«Diz-se que a graça supõe a natureza. Seria possível então descrever as notas que caracterizam respectivamente a natureza do varão e a da mulher, a fim de que cada um possa compreender melhor o que deve desenvolver e o que deve mortificar em si mesmo?»
Não há dúvida, o Senhor Deus houve por bem criar não somente o ser humano como tal, mas também as diferenças que caracterizam o tipo masculino e o tipo feminino. A ação da graça, que purifica e santifica, não destrói essas diferenças, mas, ao contrário, leva-as em conta e as utiliza. Em consequência, vê-se que o Santo e a Santa devem ter cada qual sua faceta própria; derivada, ao menos em parte, do respectivo sexo.
É, pois, importante, que todos tenham consciência das notas características da psicologia ou da personalidade do varão e da mulher, a fim de que cada cristão saiba quais as manifestações de caráter genuínas que ele há de procurar desenvolver e quais as não genuínas, que ele há de tentar reprimir na sua luta cotidiana.
Atendendo a essa finalidade, vai aqui proposta uma tentativa de caracterizar o tipo humano masculino e o tipo feminino. O ensaio baseia-se nos estudos de famosos autores modernos ; contudo não pretende ser irreformável; servirá ao menos para chamar a atenção dos interessados para certas particularidades de psicologia cujo conhecimento consciente se poderá tornar muito útil na prática.
Distinguiremos particularidades psíquicas, particularidades morais e comportamento perante os vícios capitais, apoiando- -nos na obra de L. Rossetti: Pratica di caratterologia religiosa. Torino 1961, pág. 202-209.
1) Particularidades Psíquicas
1.1 Particularidades psíquicas do varão
O varão é geralmente portador de iniciativa; é cabeça, ponto de partida.
O varão é feito para adquirir e conquistar pela luta.
O varão possui dons para as tarefas de rendimento máximo e imediato.
O varão possui talento criador, dado às invenções, às descobertas e às produções de arte.
O varão se impressiona ou empolga ràpidamente, mas não se deixa ficar muito sob a influência das impressões.
No varão costumam prevalecer a razão e a força da lógica. 6 dado à abstração e às fórmulas universais.
O varão procura averiguar as causas e deduzir as leis que regem, os fenômenos.
O varão, aderindo às ideias, pode fàcilmente descuidar-se da realidade. Ele se sacrifica por uma ideia.
O varão possui o senso do verdadeiro.
O varão tende a dominar a fantasia mediante a vontade.
O varão prefere o trabalho independente, mostrando-se geralmente muito eficaz.
O varão, antes de agir, tende a examinar a tarefa com espírito critico; analisa os «prós» e os «contras», assim como os obstáculos; a seguir, põe-se à obra de maneira metódica.
O varão em geral refreia e domina a loquacidade.
O varão, mais dado à lógica, vê e acusa mais fàcilmente o mal que cometeu (suposto que consiga vencer á soberba, a qual nele é muito forte, como adiante se dirá).
1.2 Particularidades psíquicas da mulher
A mulher desempenha mais propriamente a função de continuar.’
A mulher recebe, conserva e desenvolve (fecunda).
A mulher é feita para as tarefas de longa duração.
A mulher é menos propensa às criações e invenções..
A mulher é mais lenta ao colher as impressões, mas guarda por mais tempo o que ela colheu.
A mulher se deixa guiar muito mais pela intuição; tende a considerar diretamente o concreto e singular, como ele existe na realidade. É muito mais movida pelo afeto do que pelo raciocínio frio.
Na mulher, o desejo de saber não procura tanto as causas das leis, mas, sim, asexperiências novas, às vezes com certa curiosidade e com o gosto do sensacional.
A mulher possui mais sentido prático da vida. Ela se sacrifica por uma pessoa.
Em consequência, sabe melhor adaptar-se a situações especiais, e compreende mais fàcilmente as finuras e particularidades tanto das pessoas como dos acontecimentos.
A mulher possui o senso do bem e do belo.
A mulher é muito mais sujeita à fantasia, que nela se manifesta mais vivaz e exuberante.
A mulher se dá melhor no trabalho dependente, costumando executar fielmente os encargos a ela confiados.
A mulher, no trabalho, fàcilmente se deixa guiar por motivos de coração, que às vezes não lhe são de todo conscientes. Por isto é um tanto volúvel.
A mulher é dotada de loquacidade muito viva e impulsiva.
A mulher tende a esquivar-se à acusação de si mesma. Caso se perverta, pode tornar-se muito mais perversa do que o homem.
Fàcilmente deixa-se persuadir, mas dificilmente deixa-se dissuadir
2) Particularidades Morais
2.1 Particularidades morais do varão
Dado o seu instinto de independência e domínio, o varão encerra em sl forte dose de amor próprio, que, degenerando, pode converter-se em brutal egoísmo.
