Aos 7 de maio de 2005 o Papa Bento XVI tomou posse da Cátedra de São Pedro na basílica do Latrão (Roma) e proferiu uma homilia em que responde a quem o considera retrógrado e obstáculo ao bem da Igreja e da humanidade. Seguem-se as partes mais significativas desse valioso documento.
A Cátedra de Pedro é a da Profissão de Fé
“Aquele que se senta na Cátedra de Pedro deve recordar as palavras que o Senhor disse a Simão Pedro durante a Última Ceia: ‘e tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos…’ (Lc 22, 32). Aquele que é titular do ministério petrino deve ter a consciência de que é um homem frágil e débil como são frágeis e débeis as suas próprias forças, constantemente necessitado de purificação e de conversão. Mas ele também pode ter a consciência de que do Senhor lhe vem a força para confirmar os seus irmãos na fé e mantê-los unidos na confissão de Cristo crucificado e ressuscitado. Na primeira carta de São Paulo aos Coríntios, encontramos a narração mais antiga que possuímos da ressurreição. Paulo recolheu-a fielmente das testemunhas. Esta narração fala primeiro da morte do Senhor pelos nossos pecados, da sua sepultura, da sua ressurreição ao terceiro dia, e depois diz: ‘apareceu a Cefas e depois aos Doze’ (1Cor 15, 5). Assim, mais uma vez, é resumido o significado do mandato conferido a Pedro até o fim dos tempos: ser testemunha de Cristo ressuscitado”.
A Palavra de Deus proferida no âmbito vivo da Igreja
“Onde a Sagrada Escritura é separada da voz viva da Igreja, torna-se vítima das controvérsias dos peritos. Sem dúvida, tudo o que eles têm para nos dizer é importante e precioso; o trabalho dos sábios é para nós um grande contributo para poder compreender a sua riqueza histórica. Mas a ciência sozinha não nos pode fornecer uma interpretação definitiva e vinculante; não é capaz de nos fornecer, na interpretação, aquela certeza com a qual podemos viver e pela qual podemos até morrer. Por isso é necessário um mandato maior, que não pode surgir unicamente das capacidades humanas. Por isso é necessária a voz da Igreja viva, daquela Igreja confiada a Pedro e ao colégio dos apóstolos até o fim dos tempos”.
Sem receio de um Soberano Absoluto
“Este poder de ensinamento assusta muitos homens dentro e fora da Igreja. Pergunta-se se ele não ameaça a liberdade de consciência, se não é uma soberba em oposição à liberdade de pensamento. Não é assim. O poder conferido por Cristo a Pedro e aos seus sucessores é, em sentido absoluto, um mandato para servir. O poder de ensinar, na Igreja, obriga a um compromisso ao serviço da obediência à fé. O Papa não é um soberano absoluto, cujo pensar e querer são leis. Ao contrário: o ministério do Papa é garantia da obediência a Cristo e à Sua Palavra. Ele não deve proclamar as próprias idéias, mas vincular-se constantemente a si e à Igreja, à obediência à Palavra de Deus, tanto perante todas as tentativas de adaptação e de adulteração, como diante de qualquer oportunismo”.
Em suma, o Cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI, não tem feito outra coisa senão cumprir a norma deixada por São Paulo a Timóteo: “Guarda o bom depósito” (1Tm 6, 20). Isto implica dizer Não a certas doutrinas e certos modos de agir – o que pode criar choques entre pessoas. Esses choques não se devem a razões meramente pessoais e subjetivas, mas têm sua causa na fidelidade à verdade objetiva; que é a mesma em todos os tempos e não pode ser relativizada segundo os ventos das diferentes culturas e tendências de cada época. Por dizer o Não da fidelidade, o Cardeal Ratzinger tem sido injustamente caricaturado por quem não entende do assunto. Não será a pressão dessas vozes levianas que tomará o Papa Bento XVI infiel à VERDADE. Ele gozará do carisma do Espírito Santo para discernir o lícito e o ilícito e assim acompanhar a humanidade contemporânea, apontado-lhe os caminhos do amor, da Justiça e da Eternidade.