Por «direção espiritual» entende-se o auxílio que alguém — geralmente um sacerdote — proporciona a outra pessoa a fim de a fazer progredi-la na vida de união com Deus.
A direção propriamente dita supõe certa continuidade; conselhos esporádicos não merecem tal designação. — Também não basta a simples confissão sacramentai feita assiduamente ao mesmo sacerdote; embora a direção seja frequentemente dada no confessionário, supõe, da parte do dirigido, mais do que a acusação dos pecados: o dirigido abre, por completo, a alma ao diretor, manifestando-lhe suas tendências positivas e negativas, suas dificuldades e aspirações; em troca, espera receber as luzes e os incentivos que o encaminhem para mais elevada santidade.
Por muito oportuno que pareça este instrumento de perfeição, têm-se levantado dúvidas sobre o seu verdadeiro valor. Examinaremos, pois, qual a mente da Igreja a propósito.
1. Necessária ou não?
Há quem duvide da utilidade da direção espiritual, apoiando-se nos seguintes argumentos:
a) Tal prática pode concorrer para criar ou entreter nas almas hábitos infantis ou mesmo deformados, os quais desfiguram, em vez de nobilitar, a personalidade.
Assim, sob o pretexto de procurar direção espiritual, alguém se tornaria introspectivo, tendente a chamar a atenção para si mesmo, com vã complacência e vaidade. Faria perder tempo ao diretor espiritual, ocupando-o com bagatelas e questões secundárias, que só se tornam «problemas» porque se lhes dá atenção.
b) A direção pode degenerar em uma espécie de tirania por parte do diretor. Caso este seja dotado de vontade prepotente, intervirá com autoridade em assuntos que não são da sua alçada, sufocando a liberdade e a iniciativa do dirigido; poderá mesmo prejudicar a ação do Espírito Santo nas almas, efeito este totalmente contrário ao que visa a direção espiritual.
Ponderando, portanto, tais inconvenientes, certos autores desaconselham a direção espiritual.
Tal conclusão negativa, porém, não corresponde à mente da Santa Igreja. Esta julga, de um lado, que os perigos apontados podem ser devidamente removidos e que, de outro lado, os benefícios resultantes da direção espiritual anda são muito mais pon derosos do que os riscos enunciados. É o que se verá no parágrafo abaixo.
2. «Sim!… Porque…»
1. Quais seriam então os argumentos valorizados pelo magistério da Igreja em favor da direção espiritual?
— Ei-los em poucas palavras:
O testemunho da Sagrada Escritura.
A Bíblia mostra que uma das grandes características do proceder divino é «guiar os homens mediante os homens»; assim Javé confiou seu povo, no Antigo Testamento, a Moisés e aos profetas. A Heli Ele entregou a tutela de Samuel, e a este a direção do rei Saul.
Tomando carne humana, o Filho de Deus tratou de maneira humana com aqueles que o interpelaram, propondo a cada qual a orientação no respectivo caso; assim fez a Nicodemos, à Samaritana, ao jovem rico, a Natanael e aos Apóstolos em geral. Conhecia suas ovelhas de per si, «chamando cada qual pelo nome» (cf. Jo 10,3), «discernindo o que há dentro do homem» (cf. Jo 2,25).
É principalmente nos inícios da história da Igreja que se manifesta como a Providência se serve do instrumento dos homens; mandou, sim, Paulo recém-convertido ter com Ananias para receber as ordens de Deus; mandou São Pedro à casa do centurião Cornélio, a fim de introduzir a este e à sua família na comunhão dos fiéis; enviou, com o mesmo objetivo, o diácono Filipe ao encontro do eunuco da Etiópia. São Paulo, por fim deixou cartas «pastorais» a Timóteo e a Tito, além do bilhete a Filemon, que bem podem ser equiparados a escritos de direção espiritual.
Estes poucos traços bíblicos insinuam quanto é consentâneo com o processo de santificação das almas o regime da direção espiritual.
