O Espírito Santo e a Graça

Todos nós sabemos quem é o Espírito Santo; sabemos que Ele é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, juntamente com o Pai e o Filho. Também ouvimos o Espírito Santo ser chamado de Paráclito (palavra grega que significa “Consolador”), o Advogado (que defende os homens diante de Deus), ainda podemos chamá-lo de Espírito de Verdade, Espírito de Deus e o Espírito de Amor. Sabemos também que vem a nós no momento de nosso Batismo e que habita em nossas almas quando estamos em estado de graça. 

A existência do Espírito Santo e, por conseguinte, a doutrina da Trindade, só foi conhecida depois da revelação do Cristo. No Antigo Testamento, o povo da Aliança vivia circundado de nações pagãs e idólatras, o que levou o povo a desviar-se várias vezes do caminho estabelecido por Deus. Por isso, nesta fase da revelação, Deus enfatizou a unidade divina. Deus não quis, antes da Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade, revelar aos homens que existem n’Ele três Pessoas.  

O Espírito Santo nos dá a conhecer a Cristo, mas não fala de Si mesmo. Conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:

“Ninguém conhece o que há em Deus, senão o Espírito de Deus” (1 Cor 2, 11). Ora, o seu Espírito, que O revela, nos dá a conhecer Cristo, seu Verbo, sua Palavra viva, mas não Se revela a Si mesmo. Aquele que “falou pelos profetas” (Símbolo Niceno-constantinopolitano) faz-nos ouvir a Palavra do Pai. Mas, ele mesmo, nós não O ouvimos. Não O conhecemos senão no movimento em que Ele nos revela o Verbo e nos dispõe a acolhê-Lo na fé. O Espírito de verdade, que nos «revela» Cristo, “não fala de Si próprio” (Jo 16, 13). Tal escondimento, propriamente divino, explica porque é que «” mundo não O pode receber, porque não O vê nem O conhece”, enquanto aqueles que creem em Cristo O conhecem, porque habita com eles e está neles (Jo 14, 17). A Igreja, comunhão viva na fé dos Apóstolos que ela transmite, é o lugar do nosso conhecimento do Espírito Santo:

— Nas Escrituras, que Ele inspirou:
— na Tradição, de que os Padres da Igreja são testemunhas sempre atuais;
— no Magistério da Igreja, que Ele assiste;
— na liturgia sacramental, através das suas palavras e dos seus símbolos, em que o Espírito Santo nos põe em comunhão com Cristo;
— na oração, em que Ele intercede por nós;
— nos carismas e ministérios, pelos quais a Igreja é edificada;
— nos sinais de vida apostólica e missionária;
— no testemunho dos santos, nos quais Ele manifesta a sua santidade e continua a obra da salvação.

(CIC, 687-688)

Nome

Como sabemos, o Espírito Santo é gerado através do amor que existe entre Deus Pai e Deus Filho. Em razão disso, o Espírito Santo não possui um nome próprio como as outras duas Pessoas da Trindade. O Catecismo Romano nos ensina que somos obrigados a tirar os nomes que atribuímos a Deus das coisas criadas e, além disso, não conhecemos outra maneira de comunicar a natureza e essência divina, senão por via da geração; ou seja, chamamos a Primeira Pessoa de Pai, pois é Ele quem gera na eternidade a Segunda Pessoa, a quem chamamos de Filho. Contudo, não temos uma designação particular da origem da Terceira Pessoa, pois nos falta um termo adequado que possa exprimir como pode Deus comunicar-Se a Si próprio pela força do amor. (cf. Catech. R. 9, 1, 3) 

Ainda sobre o nome próprio do Espírito Santo, nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:

“Espírito Santo”, este é o nome próprio d’Aquele que adoramos e glorificamos com o Pai e o Filho. A Igreja recebeu este nome do Senhor e professa-o no Batismo dos seus novos filhos (cf. Mt 28, 19). O termo «Espírito» traduz o termo hebraico Ruah que, na sua primeira acepção, significa sopro, ar, vento. Jesus utiliza precisamente a imagem sensível do vento para sugerir a Nicodemos a novidade transcendente d’Aquele que é pessoalmente o Sopro de Deus, o Espírito divino (cf. Jo 3, 5-8). Por outro lado, Espírito e Santo são atributos divinos comuns às três Pessoas divinas. Mas, juntando os dois termos, a Escritura, a Liturgia e a linguagem teológica designam a Pessoa inefável do Espírito Santo, sem equívoco possível com os outros empregos dos termos “espírito” e “santo”.

