Quando uma criança nasce, sua alma vem ao mundo sobrenaturalmente morta. Ela possui tudo o que é característico da natureza humana, mas nada além disso. Isso se dá por que o casal primordial, Adão e Eva, – que possuíam algo além daquilo que é natural ao ser humano – não puderam conservar a graça que Deus nos queria dar.
Adão possuía a graça santificante, mas a recusou. Pela ânsia de querer ser como Deus, tornou-se pecador. Mas Deus, misericordioso e bondoso, dá a cada um de nós a oportunidade de recuperar aquilo que fora perdido. Para que essa restauração aconteça, Nosso Senhor instituiu o sacramento do batismo[1].
O Sacramento do Batismo é a base da vida cristã. Conforme nos ensina o Catecismo da Igreja Católica em seu Cânon 1213:
O santo Batismo é o fundamento de toda a vida cristã, a porta da vida no Espírito (“vitae spiritualis janua”) e a porta que abre o acesso aos demais sacramentos. Pelo Batismo somos libertados do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo, somos incorporados à Igreja e feitos participantes de sua missão: “Baptismus est sacramentum regenerationis per aquam in verbo – O Batismo é o sacramento da regeneração pela água na Palavra”
Isto é, não podemos falar de cristianismo sem o batismo, pois é ele quem nos introduz no Corpo de Cristo, a Igreja; e sem ele permanecemos nas sombras do pecado original, não integrando a obra redentora de Nosso Senhor. Por isso cabe a nós explicarmos mais a fundo o que é esse sacramento.
O Batismo nas Escrituras
Na liturgia da noite pascal, quando ocorre a benção da água batismal, a Igreja nos faz recordar, de maneira solene, os mistérios da história da salvação que já prefiguravam o batismo[2]. Vemos o batismo sendo prefigurado na Arca de Noé, na travessia do Mar Vermelho e, finalmente, na travessia do Jordão, pela qual o povo de Deus alcançou a terra prometida.
Todas estas prefigurações veterotestamentárias encontram seu cume e propósito no Batismo de Nosso Senhor. Ele dá início à sua vida pública de ter sido batizado por São João Batista no Jordão. Diz o CIC:
Nosso Senhor sujeitou-se voluntariamente ao Batismo de São João, destinado aos pecadores, para cumprir toda a justiça. Este gesto de Jesus é uma manifestação do seu “aniquilamento”. O Espírito que pairava sobre as águas da primeira criação, desce então sobre Cristo como prelúdio da nova criação e o Pai manifesta Jesus como seu “Filho muito amado”[3].
Em sua Páscoa, Cristo abriu as fontes do batismo para todos os homens. Do sangue e da água jorrados do lado de Nosso Senhor, saíram a Eucaristia e o Batismo. Na cruz encontramos nossa fonte de renascimento.
O Batismo na Igreja: Como é o rito? Quem pode ser batizado? Quem pode batizar?
O Batismo é celebrado e administrado pela Igreja desde o Pentecostes. Os Apóstolos tinham como mensagem principal o arrependimento dos pecados, a Fé em Nosso Senhor e o deixar-se batizar. O Apóstolo dizia que, pelo Batismo, o crente comunga na morte de Cristo, é sepultado e ressuscita com Ele[4].
O Rito
Segundo o CIC, a iniciação à vida cristã sempre deverá comportar essencialmente: “o anúncio da Palavra, o acolhimento do Evangelho acarretando uma conversão, a profissão de fé, o Batismo, a efusão do Espírito Santo, o acesso à Comunhão Eucarística”[5]. Esse itinerário irá gerar uma mistagogia na celebração dos sacramentos.
No Batismo essa mistagogia encontra-se no sinal da cruz no início da celebração, que assinala a marca de Cristo naquele que irá pertencer-lhe e nos indica a graça da redenção que nos foi alcançada pela Cruz de Cristo; no anúncio da palavra, que ilumina aqueles que pedem o batismo e suscita neles a proclamação de fé, sem a qual não há a regeneração. Ainda, sendo o Batismo uma libertação do pecado e do demônio, são pronunciados os exorcismos. Com a consagração da água batismal, pede-se que os batizados possam nascer “da água e do Espírito”[6]. Por fim, acontece o Batismo per se, com a imersão ou aspersão, simbolizando[7] a morte para o pecado e a entrada para a vida em Deus[8].
