Os Métodos de Oração dos Santos

É necessário, que o cristão reserve em seu horário certos intervalos de tempo exclusivamente dedicados à oração, seja vocal, seja mental. A oração mental é de importância capital, consiste em: I. Consideração das verdades da fé — ato da inteligência; II. Excitação dos afetos (amor, gratidão, alegria, arrependimento…) e dos propósitos correspondentes — evitarei tal vício, praticarei tal virtude. Vamos apresentar neste post os métodos de oração dos Santos.

Em linhas gerais, toda meditação compreende prelúdio: colocação na presença de Deus; corpo de meditação: reflexões aptas a despertar convicções e a excitar os afetos da alma, e; conclusão: exprimem-se os afetos, os agradecimentos, formulam-se resoluções práticas.

Múltiplos são os roteiros de oração mental que esmiúçam essas três principais partes da meditação, levando em conta os diversos temperamentos dos orantes. A resposta n. 3 deste fascículo apresentará um quadro dos métodos de uso mais frequente.

Qualquer desses roteiros, minucioso como é, pode espantar a alma, dando-lhe a impressão de cercear a sua liberdade de colóquio com Deus ou fazendo-lhe crer que a oração é algo de complicado. Por isto recomenda-se que, se o orante não é atraído ou beneficiado por algum método, nem por isto deixe de praticar a oração mental: para tanto, ser-vir-se-á de algum livro (de preferência, a S. Escritura; se não, outra obra de piedade), e lê-lo-á pausadamente, fazendo o possível para aprofundar e saborear o sentido das respectivas frases. A quem procura a Deus desse modo, o Espírito Santo não deixará de corresponder; cedo ou tarde, suscitará luzes e afetos frutuosos no íntimo do orante.

Tal exercício deverá estender-se ao menos por quinze minutos ao dia no início da vida espiritual; após os primeiros passos, porém, é de desejar que meia-hora por dia lhe seja consagrada.

Referindo-se à oração, Santa Teresa d’Ávila lembra que certas pessoas (seja por temperamento, seja por cansaço, seja por provação divina) não a conseguem realizar no sentido rigoroso da meditação. Recomenda então a leitura meditada:

A leitura, por breve que seja, constitui grande auxílio para que nos consigamos recolher. É mesmo necessária a fim de substituir a oração mental, que as almas nem sempre podem realizar.

(Vida c. 4)

A mesma santa dá o seguinte testemunho pessoal, que pode ser animador para não poucas pessoas:

Durante dezoito anos, jamais ousei colocar-me em oração sem um livro, a não ser depois da Comunhão… O livro… servia-me, por assim dizer, de companheiro. Era um escudo que me protegia contra os dardos das numerosas distrações. Era meu consolo. A aridez (espiritual) não se prolongava continuamente. Mas, caso o livro me faltasse, eu recaia nela… O livro era, para mim, como a isca que sustentava a minha alma. Muitas vezes mesmo era-me suficiente abrir o livro; em certos casos, eu lia um pouco; em outros casos, lia muito, de acordo com a graça que o Senhor se dignava de conceder-me.

(Vida c. 4)

Não há dúvida, por leitura Santa Teresa entende um exercício não meramente intelectual, mas uma atividade tanto do intelecto como da vontade (amor) e das faculdades afetivas postas à procura de Deus.

Em suma, nota Santa Teresa que os progressos na vida de oração dependem muito mais do amor que a alma nutre em relação a Deus e ao próximo, do que da inteligência e do estudo:

Se alguém quer realizar sérios progressos nesse caminho (da oração) … o importante não é pensar muito, mas amar muito.

(O castelo interior, 4a morada, c. 1)

Segue-se um quadro dos métodos de meditação mais utilizados na espiritualidade contemporânea. Tais roteiros poderão tornar-se frutuosos para muitas almas; contudo nunca deixarão de ser meros meios. Desde que sufoquem a espontaneidade do orante ou entravem a ação do Espírito Santo, perdem sua razão de ser, devendo ceder a táticas mais condizentes com as necessidades pessoais do cristão interessado.

Recensearemos os métodos de S. Inácio, S. Sulpício, S. Francisco de Sales, S. Afonso de Ligário, S. João Batista de la Salle e o carmelitano.