Ao ensinamento da Escritura Sagrada associa-se:
O testemunho dos Sumos Pontífices
O documento mais importante a tal propósito fica sendo a carta «Testem benevolentiae» do S. Padre Leão XIII ao Cardeal Gibbons (22 de janeiro de 1899). O Pontífice aí tratava do Americanismo, tendência naturalista que, negando o valor da obediência, exaltava uma pretensa docilidade «às inspirações interiores do Espírito Santo», com menosprezo dos conselhos de um diretor espiritual. Observava então o S. Padre:
«Rejeitam (os modernos) toda direção espiritual, como se fosse supérflua e quase inútil para quem quer tender à perfeição cristã; o Espírito Santo, dizem, derrama hoje em dia nas almas fiéis dons ainda mais ricos e abundantes do que outrora; Ele as ilumina e dirige,, sem intermediário, por uma espécie de instinto secreto. Ora seria assaz temerário querer fixar os limites das comunicações de Deus com os homens…
Firme esta verdade, não há quem negue que o Espírito Santo trabalha nas almas justas de maneira misteriosa e as estimula com as suas inspirações e os seus impulsos; se assim não fosse, todo auxílio e todo magistério extrínsecos ficariam vãos… Mas (é a experiência mesma quem no-lo ensina) essas advertências e moções do Espírito Santo, na maioria dos casos, são percebidas mediante o auxílio e o preparo oferecidos pelo magistério extrínseco… A lei geral da Providência dispôs que os homens fossem, via de regra, salvos por outros homens e que também os que Ela chama a mais elevado grau de santidade, fossem guiados por outros homens até esse termo… É preciso considerar outrossim que aqueles que tendem a maior perfeição, pelo fato mesmo de enveredarem por via desconhecida à maioria das almas, estão mais expostos a se enganar e, em consequência, mais do que os outros necessitam de mestre e guia.
Estas ideias têm norteado constantemente a praxe dos cristãos; têm sido unanimemente professadas por todos os que, no decorrer dos séculos, vêm brilhando pela ciência e a santidade, de tal modo que ninguém as poderia rejeitar sem incorrer em temeridade e perigo» (Acta Sanctae Sedis 31, 474s).
À guisa de breve comentário, pode-se observar que a direção espiritual, neste texto, é apresentada
– como algo de tradicional na Igreja;
– como necessidade decorrente da inexperiência das almas chamadas à santificação e à perfeição sobrenaturais (e — note-se bem — não há quem não se deva julgar chamado à santidade e à perfeição: «Sede perfeitos como o Pai celeste é perfeito», diz a todos os homens o Senhor Jesus em Mt 5,48).
Seria, sim, temerário quem presumisse reconhecer com exatidão os seus diversos estados de alma, de modo a dispensar as luzes de um mestre familiarizado com as vias de Deus. Quantos e quantos não se têm enganado a respeito dos fenômenos que se dão em sua vida espiritual, confundindo reações nervosas com visões e profecias, cedendo à soberba e à autossuficiência, como se já estivessem muito adiantados, etc.! Perdem tempo, esbanjam a graça de Deus, tornando-se muitas vezes vítimas de Satanás…
Após Leão XIII, o Papa Pio XII recomendou eloquentemente a direção espiritual, levando de novo em conta a mentalidade moderna e as objeções levantadas por nossos contemporâneos contra tal prática. Eis o que escrevia S. Santidade na exortação «Menti Nostrae», expondo o valor da direção para os próprios seminaristas e sacerdotes:
«Entrando na vida espiritual e caminhando por ela, não confieis demais em vós mesmos, mas com humildade e simplicidade aceitai os conselhos e pedi o auxílio daqueles que, com sábia discrição, vos podem guiar e de antemão anunciar os perigos que vos ameaçam, indicando-vos outrossim os remédios adequados; em todas as dificuldades interiores e exteriores, eles estarão habilitados a vos orientar com retidão e propósito, e a vos dirigir ao encalço de uma santidade cada vez mais sublime, santidade para a qual vos convidam e chamam os exemplos dos santos e os ensinamentos abalizados dos mestres da ascese cristã. Com efeito, sem esses prudentes diretores de consciência, é muito difícil corresponder devidamente às inspirações do Espírito Santo e da graça divina» (Acta Apostolicae Sedis 42 [1950] 674).
