Esse é um texto de um católico aos outros católicos que podem ter a mesma percepção da realidade. Ao adentrarmos na busca de uma vida santa, acabamos percebendo que estamos “sozinhos” no mundo. Pois, infelizmente, são poucos aqueles que querem viver segundo os desígnios de Deus.
Pois bem, antes de falarmos um pouco mais sobre essa solidão, é salutar que deixemos claro que esse texto não é uma lamentação. Além disso, não é uma apologia a um isolacionismo, pois nós católicos devemos sempre ter em mente que, se estamos em no caminho certo, é por Graça Divina e não devemos nos achar mais santos do que os outros, pois sem a Graça seríamos piores do que eles.
Feitas essas considerações, voltemos à nossa solidão dos católicos ante o nosso mundo pagão. Pare para pensar: quantos amigos católicos você tem na sua sala? Na faculdade? No Trabalho? Eu tenho somente uma resposta para essas perguntas: NENHUM. Creio que essa seja a realidade de muitos de nós católicos, estamos “sozinhos” no mundo. Então, o que devemos fazer?
A nossa resposta para essa solidão está no Cristo Crucificado. No capítulo 27, versículo 46, do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo narrado por São Mateus, podemos ver Nosso Senhor clamar com profunda angústia: “Eli, Eli, lamásabachtháni?” (Mt 27, 46). Em um primeiro momento podemos pensar que Jesus desesperou-se diante do abandono do Pai e que deve ser essa nossa reação ante a solidão que enfrentamos no mundo. Contudo, essa lamentação está presente em outro livro das Sagradas Escrituras, o livro dos Salmos, mais especificamente no Salmo 22:
Ao mestre de canto. Segundo a melodia “A corça da aurora”. Salmo de Davi.* 2.Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? E permaneceis longe de minhas súplicas e de meus gemidos?* 3.Meu Deus, clamo de dia e não me respondeis; imploro de noite e não me atendeis. 4.Entretanto, vós habitais em vosso santuário, vós que sois a glória de Israel. 5.Nossos pais puseram sua confiança em vós, esperaram em vós e os livrastes. 6.A vós clamaram e foram salvos; confiaram em vós e não foram confundidos. 7.Eu, porém, sou um verme, não sou homem, o opróbrio de todos e a abjeção da plebe. 8.Todos os que me vêem zombam de mim; dizem, meneando a cabeça: 9.“Esperou no Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o ama”.* 10.Sim, fostes vós que me tirastes das entranhas de minha mãe e, seguro, me fizestes repousar em seu seio. 11.Eu vos fui entregue desde o meu nascer, desde o ventre de minha mãe vós sois o meu Deus. 12.Não fiqueis longe de mim, pois estou atribulado; vinde para perto de mim, porque não há quem me ajude. 13.Cercam-me touros numerosos, rodeiam-me touros de Basã; 14.contra mim eles abrem suas fauces, como o leão que ruge e arrebata. 15.Derramo-me como água, todos os meus ossos se desconjuntam; meu coração tornou-se como cera e derrete-se nas minhas entranhas. 16.Minha garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a minha língua: vós me reduzistes ao pó da morte. 17.Sim, rodeia-me uma malta de cães, cerca-me um bando de malfeitores. Traspassaram minhas mãos e meus pés: 18.poderia contar todos os meus ossos. Eles me olham e me observam com alegria, 19.repartem entre si as minhas vestes, e lançam sorte sobre a minha túnica.* 20.Porém, vós, Senhor, não vos afasteis de mim; ó meu auxílio, bem depressa me ajudai. 21.Livrai da espada a minha alma, e das garras dos cães a minha vida. 22.Salvai-me a mim, mísero, das fauces do leão e dos chifres dos búfalos. 23.Então, anunciarei vosso nome a meus irmãos, e vos louvarei no meio da assembleia.* 24.“Vós que temeis o Senhor, louvai-o; vós todos, descendentes de Jacó, aclamai-o; temei-o, todos vós, estirpe de Israel, 25.porque ele não rejeitou nem desprezou a miséria do infeliz, nem dele desviou a sua face, mas o ouviu, quando lhe suplicava.” 26.De vós procede o meu louvor na grande assembleia, cumprirei meus votos na presença dos que vos temem. 27.Os pobres comerão e serão saciados; louvarão o Senhor aqueles que o procuram: “Vivam para sempre os nossos corações”. 28.Hão de se lembrar do Senhor e a ele se converter todos os povos da terra; e diante dele se prostrarão todas as famílias das nações, 29.porquea realeza pertence ao Senhor e ele impera sobre as nações. 30.Todos os que dormem no seio da terra o adorarão; diante dele se prostrarão os que retornam ao pó. 31.Para ele viverá a minha alma, há de servi-lo minha descendência. Ela falará do Senhor às gerações futuras e proclamará sua justiça ao povo que vai nascer: “Eis o que fez o Senhor”.
Como podemos ver, o salmo é dividido em duas partes. Depois da lamentação, a partir do versículo 22, temos uma grande ação de graças. O salmista nos mostra que mesmo diante desse aparente abandono, Deus está conosco. Por isso devemos usar essa solidão no altar da Cruz e, como o próprio salmista nos diz, anunciar o nome de Deus para os nossos irmãos e louvá-Lo no meio da assembleia.
Eis o que temos de fazer, meus amigos. Ante a solidão, lembremos do Cristo crucificado e do salmo usado pelo próprio Cristo no seu momento de maior angústia. Além disso, podemos lembrar que mesmo que estejamos em uma situação solitária, Deus nos deu pessoas que nos ajudam em nossa caminhada, sejam elas da nossa família ou aqueles “amigos que são mais que irmãos” (Pv 18, 24).
Salve Maria