A autoridade é, para o varão, a ocasião de manifestar o que ele é; dai as dificuldades que experimenta na obediência religiosa.
As virtudes mais características do varão podem ser representadas pelas do cavaleiro.
No varão o instinto sexual é dotado de grande veemência, movido em grande parte por fatores e impulsos fisiológicos.
Por isto a castidade pré-matrimonial exige dele maiores sacrifícios do que da mulher.
Também a santificação do matrimônio requer do varão maiores lutas do que da mulher.
O varão não se sente tão ligado aos que ama; pode ser pai e não viver com os filhos. A sua vida tem dois planos : o da família e o do trabalho.
O varão estima a popularidade e a glória tributada pelos homens àqueles que se projetam na vida pública.
O varão, em virtude do seu caráter reto e liso, é fàcilmente inclinado à amizade sincera e duradoura para com os seus semelhantes.
A história de todos os povos aponta casos de profunda e genuína amizade entre varões
2.2 Particularidades morais da mulher
A mulher tem em si a consciência de ser companheira do homem. Isto a leva fàcilmente a prestar auxílio e complemento. Daí também se origina nela a tendência a amar, a compadecer-se e a sacrificar-se.
A mulher é mais espontânea- mente altruísta
As virtudes mais características da mulher são as que o sentimento materno em si inclui.
Na mulher o instinto sexual é mais governado por fatores psíquicos (pelo amor, pela necessidade de amar e de ser. amada) do que por fatores físicos.
Em consequência, a mulher pratica mais fàcilmente a continência pré-nupcial e a fidelidade conjugai. Contudo a sua grande emotividade a torna mais apaixonada do que o homem em questões de amor.
A mulher adere mais Intimamente aos familiares. É o elemento de coesão da família.
O «senso do lar» é, para ela, como que um outro «eu». Por isto a mulher entregue a tarefas masculinas fora de casa está um tanto deslocada.
A mulher renuncia à glória propriamente dita, não, porém, a «dois olhos que a admirem». Daí os requintes artificiais da sua ornamentação pessoal.
Pode atravessar crises psíquicas e sentimentais por causa do seu desejo de chamar a atenção.
A mulher, propensa a ser admirada, mais fàcilmente satisfaz a sua sede de amizade procurando contato com o varão.
A história raramente indica a existência de grandes amizades entre as mulheres.
3. Vícios Capitais
SOBERBA
Homem: No varão existe forte tendência à soberba, que se deriva de exagerada e ilusória consciência do próprio valor. Tende a manifestar-se em autoritarismo despótico, na propensão a crer que sempre tem razão (faz tudo para não «dar o braço a torcer»).
Mulher: Na mulher, a propensão à soberba é mitigada. Exprime-se antes do mais, na vaidade.
A mulher deseja dominar principalmente mediante o amor
AVAREZA
Homem: A avareza é mais rara no varão do que na mulher. Geralmente desenvolve-se na velhice.
Mulher: A mulher é mais sujeita à avareza, dada a sua inclinação às v coisas pequenas e às meticulosas tarefas de dona de casa.
LUXÚRIA
Homem: É vicio predominantemente masculino, em consequência dos veementes instintos do varão.
Mulher: A luxúria é menos forte na mulher.
INVEJA
Homem: Afeta menos o varão do que a mulher. Quando aparece no homem, é multas vezes provocada pelo orgulho ou pelo desejo de exercer o primado nos negócios e o comando nas empresas.
Mulher: A inveja é um mal que mais ameaça a mulher, por causa da índole vaidosa que a marca.
INTEMPERANÇA
Homem: Defeito predominantemente masculino, dada a forte sensualidade do homem e a liberdade de que costuma gozar na sociedade.
Mulher: Manifesta-se na mulher sob a forma de gula. Por causa do temperamento, a mulher pode frequentemente mostrar-se descontente com o que tem, e pretensiosa.
IRA
Homem: Expressão do caráter masculino, derivada do orgulho.
Mulher: Na mulher, manifesta-se a ira sob a forma de «rompantes» desarrazoados,… principalmente, porém, sob a forma de obstinação ou teimosia.
PREGUIÇA
Homem: Tem lugar no homem mais do que na mulher, induzindo-o a procurar suas «comodidades» e alimentando-lhe o egoísmo inato.
Mulher: É defeito mais raro nas mulheres, que a ele cedem geralmente quando dotadas de caráter apático ou indiferente.
As considerações assim propostas visam focalizar a realidade. Não há dúvida, toda generalização arrisca-se a cometer erros, a exagerar ou caricaturar. Não obstante, não nos furtamos a apresentar a tabela precedente, pois pode servir de ponto de partida para reflexões construtivas, assim como para a formulação de normas práticas na procura da perfeição religiosa.