva de terem que adorar Deus encarnado. Conscientes da sua própria magnificência espiritual, da sua beleza e dignidade, não quiseram fazer o ato de submissão que a adoração a Jesus Cristo lhes pedia. Sob a chefia de um dos anjos mais dotados, Lúcifer, “ Portador da luz” , o pecado de orgulho afastou de Deus muitos anjos, e o terrível grito “non serviam”, “não servirei” , percorreu os céus.
(TRESE; 1999; p. 33)
Ensina o Catecismo da Igreja Católica:
A Escritura fala de um pecado destes anjos. A queda consiste na livre opção destes espíritos criados, que radical e irrevogavelmente recusaram Deus e o seu Reino. Encontramos um reflexo desta rebelião nas palavras do tentador aos nossos primeiros pais: “Sereis como Deus” (Gn 3, 5). O Diabo é “pecador desde o princípio” (1 Jo 3, 8), “pai da mentira” (Jo 8, 44).
Foi este o início do inferno. Pois o inferno é a rebelião de um espírito que se separa de Deus.
Quando o ser humano pecou na pessoa de Adão, Deus nos deu uma segunda chance, contudo essa segunda chance não foi oferecida aos anjos rebeldes. Dadas a perfeita clareza que possuía sua mente angélica e a sua perfeita liberdade, não havia desculpa possível para o pecado angélico. Eles compreendiam de uma maneira perfeita a consequência do pecado. Ademais, não houve neles nenhuma espécie “tentação”. Diz o Padre Leo:
Por terem rejeitado Deus, deliberada e plenamente, suas vontades permaneceram fixas contra Deus, fixas para sempre. Neles não é possível o arrependimento, eles não querem arrepender-se. Fizeram a sua escolha por toda a eternidade. Neles arde um ódio perpétuo contra Deus e contra todas as suas obras.
(TRESE; 1999; p.34)
A nós também não foi revelado o número de anjos que caíram, mas, pelas Escrituras, sabemos que foram muitos.
IV. Temos Algum Dever para com os Anjos?
Devemos venerar os anjos? Com a relação que devemos ter com nossos anjos da guarda? São Pio X nos responde essa pergunta em seu Catecismo Menor:
58. Temos deveres para com os anjos?
Para com os Anjos temos o dever de veneração; e para com o Anjo da Guarda temos também o de ser gratos, de escutar-lhe as inspirações e de não ofender-lhe nunca a presença com o pecado.
Esta é uma breve introdução sobre a criação e os anjos. No próximo texto abordaremos a existência do demônio.
- Catecismo da Igreja Católica;
- Catecismo Menor de São Pio X;
- TRESE; Leo John. A fé explicada / Leo J. Trese; tradução de Isabel Perez. – 7ª ed. –
- São Paulo: Quadrante, 1999.