Adiante no mesmo documento S. Santidade estimulava também os diretores espirituais:
«Desejamos dirigir a nossa exortação paterna de modo particular aos sacerdotes que, com humildade e ardente caridade, se esforçam pela santificação de seus irmãos a titulo de conselheiros, confessores ou diretores espirituais. O bem incalculável que eles fazem à Igreja, permanece, na maioria dos casos, oculto; será manifesto, porém, .no grande dia, na glória do reino de Deus. Há poucos anos, e com grande alegria, concedemos as supremas honras do altar ao sacerdote de Turim José Cafasso, o qual em tempos muito difíceis foi o guia espiritual, sábio e, ao mesmo tempo, santo, de numerosos sacerdotes, sacerdotes que ele fez progredir na virtude e cujo santo ministério ele tornou maravilhosamente fecundo; com plena confiança esperamos que, pelo poderoso patrocínio de tal santo, nosso Divino Redentor suscite numerosos sacerdotes dotados de igual santidade, os quais saberão guiar a si mesmos e dirigir seus irmãos para tal perfeição de vida que os fiéis, admirando seus exemplos, se sintam estimulados a imitá-los com generosidade» (Acta Apostolicae Sedis ib. 681).
As palavras de Leão XIH e Pio XII podem ser tidas como a resposta que a S. Igreja dá à questão : é recomendável ou não. a direção espiritual? O elevado valor que os Sumos Pontífices atribuem a esta, toma-se tanto maior quanto mais elevado é o grau de perfeição a que uma alma se destina. E, já que ninguém pode contentar-se com a mediocridade ou deixar de aspirar à santidade (não há meio-termo entre «querer ser santo» e «deixar-se ficar no pecado»; quem não aspira diretamente à santidade, recua na vida espiritual e facilmente cai no pecado), deduz-se que todas as almas hão de estimar grandemente a direção ministrada por um mestre perito: sacerdotes, religiosos e religiosas, assim como leigos e seculares, são assim exortados pela suprema autoridade da Igreja a que, na medida do necessário e do possível, procurem a orientação de um diretor espiritual, principalmente nas grandes encruzilhadas e opções da vida.
Um canal de Santificação
A necessidade de direção pode variar de acordo com as diversas fases de vida de cada um dos interessados; há, sem dúvida, épocas que mais a exigem (assim os inicios da vida espiritual, os da vida claustral regular, os períodos de graças divinas mais esmeradas, às quais é preciso dar maior atenção…, os de tentações especiais…, tribulações e provações…); em outras fases poder-se-á admitir direção mais espaçada e pálida. — Saiba-se, porém, que a direção não é, de um lado, uma exceção ou um recurso extraordinário nem, de outro lado, um meio de necessidade constante e equiforme para todas as pessoas e todas as épocas. Ela é, sim, um necessário canal de santificação.
Podem-se apontar alguns tipos de personalidade, para os quais se faz mais premente a necessidade de direção:
– as pessoas dadas à escrupulosidade;
– as pessoas de temperamento fogoso, que fàcilmente se deixam levar aos extremos;
– as almas que o Senhor chama de modo especial à vida de união e que precisam de ser tranquilizadas, principalmente nos períodos de provações dolorosas.
Poder-se-ia asseverar que alguém, pelo fato de não procurar receber direção espiritual, comete pecado? — É preciso responder que não. A pecaminosidade da omissão há de ser avaliada à luz das circunstâncias próprias e dos problemas de cada pessoa; o critério para se dizer se há pecado ou não (e, no primeiro caso, se há pecado grave ou leve) é o risco de esbanjar a graça de Deus e frustrar o. ideal sobrenatural, risco a que alguém se sujeita quando se quer guiar por si mesmo. Pode haver períodos de vida mais ou menos longos em que não surjam grandes problemas religiosos; nessas fases entende-se que alguém não procure diretor espiritual. Pode haver também períodos atribulados, sim, por problemas espirituais, períodos, porém, nos quais o Senhor Deus não suscita a pessoa do diretor espiritual adequado para tal alma (não qualquer diretor é idôneo para qualquer alma, como se dirá adiante); nesses casos a ausência de direção espiritual não constitui pecado. Só se pode falar de culpa em tal setor, na medida em que há, por parte das almas, negligência ou descaso da perfeição espiritual.
