Prossigamos, meu caro irmão, na meditação do grande mistério da anunciação e da encarnação do Divino Verbo. Esse mistério é repleto de ensinamentos, e não consigo encontrar em todo o Santo Rosário outro mais sublime. Nele se concretiza a promessa que Deus fez aos nossos primeiros pais logo após a queda, porque Deus, em sua infinita bondade, e sem que lhe fosse necessário fazê-lo, resolveu redimir o homem por Ele amado. Deus não se tornou mais perfeito por ter redimido o homem, tampouco exige sua perfeição que tivesse criado todas as coisas. Tudo o que Deus fez foi por pura bondade, para que as criaturas dotada de alma pudessem desfrutar de sua perfeita felicidade. Sim, anjos e humanos, unidos pela Caridade no coração da Santíssima Trindade! As criaturas em nada aumentam a felicidade de Deus, nem seus ultrajes lhe diminuem a glória. Deus basta-se a si mesmo. Deus nos deu a vida para que partilhássemos de sua Vida. Sejamos sempre gratos por isso. Amém.
Já vimos a causa da perturbação de Maria Santíssima ao ouvir tão sublime saudação, e agora meditaremos a resposta do anjo a esse fato. O anjo disse à Maria que não temesse, pois havia encontrado graça diante de Deus.
Aqui se esconde mais um mistério. Que quis o anjo dizer com “encontraste graça diante de Deus”? Pode parecer simples, mas é muito mais profundo do que o que aparenta.
A Igreja afirma algo que todos nós devemos crer como verdade de Fé: Maria Santíssima, no momento de sua concepção no ventre de Santa Ana, foi preservada da mácula do pecado original que pesa sobre todas as criaturas humanas. Deus preservou aquela que estava destinada a ser Mãe do Divino Verbo em atendimento aos próprios méritos de Cristo, pois sabe Deus desde o princípio que o Filho amado em tudo se submeteria a sua santa vontade para redimir os homens decaídos. Assim é que os méritos que Cristo Homem adquiriria no futuro foram aplicados para redimir a Virgem Maria no momento de sua concepção. Sim, pois se redime não somente por levantar o que foi caído, mas também por preservar da queda, pelo que podemos dizer que até os anjos que não pecaram foram redimidos.
Para Deus, não existe o ontem e o amanhã. Ele está acima do tempo; por isso o chamamos de o Eterno. Tudo para Deus se passa num mesmo instante. Deus olhando a realidade temporal é como o homem que contempla um imenso quadro que retrata toda a história das criaturas. Esse quadro é demasiadamente grande! Os seres humanos não são capazes de percorrer a sua totalidade ainda que tentem por toda a vida. Na verdade, um homem de ciência esforça-se a vida toda e considera-se vitorioso se conseguir captar apenas um fragmento disso. E mais vitorioso ainda será se por meio dessa ciência conseguir alcançar aquilo que mais importa, que é a união com Deus. Eis a grandeza da ciência de Deus! Nada há que fuja do seu conhecimento. Todas as coisas existem n’Ele, e toda a realidade se encontra na palma de sua mão.
Santo Afonso de Ligório aponta vários motivos pelos quais convinha à Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, preservar Maria Santíssima da nódoa do pecado original. Julgo que essa meditação é importantíssima. Não que precisemos disso para confessar desde já que Maria foi concebida sem pecado, pois basta-nos a Fé em tudo aquilo que ensina a Santa Mãe Igreja para isso, mas porque a compreensão dos motivos, tanto quanto nos é possível, é um salutar fortificante de nossa Fé e um meio sublime de crescer na contemplação da verdade, que é o fim para o qual fomos criados.
Ao Pai Eterno convinha preservar Maria Santíssima da culpa original por quatro motivos.
O primeiro motivo é que Maria Santíssima é considerada a primogênita dentre todas as criaturas, e isso se fundamenta no livro sapiencial que diz:
Eu saí da boca do Altíssimo, a primogênita antes de todas as criaturas.