1. Método de S. Inácio

A. Preparação

  1. Colocação do orante na presença de Deus e ato de adoração.
  2. Purificação da intenção : o orante dispõe-se a meditar a fim de melhor servir a Deus.
  3. Prelúdios:
    • histórico: breve recordação do episódio (geralmente, do S. Evangelho) a ser meditado;
    • imaginativo: composição do lugar (reconstituição do quadro local) do episódio;
    • suplicante: pedir de antemão a graça que se quer alcançar como fruto da meditação.

B. Corpo da meditação

  1. Aplicação da memória: recordar-se do tema previamente escolhido para a meditação, assim como das circunstâncias que o possam ilustrar.
  2. Aplicação da inteligência: mediante reflexão, aprofundar o tema escolhido; prever as conclusões práticas a deduzir e os meios de remover os obstáculos respectivos.
  3. Aplicação da vontade: exprimir a Deus as disposições que a reflexão tenha suscitado no orante; deduzir propósitos práticos referentes a um aspecto particular da vida espiritual.

C. Conclusão

  1. Colóquio : diálogo íntimo com o Senhor Deus.
  2. Pedido de graça divina para o orante e para o próximo.
  3. Exame do valor da meditação efetuada.

Pai Nosso, Ave Maria, Alma de Cristo…

Este método, à primeira vista muito complexo, pode ser apresentado de maneira bem simples: reduz-se à idéia de colóquio… Colóquio que seria o diálogo afetivo e confiante da alma com Deus, após a contemplação de um episódio do S. Evangelho ou a reflexão sobre uma passagem da S. Escritura.


2. Método de São Sulpício

A. Preparação próxima

  1. Colocar-se na presença de Deus.
  2. Unir-se a Jesus Cristo.
  3. Invocar o Espírito Santo.

B. Corpo da meditação

  1. Adoração (Jesus diante do olhar da mente) :
    • considerar Nosso Senhor no episódio escolhido para a meditação; contemplar seus atos, escutar suas palavras, compreender seus sentimentos de alma;
    • o orante exprime ao Senhor os seus próprios sentimentos : admiração, adoração, louvor, agradecimento, amor, alegria, compaixão.
  2. Comunhão (Jesus no coração) :
    • persuasão: o orante considera a importância da virtude contemplada em Jesus Cristo;
    • reflexão: o orante procura tomar consciência de quanto está afastado do Modelo Divino; exprime sua contrição pelas falhas passadas, sua confusão pelo que diz respeito ao presente, seu desejo de melhorar para o futuro;
    • súplica: o orante pede ao Espírito Santo aqueles mesmos sentimentos que ele contemplou no Cristo Jesus. A fim de corroborar a sua prece, apela para a glória de Deus, a santidade da Igreja, a bondade do Pai, as promessas do Filho…— Pede as mesmas graças para o próximo.
  3. Cooperação (Jesus nas mãos) :
    • tomar uma resolução concreta;
    • o orante se oferece ao Espírito Santo para que Este o ajude a cumprir o propósito formulado.

Conclusão

  1. Agradecer luzes e graças recebidas.
  2. Pedir perdão pelas distrações e infidelidades.
  3. Ramalhete espiritual (ideia dominante ou jaculatória a ser mentalmente revolvidas pelo orante, no decorrer do dia).

Para terminar, colocar-se sob a proteção da Virgem SS. recitando a invocação «Sub tuum praesidium».

Mesmo este método minucioso se pode reduzir a três pontos simples:

  • Jesus diante dos olhos
  • Jesus no coração
  • Jesus nas mãos

Ou ainda:

  • Jesus contemplado
  • Jesus amado
  • Jesus atuando em nós e através de nós.

3. Método de S. Francisco de Sales

A. Introdução

  1. Colocação do orante na presença de Deus:
    • Deus presente em todas as criaturas (pela sua ação conservadora);
    • Deus presente nas almas justas (pela graça santificante);
    • Deus presente no céu (pela visão face a face concedida aos bem-aventurados);
    • Deus presente no SS. Sacramento.
  2. Invocações para obter a graça de boa oração, dirigidas
    • a Deus,
    • ao anjo da guarda do orante,
    • aos santos.
  3. Consideração rápida do tema previamente escolhido para a meditação, e composição do lugar (reconstituição das circunstâncias do episódio), se o tema o exige ou sugere.

