Minha alma pode morrer?

Quando as funções do corpo de uma pessoa cessam, significa que ela morreu, a hora de sua morte física chegou. Quando uma pessoa comete um pecado mortal, seu corpo não morre, mas sua alma, sim.

No momento de nosso Batismo, fomos salvos da morte do espírito em que o pecado de Adão nos colocou. Diz o Padre Trese:

No Batismo, Deus uniu a Si a nossa alma. O Amor de Deus — o Espírito Santo — derramou-se nela, preenchendo o vazio espiritual que o pecado original havia produzido. Como consequência desta íntima união com Deus, a nossa alma se eleva a um novo tipo de vida, a vida sobrenatural que se chama “graça santificante” e que é nossa obrigação preservar e não só preservar, mas incrementar e intensificar.

(TRESE, 1999, p. 58)

Quando nos unimos a Deus pelo Batismo, Ele não nos abandona jamais. A única maneira possível pela qual podemos nos afastar de Deus depois de batizados é pela repulsa deliberada a ela; isto é, pelo pecado.

Se nossas ações representam uma livre e consciente desobediência a Deus em matéria grave, nós pecamos mortalmente. Esta desobediência implica em uma rejeição a Deus. Ela corta nossa união com ele, da mesma maneira que um alicate corta um fio elétrico e faz com que as instalações elétrica parem de funcionar. É o que acontece com nossa alma depois de um pecado mortal, mas, nesse caso, as consequências são infinitamente mais desastrosas, porque o pecado nos mergulha na morte.

Morte terrível e pavorosa, pois não se manifesta a nós de maneira exterior. O pecador está vivo fisicamente, mas sua alma está morta, longe do amor de Deus. Ele está fechado para a graça. Nas palavras do Padre Trese:

Perdem-se todos os méritos sobrenaturais que o pecador havia adquirido antes do seu pecado. Todas as boas obras feitas, todas as orações pronunciadas, todas as Missas oferecidas, os sofrimentos padecidos por amor a Cristo, absolutamente tudo é varrido no momento de pecar.

(TRESE, 1999, p. 59)

            Não somente isso, mas alma em pecado mortal perde o bem mais valioso que qualquer ser humano pode alcançar: o céu. O fim último de nossas vidas, a razão pela qual existimos, é a provar nosso amor por Deus. O tempo que temos para provar este amor é durante nossas vidas terrenas; e a morte encerra este tempo. Depois da morte, nossas almas fixam-se naquilo que desejamos durante a vida: Deus ou o pecado. Não há opção de nos arrependermos, pois as almas como substâncias espirituais têm plena consciência da suas ações e não podem mudar.

Perdido o céu, não resta outra alternativa, senão o inferno.

Quando morremos, desaparecem as exterioridades, e o pecado mortal que, ao cometê-lo, se apresentou como uma pequena concessão ao eu, mostra-se à luz fria da justiça divina tal como na realidade é: um ato de soberba e rebeldia, como ato de ódio a Deus que está implícito em todo pecado mortal. E na alma irrompem as terríveis, ardentes e torturantes sede e fome de Deus, desse Deus para quem a alma foi criada, desse Deus que ela nunca encontrará. Essa alma está no inferno.

(TRESE, 1999, p. 59)

Nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:

O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a reta consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa dum apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Foi definido como “uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna (Santo Agostino, Contra Fausto, 22: PL 42, 418)”.

(CIC, 1849)

O ato de pecar implica em uma recusa de nossa parte de darmos a nossa obediência e nosso amor a Deus. Cada partícula de nossos corpos pertencem a Deus, por isso devemos amá-lo e obedecê-lo em todos os aspectos de nossas vidas; nas obras, palavras exteriores, desejos e pensamentos.

Pecamos fazendo aquilo que Deus proíbe e não fazendo aquilo que Ele ordena.

O Que é que Faz uma Ação Boa ou Má?

A pergunta sobre o que faz uma ação ser boa ou má pode soar estranha para o ouvido de muitos. Mas a maioria das pessoas de nossos tempos não sabem respondê-la de maneira correta. A Vontade de Deus é o que define se uma ação é boa ou não. Se Deus quer que façamos algo, será algo bom; se não, será ruim.

Conhecemos a Vontade de Deus pela Escritura e pela Igreja. Mas ambas não são causa da Vontade de Deus.

As Condições para o Pecado Mortal

Para que uma algo seja considerado como pecado mortal, são necessárias três condições. Se qualquer uma delas não for encontrada, não haverá pecado mortal.

A primeira condição para que o pecado seja grave é a matéria que ele inflige também ser grave. Não é pecado mortal dizer uma mentira de menor importância, mas prejudicar a reputação de alguém com uma mentira o é.

A segunda condição é que quem cometa o pecado saiba que está fazendo algo errado. Não se pode pecar se está em ignorância. Se não sei, por exemplo, que participar de um culto protestante é pecado, não pecaria se o fizesse. Pressupõe-se, é claro, que a ignorância não seja por culpa de quem peca. Se escolhe-se não saber de algo com medo de que isso te atrapalhe, peca por isso.

Por fim, não se pode cometer um pecado mortal se não se opta por ele de maneira livre. Por isso, não se peca dormindo, por mais terríveis que os sonhos possam apresentar-se a quem sonha.

Sobre essas condições para o pecado mortal, nos ensina o Catecismo:

Para que um pecado seja mortal, requerem-se, em simultâneo, três condições: «É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é cometido com plena consciência e de propósito deliberado».

A matéria grave é precisada pelos dez Mandamentos, segundo a resposta que Jesus deu ao jovem rico: «Não mates, não cometas adultério, não furtes, não levantes falsos testemunhos, não cometas fraudes, honra pai e mãe» (Mc 10, 18). A gravidade dos pecados é maior ou menor: um homicídio é mais grave que um roubo. A qualidade das pessoas lesadas também entra em linha de conta: a violência cometida contra pessoas de família é, por sua natureza, mais grave que a exercida contra estranhos.

Para que o pecado seja mortal tem de ser cometido com plena consciência e total consentimento. Pressupõe o conhecimento do caráter pecaminoso do ato, da sua oposição à Lei de Deus. E implica também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma opção pessoal. A ignorância simulada e o endurecimento do coração (97) não diminuem, antes aumentam, o caráter voluntário do pecado.

 A ignorância involuntária pode diminuir, ou mesmo desculpar, a imputabilidade duma falta grave. Mas parte-se do princípio de que ninguém ignora os princípios da lei moral, inscritos na consciência de todo o homem. Os impulsos da sensibilidade e as paixões podem também diminuir o caráter voluntário e livre da falta. O mesmo se diga de pressões externas e de perturbações patológicas. O pecado cometido por malícia, por escolha deliberada do mal, é o mais grave.

(CIC, 1857-1860)

É importante que tenhamos isso claro em nós, pois o pecado mortal é uma realidade muito terrível, a mais terrível dessa vida, para que seja tomada de maneira desleixada e escrupulosa.


Referências Bibliográficas

  • Catecismo da Igreja Católica;
  • TRESE; Leo John. A fé explicada / Leo J. Trese; tradução de Isabel Perez. – 7ª ed. –  São Paulo: Quadrante, 1999.
Catecismo
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