As normas acima se tornam ainda mais dignas de ponderação desde que se leve em conta a advertência do Pe. Godinez:
«Dentre mil pessoas que Deus chama à perfeição, dez apenas lhe correspondem; e, dentre cem que Deus chama à contemplação, noventa e nove frustram o convite… É preciso reconhecer que uma das causas principais desse estado de coisas é a falta de mestres espirituais… Estes são, depois da graça de Deus, os pilotos que guiam as almas através do desconhecido mar da vida espiritual. E, se nenhuma ciência, nenhuma arte, por simples que seja, pode ser aprendida sem mestre, muito menos se pode aprender sem mestre a elevada sabedoria da perfeição evangélica, na qual se encontram tão profundos mistérios…» (Awisi e Sentenze Spirituali: Del Maestro spirituale).
Em conclusão pode-se dizer que a via normal para se fazerem progressos na vida espiritual consiste em seguir os conselhos de sábio diretor. Fora dos casos normais, existem os excepcionais e extraordinários, também regidos pela Providência Divina, casos, porém, que não se podem tomar como padrão.
Se não for dado a uma alma encontrar o diretor oportuno, não desista de o procurar; antes do mais, ore para que Deus o suscite. Enquanto a Providência não lho apresenta, saiba que nem por isto sua vida espiritual está condenada à estagnação e perplexidade; não há fase alguma neutra ou destituída da graça necessária para que as almas bem intencionadas se santifiquem cada dia mais. Na falta, portanto, de um diretor, a alma sincera procurará tirar o máximo proveito dos meios de santificação que lhe estejam à disposição : os sacramentos, a leitura do S. Evangelho, da S. Escritura e de livros de doutrina segura; a oração praticada de acordo com as inspirações do Espírito Santo… O Senhor Deus dispensa os tesouros de sua graça como quer, mas é certo que os dispensa sempre; valorize, pois, cada alma os instrumentos de santificação que estão ao seu alcance em cada momento, e não estará perdendo tempo.
Poder-se-ia ainda citar longa série de documentos de Papas, concílios ou autoridades eclesiásticas que muito recomendam a direção espiritual. Bastam, porém, os que foram aqui transcritos para não deixar dúvida sobre a mente da Igreja no tocante a tal assunto.
Inegavelmente, será sempre necessário levar em conta os perigos de abuso apontados pelos adversários da direção espiritual. As perdas de tempo, a introspecção mórbida, a vaidade… poderão ser evitadas pela observância das normas a ser enunciadas na resposta n° 3 deste fascículo.
Quanto ao perigo de prepotência por parte do diretor, será superado não somente pela fidelidade a essas mesmas normas, mas também por uma tomada de posição esclarecida diante da questão abaixo:
3. Voto de obediência ao diretor?
Antes do mais, considere-se que a direção espiritual pertence à esfera da orientação e dos conselhos, não à dos mandamentos; portanto os alvitres do diretor não se impõem, nem se podem impor, como preceitos; a violação desses alvitres em si não é pecado; só se tornaria pecado, caso a matéria violada fosse matéria de pecado ou caso o transgressor as violasse com desprezo formal do bem.
Em outros termos: o diretor não é por si o superior do dirigido; sobre este ele não possui poder de jurisdição; por conseguinte não deve tratar o dirigido como um súdito, ao qual ele possa dar ordens sem apresentar razões (é claro, porém, que há casos nos quais não convém que o diretor dê explicações ao dirigido).