B. Corpo da meditação

  1. Reflexão: a alma procura compreender adequadamente o sentido do episódio do Evangelho ou da Palavra de Deus.
  2. Afetos: a alma esforça-se por exprimir algumas das disposições que lhe tenham sido sugeridas pelas considerações precedentes : amor a Deus e ao próximo, zelo, compaixão, admiração, temor a Deus, ódio ao pecado, etc.
  3. Resoluções: o orante procura tirar uma ou mais conclusões práticas que sirvam ao seu progresso espiritual.

C. Conclusão

  1. Agradecimento.
  2. Pedido de bênção divina para o orante e para o próximo em geral.
  3. Ramalhete espiritual.

4. Método de S. Afonso de Ligório

A. Preparação

  1. Ato de fé e de adoração.
  2. Ato de humildade e de contrição.
  3. Pedido de luzes.
  4. Ave Maria.

B. Corpo da meditação

  1. Breves reflexões : pensamentos acompanhados de atos de fé (se necessário, com o auxilio de um livro).
  2. Afetos: exprimir, de acordo com a oportunidade, disposições de amor, confiança, humildade, contrição, resignação.
  3. Súplica: implorar luzes, a perseverança final e principalmente o dom do santo amor.

C. Conclusão

  1. Agradecer a Deus.
  2. Tomar as resoluções oportunas.
  3. Pedir a graça de as cumprir devidamente.

5. Método de S. João Batista de la Salle

A. Disposição da alma (procura de recolhimento)

  1. Exercício da presença de Deus:
    •  Deus presente no lugar em que nos encontramos — porque está presente em toda parte — porque está onde dois ou três discípulos se reúnam em seu nome;
    • Deus presente em nós — porque n’Ele temos a vida, o movimento e o ser (cf. At 17,28) — porque habita na alma pela graça santificante;
    • Deus presente na igreja — porque a igreja é a casa do Senhor e nela se acha o SS. Sacramento.
  2. Atos de piedade:
    • três atos referentes a Deus : fé, adoração, agradecimento;
    • três atos referentes a nós mesmos : humildade, reconhecimento da culpa, contrição;
    • três atos referentes mais particularmente a Cristo: apelo aos méritos de Jesus Cristo, ato de união a Cristo, invocação do Espírito de Cristo.

B. Aplicação da alma ao tema da meditação

  1. Ato de fé em Nosso Senhor- que nos ensina a virtude pelo seu exemplo e a sua palavra.
  2. Atos de adoração a Nosso Senhor, cuja transcendente santidade se revela através de seus exemplos e ensinamentos.
  3. Atos de agradecimento a Nosso Senhor pelo amor do qual nos dá o exemplo e a lição.
  4. Ato de reconhecimento da culpa, visto que muito longe nos achamos daquilo que Nosso Senhor espera de nós.
  5. Ato de contrição.
  6. Ato pelo qual aplicamos a nós mesmos a doutrina de Nosso Senhor e procuramos formular uma resolução.
  7. Ato de união ao Espírito de Nosso Senhor.
  8. Ato de súplica pelo qual pedimos ao Senhor a graça – de realizarmos o que Ele espera de nós. .
  9. Ato de invocação dos santos, para que nos venham em auxílio.

C. Agradecimento da alma

  1. Análise da meditação.
  2. Ação de graças pelas luzes recebidas.
  3. Oferta das resoluções tomadas.

Entrega do orante à tutela da Virgem SS. mediante o «Sub tuum praesidium».


6. Método carmelita

A. Introdução

  1. Preparação : pensar em Deus, excitando atos de amor, com humildade e confiança.
  2. Recordar-se da finalidade da oração: fazer que o orante se torne um pouco mais amigo do Senhor, O Qual se serve dessa amizade para derramar suas graças sobre o mundo.
  3. Se necessário, fazer breve leitura da Bíblia Sagrada ou das máximas dos santos.

B. Corpo da meditação

  1. Mediante um ato de fé, colocação na presença da humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo.
  2. Reflexão sobre um episódio do S. Evangelho ou sobre uma palavra de Jesus.
  3. Colóquio afetivo ou contemplação em silêncio.

C. Conclusão

  1. Agradecimento pelos múltiplos benefícios divinos.
  2. Oferecimento de todas as faculdades do orante ao serviço de Deus.
  3. Escolha de uma resolução firme e pedido da graça necessária para lhe ser fiel.
Comments (1)
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  • Bianca

    Olá!
    Eu gostaria de ter as fontes dos seis métodos apresentados para aprofundar meus estudos.
    É possível me enviar?
    Paz e bem! 🙂