(CIC, 691)

O Espírito Santo e a Palavra de Deus no tempo das promessas

Desde o início até a plenitude dos tempos, a missão conjunta do Verbo e do Espírito Santo permanece escondida, mas em ação. O Catecismo nos ensina que o Espírito Santo prepara o tempo do Messias e os dois, sem serem revelados plenamente, já são prometidos, de modo a serem esperados e acolhidos quando se manifestarem. É por isso que quando a Igreja lê o Antigo Testamento, procura nele o que o Espírito quer nos falar a respeito de Cristo. 

Por “profetas”, a fé da Igreja entende aqui todos aqueles que o Espírito Santo inspirou no anúncio vivo e na redação dos Livros santos, tanto do Antigo como do Novo Testamento. A tradição judaica distingue a Lei (os cinco primeiros livros ou Pentateuco), os Profetas (os livros ditos históricos e proféticos) e os Escritos (sobretudo sapienciais, em particular os Salmos) (cf. Lc 24, 44).      

(CIC, 702)

As Obras do Espírito

Existem certas obras divinas que são atribuídas de maneira especial ao Espírito Santo, ainda que as operações exteriores da Santíssima Trindade sejam comuns às três Pessoas. Como o Espírito Santo procede do Pai e do filho através de sua vontade amorosa, fica claro que as obras atribuídas ou apropriadas ao Espírito Santo estão relacionadas ao amor de Deus para conosco. Cabe falar mais em apropriação do que em atribuição, conforme nos ensina o Padre Trese: 

Acabo de grifar a palavra apropriar, porque esta é a palavra exata utilizada pela ciência teológica para descrever a forma de “dividir” as atividades da Santíssima Trindade entre as três Pessoas divinas. O que uma Pessoa faz, as três o fazem. E, no entanto, certa atividades parecem mais apropriadas a uma Pessoa que às outras.

(TRESE, 1999, p. 90)

Chamamos o Espírito Santo de dom justamente por isso, pois é um conceito que exprime doação, feita de maneira gratuita, sem esperar nada em troca. (cf. Catech. R. 9, 3, 7). 

Ao Espírito Santo apropria-se de maneira especial a vivificação, conforme é relatado na profecia de Ezequiel: “Porei espírito em vós e vivereis” (Ez 37, 6). Além disso, existem sete dons específicos que são apropriados ao Espírito Santo, conforme o Profeta Isaías: “Espírito de sabedoria e inteligência. Espírito de conselho e fortaleza, Espírito de conhecimento e temor do Senhor (Is, 11, 2-3).

Em razão disso, Santo Agostinho ensina que é necessário, ao lermos as Escrituras, saber averiguar se quando o nome de “Espírito Santo” é citado está se falando da Terceira Pessoa da Trindade ou somente de seus dons e obras. Os dois sentidos são diferentes na mesma medida que o são os de Criador e criatura (cf. Catech. R. 9, 3, 8). 

Podemos ainda falar da justificação, que é mais uma graça apropriada de maneira especial ao Espírito. É a justificação que muda a direção de nossas vidas. 

Entendendo estas obras, poderemos mais facilmente compreender as palavras de São Pio X, que diz:

O Espírito Santo, como a alma no corpo, vivifica a Igreja com a sua graça e com os seus dons; estabelece n’Ela o reino da verdade e do amor; e assiste-A a fim de que oriente os seus filhos.

(Catecismo Maior, 141)

Pois é a graça do Espírito Santo que nos justifica e santifica (cf. CIC, 2003).


Referências

  • Catecismo da Igreja Católica; 
  • Catecismo Maior de São Pio X; 
  • Catecismo Romano; 
  • TRESE; Leo John. A fé explicada / Leo J. Trese; tradução de Isabel Perez. – 7ª ed. – 
  • São Paulo: Quadrante, 1999.

Catecismo
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