Quem pode receber o sacramento?
Qualquer pessoa que não seja batizada pode receber o sacramento do batismo[9]. Seja a pessoa uma criança ou um adulto, ela só precisa não ser batizada para estar apta e receber o sacramento.
O Batismo Dos Adultos
O Batismo dos adultos, desde os primórdios, é o mais comum em terras de evangelização recente. Dessa forma, o catecumenato (a catequese) ocupa um lugar importante na formação daqueles que desejam abraçar a fé e confessá-la. O catecumenato tem por finalidade levar os catecúmenos à maturidade da conversão e da fé.
O Batismo das Crianças
Diz o CIC:
Nascidas com uma natureza humana decaída e manchada pelo pecado original, as crianças também têm necessidade do novo nascimento no Baptismo para serem libertas do poder das trevas e transferidas para o domínio da liberdade dos filhos de Deus, a que todos os homens são chamados. A pura gratuidade da graça da salvação é particularmente manifesta no Batismo das crianças. Por isso, a Igreja e os pais privariam, a criança da graça inestimável de se tornar filho de Deus, se não lhe conferissem o Batismo pouco depois do seu nascimento.
A criança recebe a graça do batismo através da confissão de fé de seus pais e, com ajuda destes e dos padrinhos, deverá, após o batismo, amadurecer na fé. Do mesmo modo o adulto, não precisa ter uma fé já madura para ser batizado, o batismo é o passo inicial na caminhada rumo a uma fé madura.
Quem pode batizar?
Os ministros ordinários do Batismo são o Bispo, o presbítero e, para nós da Igreja latina, o diácono. Todavia, qualquer pessoa pode ministrar o sacramento do Batismo – em casos emergenciais – até quem não é batizado, desde que tenha a intenção necessária para isso.
O Batismo é necessário?
A doutrina sobre a necessidade do Batismo para a salvação tem sua origem nas próprias palavras de Nosso Senhor[10]. O batismo é necessário para aqueles aos quais o Evangelho foi anunciado e que tiveram a oportunidade de pedir este sacramento. A Mãe Igreja não conhece outro meio além do Batismo para garantir a entrada na bem-aventurança e no projeto redentor. Mas, e aqueles que morrem sem o sacramento?
Podemos de falar de três “espécies” de Batismo: o de desejo – que pode sem implícito ou explícito – e o Batismo de sangue. O Batismo de desejo implícito é aquele possuído pela pessoa que desconhece o Batismo, mas conhece a Deus e quer segui-lo e cumprir com a Sua Vontade. Por outra via, quando a pessoa conhece o Batismo, quer recebê-lo e a ama a Deus, ela possuí o Batismo de desejo explícito e, caso não tenha acesso ao Batismo sacramental até hora de sua morte, o Batismo de desejo lhe será suficiente para alcançar a beatitude eterna.
Por último, há o Batismo de sangue, que foi muito comum nos primórdios do cristianismo. Essa é a forma mais elevada de substituir o Batismo de sacramental. Tanto é que o martírio era considerado por alguns da Igreja Primitiva como uma espécie de sacramento[11]. No Batismo de Sangue, o mártir não batizado recebe a graça da salvação eterna pelo derramamento de seu sangue[12].
Sobre as crianças que morrem sem o batismo, diz o CIC:
Quanto às crianças que morrem sem Batismo, a Igreja não pode senão confiá-las à misericórdia de Deus, como o faz no rito do respectivo funeral. De facto, a grande misericórdia de Deus, “que quer que todos os homens se salvem” (1 Tm 2, 4), e a ternura de Jesus para com as crianças, que O levou a dizer: “Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis” (Mc 10, 14), permitem-nos esperar que haja um caminho de salvação para as crianças que morrem sem Batismo. Por isso, é mais premente ainda o apelo da Igreja a que não se impeçam as criancinhas de virem a Cristo, pelo dom do santo Batismo[13].
