(Por: Scott Hahn — St. Paul Center. Tradução por: Petter Martins) Bem antes de subir a via íngreme para o Calvário, Jesus disse a seus discípulos como nossa ressurreição aconteceria: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente.” (João 6,51).
E o que é esse pão? Jesus nos diz na mesma linha: “E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo” (João 6,51).
Não é de surpreender que seus ouvintes judeus considerassem este plano de ressurreição decididamente inóspito. “Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne?” eles perguntam (João 6,52).
Então, Jesus diz algo ainda mais específico:
Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
(João 6, 53–56)
Mais tarde, na Quinta-feira Santa, no Cenáculo, Ele nos mostra como isso é possível, segurando primeiro o pão e depois o cálice, dizendo: “Este é o meu corpo… Este é o cálice do meu sangue…“, e ordenou aos Doze que “fizessem isso em memória de mim“. No grego original do evangelho de Lucas, a palavra que traduzimos como “memória” é anamnese, o que significa muito mais do que simplesmente “lembrar“; sugere uma maneira de recordar eventos passados de modo que efetivamente eles se tornem presentes. Em outras palavras, você não está repetindo a ação do passado; você está entrando nessa mesma ação.
Portanto, quando Jesus diz aos apóstolos que “façam isso em memória de mim“, ele está ordenando que eles ofereçam o que ele ofereceria no dia seguinte, no Calvário, e oferecerá eternamente no céu. Eles não estão repetindo o sacrifício. Eles não podem. Você não pode repetir o que nunca acaba. Eles estão fazendo presente a própria oferta perpétua de Jesus Cristo.
Os apóstolos nos permitem participar do Sacrifício da Nova Páscoa.
Na Eucaristia, consumimos o Cordeiro de Deus como os israelitas consumiam o cordeiro sacrificial. O Cordeiro de Deus é o Cristo ressuscitado. Em toda missa, consumimos o corpo ressuscitado e glorificado de Jesus sob a aparência de pão e vinho. Comemos a carne e bebemos o sangue do Deus que se tornou homem, morreu e ressuscitou. O corpo que comemos é o mesmo que estava pendurado na cruz, deitado na tumba e que depois ressuscitou dos mortos. Esse corpo também é o mesmo corpo que atravessou paredes, que poderia estar com os discípulos Emaús num minuto e em Jerusalém no minuto seguinte, e depois subiu ao céu para sentar-se à direita do Pai.
Porém, Deus não ressuscitou Jesus dentre os mortos e depois o recebeu de volta ao céu na Quinta-feira da Ascensão, a fim de mantê-lo escondido atrás de algum trono celestial, a salvo de todos os homens mortais maus. Jesus também não subiu ao céu para se proteger ou se esconder do mundo no santuário de seu Pai. Na verdade, a ascensão de Jesus faz dEle o santuário. Faz dEle o lugar de refúgio para todos que acreditam nele. Também faz dEle o eterno sumo sacerdote, que pode se oferecer para sempre, e sempre se doar, sempre se comunicar conosco.
Como nosso sumo sacerdote, Jesus agora está sempre se oferecendo. E na Santa Missa, como membros de seu corpo, adotados na família de Deus através do batismo, estamos sempre recebendo-o. Essa recepção torna possível o que Jesus prometeu há muito tempo: que quem comeu sua carne e bebeu seu sangue não pereceria, mas teria a vida eterna. Na Santa Comunhão, Ele entra em nossos corpos mortais, para que, por sua vez, possamos entrar em seu corpo glorificado e imortal.
Quando comemos um hambúrguer, pizza ou maçã, esse hambúrguer, pizza ou maçã se torna parte de nós. Nós assimilamos estes alimentos em nossos corpos. Mas quando consumimos o Corpo e o Sangue de Jesus na Sagrada Comunhão, acontece exatamente o oposto. Em vez de nós assimilarmos Jesus em nossos corpos, Ele nos assimila ao seu corpo. Ele não se torna parte do nosso corpo. Nós nos tornamos parte do corpo dEle.
É através deste misterioso intercâmbio de Graça que a Eucaristia se torna a causa instrumental de nossa Ressurreição. A Eucaristia age em nossas almas como alimento e remédio, alimentando-nos com a vida de Deus, curando nossas almas dos efeitos do pecado venial e nos transformando, dia após dia, em santos. É a Eucaristia que nutre nossas almas, fortalece nosso compromisso com a vida da Graça e nos une a nossos irmãos, formando-nos corporativamente no Corpo de Cristo. Por fim, é a Eucaristia que impregna nosso corpo mortal com a capacidade de ser divinizado, glorificado e ressuscitado no Corpo de Cristo. Como o Catecismo coloca, a Eucaristia é “a semente da vida eterna e o poder da ressurreição” (CIC 1524).
É por isso que quase todas as aparições de Cristo ressuscitado nas Escrituras acontecem no contexto de uma refeição, e quando o dia é nomeado, num domingo. Essas aparições — no caminho de Emaús, no Cenáculo, na Praia — têm implicações eucarísticas. Jesus parte o pão com seus apóstolos e alimenta seus apóstolos e, ao fazê-lo, ele nos ajuda a entender que a ressurreição transforma seu corpo em algo que agora é distribuível, comunicável e comestível. Seu corpo foi glorificado e sua humanidade deificada e, ao entrar em nós, cria a capacidade dentro de nós de ser glorificado e deificado, e também de ressuscitar no último dia.