A troco de permanecerem estáveis no comodismo, os homens tendem a evitar, afastar ou negar aquilo que provavelmente tornar-se-á um incômodo às suas rasas percepções. Assim funciona a natureza humana inclinada ao conforto e ao próprio bem estar, tentando constantemente elencar o reducionismo de tudo aquilo que não lhe desce a goela à algo de ordem puramente natural e incausada. A questão é que: A humanidade nunca existiu em estado natural.
Negarmos que algo transcende ao homem e sua ordem natural em todos os aspectos (até nos menores e inexplicáveis aspectos cotidianos) é a finalidade do naturalismo filosófico, corrente de pensamento que visa reduzir a ordem sobrenatural à inexistência, em prol de um racionalismo irracional e que prefere a natureza ao natural; corrente de pensamento que abriria em breve as portas para a negação de tudo, o niilismo. Por conta da premissa naturalista da negação de Deus, já poderíamos interpretar o resultado do niilismo dentro do próprio naturalismo, compreendendo que negar a Deus é negar a tudo. Isso acontece por uma variedade de hipóteses, entre elas, eu diria que o medo é um grande concorrente à primeira posição.
O medo de lidarmos com uma realidade que nos obriga a sair da zona de conforto confronta-nos diariamente perante questões inerentes ao nosso modo de viver, agir e enxergar as coisas ao redor. O medo de não negar, de preocuparmo-nos com algo além do materialismo cotidiano, de algo que pode, inclusive, custar a vida eterna. Essa covardia dá espaço para que correntes de pensamentos como o naturalismo e o niilismo existam. Negar aquilo que se tem medo de encarar torna-se conveniente para aqueles que são covardes. “Deus nos dá medo, por isso O negamos”.
Encararmos lucidamente esse medo em busca da Verdade é um dever. Não existe virtude ou qualquer forma expressa de mérito na covardia, trata-se do completo oposto; escondermos de forma amedrontada para não enfrentarmos a realidade não nos move a lugar algum, antes prende-nos num limbo de escuridão e cegueira de modo que, consequentemente, um levará ao outro.
É necessário que sejamos firmes perante as inconstantes adversidades que a vida em seus diversos aspectos nos traz. Empregar-nos em algo maior; algo que valha a pena; romper com a covarde decisão de sermos seres egoístas, individualistas, egocêntricos, de viver somente para si, e portanto, de nem sequer viver. Somos maiores que isso, maiores que a cegueira, maiores que o reducionismo naturalista, maiores que a covardia, maiores que o medo.
“Ainda que fujas do campo para a cidade, ou da rua para a tua casa, a tua consciência vai sempre contigo… Da tua casa só podes fugir para o teu coração. Porém, para onde fugirás de ti mesmo?”
Santo Agostinho