Os Efeitos do Batismo
São dois os principais efeitos do batismo, em outros termos, são duas as graças específicas do batismo: a remissão dos pecados e o novo nascimento no Espírito Santo.
Pelo Batismo, todos os pecados são perdoados. Seja o pecado original, ou os pecados pessoais, bem como as penas a eles devidas. Todavia, mesmo depois do Batismo, algumas das consequências do pecado original permanecem: os sofrimentos, a morte, a doença, a concupiscência etc. [14].
Mas o Batismo não perdoa os pecados somente. Além do perdão, ele tem como graça específica a função de introduzir o neófito na paternidade adotiva de Deus, tornando-o membro de Cristo e templo do Espírito Santo[15].
O Batismo e a União dos Cristãos
O Batismo é o laço de comunhão entre todos os cristãos, mesmo entre aqueles que não estão em comunhão com a Santa Igreja Católica. Aqueles pertencentes às outras denominações cristãs, de Ortodoxos a Protestantes, que tenham recebido o sacramento do Batismo de maneira válida, são incorporados a Cristo e reconhecidos pela Igreja como cristãos[16].
Marca Indelével
Ao ser incorporado em Cristo, o batizado se configura a Ele. O selo com o qual o cristão é selado no Batismo é indelével. Não pode ser arrancado por pecado algum. Por isso temos o sacramento da Penitência ou Confissão, o pecado mortal não nos tira a marca do Batismo, mas nos afasta da graça. A Confissão tem por finalidade nos reaproximar da graça, mas ela só tem efeito por termos em nós a marca do Batismo[17].
Os fiéis incorporados à Igreja pelo batismo, recebem o caráter sacramental que os consagra para o culto religioso cristão. O selo batismal impele os cristãos a servirem a Deus e à Igreja em uma participação viva na sagrada liturgia.
Diz o CIC:
O “selo do Senhor” (“dominicus character”) é o selo com que o Espírito Santo nos marcou “para o dia da redenção” (Ef 4, 30). “O Batismo é, efetivamente, o selo da vida eterna”. O fiel que tiver “guardado o selo” até ao fim, quer dizer, que tiver permanecido fiel às exigências do seu Batismo, poderá partir “marcado pelo sinal da fé”, com a fé do seu Batismo, na expectativa da visão bem-aventurada de Deus – consumação da fé – e na esperança da ressurreição[18].
Conclusão
Este é, pois, o sacramento do Batismo. Aquele que nos introduz ao corpo de Cristo, à filiação adotiva, à participação nos sacramentos. Ele é o único sacramento necessário para a salvação. Dito tudo isso, peçamos a graça de vivermos as promessas do nosso Batismo todos os dias de nossa vida.
Salve Maria!
Referências
- TRESE, Leo John. A fé explicada / Leo J. Trese; tradução de Isabel Perez – 7ª ed. – São Paulo: Quadrante, 1999. P. 268
- CIC, 1217
- CIC, 1224
- Rm 6, 3-4
- CIC, 1229
- Jo 3, 5
- Cabe ressaltar que os sacramentos não são símbolos como os outros. Eles têm uma característica que lhes é particular: têm a capacidade de produzir aquilo que simbolizam.
- CIC, 1234 – 1239
- CIC, 864
- Cf. Jo 3, 5
- Vide DANIEL-ROPS, Henri, 1901-1965. A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires / Henri Daniel-Rops; tradução de Emérico da Gama. – São Paulo: Quadrante, 2014 – (Coleção História da Igreja de Cristo). Pp. 189-192
- TRESE, Leo John. Op. Cit. Pp. 287-288; CIC, 1258-1260
- CIC, 1261
- CIC, 1264
- CIC, 1265
- CIC, 1271
- CIC, 1272
- CIC, 1274