O diretor há de ser tido, antes, como um conselheiro, cuja autoridade lhe vem toda da livre escolha feita pela alma dirigida. — As relações entre diretor e dirigido se desenvolvem num clima de liberdade; ao executar as normas dadas pelo diretor, o dirigido fica sendo responsável pelos atos que ele assim pratica.
O diretor também não é o senhor despótico das almas, habilitado a guiá-las como queira; é, sim, mero instrumento do Espírito Santo, consistindo o seu papel apenas em ajudar o dirigido a discernir os desígnios do Espírito de Deus.
Contudo acontece que, a exemplo de alguns santos, certas almas desejam fazer voto de obediência ao-diretor espiritual. Julgam que assim estarão mais obrigadas a seguir os caminhos da perfeição. Será tal voto recomendável?
— Não; em si mesmo, tal voto não é recomendável.
As razões da inconveniência são, em grandes linhas, as seguintes:
a) o voto de obediência afeta a noção mesma de direção espiritual. Esta se baseia num magistério ou em relações de mestre (diretor) a discípulo (dirigido); tais relações, suposto o voto, passam a ser relações de superior a súdito, o que facilmente provoca situações de constrangimento, situações bem diferentes daquelas em que a direção espiritual se deve desenvolver;
b) os motivos que inspiram ao dirigido a emissão do voto de obediência ao diretor, podem não ser sempre sobrenaturais: algo de neurótico ou psicopatológico (escrupulosidade indevida, insegurança no agir, imaturidade…) talvez tenha sua influência em mais de um caso; o voto entretém essa situação neurótica; fecha a alma numa atitude de passividade exagerada, entravando o devido amadurecimento da personalidade.
Também uma ponta de erotismo ou de amor desregrado pode por vezes sugerir o voto.
Admitem-se, porém, situações excecionais em que o voto é justificado por inclinações próprias e legítimas da alma do dirigido (desejo de morrer mais inteiramente a si mesmo, por exemplo). Ao consentir então na emissão do voto, o diretor cuidará para que se estenda por prazo de curta duração e tenha matéria bem determinada (versará sobre tais conselhos…, proferidos em tais circunstâncias…).
Conhecem-se casos famosos, e bem sucedidos, de voto de obediência ao diretor espiritual: são, por exemplo, o de S. Teresa de Ávila ao Pe. Graciano da Mãe de Deus; o de S. Joana Frémiot de Chantal a S. Francisco de Sales; o da ursulina Maria da Encarnação a Raimundo de S. Bernardo e, posteriormente, a Jerônimo Lallemant; o de Adelaide Cicé ao Pe. Pierre de Clorivière. Referem-se, porém, casos infelizes, como o da própria S. Joana de Chantal, da qual narra o seu biógrafo:
«Contente por ter essa santa ovelha nas mãos, (um religioso férvido) resolveu ligá-la à sua direção por quatro votos: pelo primeiro, ela professava obedecer-lhe; pelo segundo, … jamais mudar de diretor; pelo terceiro, … ser-lhe fiel, guardando o segredo a propósito de tudo que ele lhe dissesse; pelo quarto, … só tratar da sua vida interior com o respectivo diretor» (Fr. de Chaugy, Mémoires sur la vie et les vertus de J. — Fr. de Chantal, Ire. p., ch. 10, em «Oeuvres complètes» da Santa, t. 1. Paris 1874, pág. 44).
Quem fez o voto «do mais perfeito» (isto é, de praticar sempre o que seja mais perfeito), obriga-se à docilidade total para com o diretor; note-se, porém, que não se trata, no caso, de um voto de obedecer ao diretor, mas de tender a maior perfeição mediante maior renúncia a si mesmo.
Pode alguém fazer a Deus o voto de ser dócil ao diretor espiritual, obriga-se então a seguir o alvitre do diretor todas as vezes que este seja definitivo. Tal voto não altera as relações normais entre o dirigido e o diretor, nem liga diretamente um ao outro.
Em conclusão: as restrições feitas ao voto de obediência ao diretor espiritual não são, de modo algum, restrições à direção como tal; visam, ao contrário, fazer que esta se desenvolva com toda a pureza e integridade.