(Eclo 24, 5)
Quando nos divinos decretos estabeleceu Deus que o Verbo Eterno haveria de tomar a forma humana, no mesmo ato decidiu que o Filho haveria de nascer de uma mulher humana, e assim preparou desde toda a eternidade a Virgem Maria. Não importa se isso se deu ou não pela previsão do pecado, pois tanto escotistas como tomistas são acordes em por isso chamar a Virgem de primogênita entre todas as criaturas.
O segundo motivo é que Maria Santíssima foi incumbida de uma missão muito sublime: ser a reparadora do mundo perdido e a medianeira de todas as graças.
Ao longo de toda a história da Igreja, muitos santos se dirigiram à Virgem Maria sob os títulos de reparadora do gênero humano, corredentora e medianeira de todas as graças. O testemunho de tantos santos como S. João Damasceno, S. Bernardo de Claraval, S. Basílio e S. Efrém nos inspira a confiança para crer do mesmo modo.
Sendo a Virgem Maria reparadora e corredentora do gênero humano e medianeira de todas as graças de Deus, é necessário que nunca tivesse Ela mesma estado na inimizade de Deus pelo pecado. A ira de Deus paira sobre todos os homens marcados pela mancha do pecado. Eles estão privados da Graça Santificante. É bem por isso que as crianças devem ser batizadas o mais cedo possível. Tal como no Antigo Testamento a criança recebia o selo da aliança pela circuncisão, na Nova Aliança a criança recebe o selo do Espírito Santo pelo batismo, sendo salva pela Fé de seus pais. Mas como seria a Virgem Maria corredentora do gênero humano se sobre ela estivesse a ira de Deus por um momento sequer de sua existência?
O terceiro motivo é que Maria foi destinada por Deus a triunfar sobre a serpente infernal.
Deus, ao declarar que haveria de conceder à humanidade a reparação dos pecados, disse à serpente infernal que colocaria inimizade entre ela e a mulher (Gn 3, 15). É necessário atentar-se a isso. Deus não disse que colocaria inimizade entre a serpente e o homem. Não há aqui nenhuma sombra de mistério. O termo homem sempre foi usado se referir ao gênero humano como um todo. Com efeito, dizemos que “o homem é mau” ou que “o homem destrói a natureza”, não querendo com isso fazer menção somente aos seres humanos do sexo masculino, mas a todo o gênero humano. Não se ouve dizer “a mulher é má” querendo com isso se referir a todo o gênero humano. Ao se dizer isso, quer referir-se unicamente a uma maldade específica dos seres humanos do sexo feminino. A conclusão que disso se tira é que Deus, ao dizer que colocaria inimizade entre a mulher e a serpente, não se refere a todo o gênero humano, mas a uma mulher especificamente. E quando diz que irá colocar inimizade entre a serpente e a descendência dessa mesma mulher, faz alusão a um grupo específico de seres humanos, isto é, os filhos daquela mulher.
Nos Evangelhos, vemos que Jesus Cristo sempre se dirigiu à Maria Santíssima como mulher, ao passo que os evangelistas a tratavam como mãe de Jesus. Não se encontra nesses escritos uma única vez que Cristo tenha se dirigido a Maria como mãe. Até mesmo na cruz, ao dirigir-se à Maria Santíssima para dá-la em maternidade espiritual a toda a humanidade, Jesus a chama de mulher. É interessante isso, porque o evangelista no mesmo versículo se refere a Maria por duas vezes como mãe de Jesus:
Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho.
(Jo 19, 26)
Por que todos chamavam Maria como mãe de Jesus, ao passo que o próprio Cristo a ela se referia somente como mulher? Era tão marcante esse modo de tratar a própria mãe que todos os evangelistas registraram da mesma forma, sem qualquer variação de termo. Cristo se dirigia assim à Maria Santíssima para indicar que ela é a mulher que Deus profetizou logo após a queda do homem. Portanto, Maria é a mulher em quem Deus colocou inimizade contra a serpente, e essa inimizade existe somente entre aqueles que podem ser chamados descendentes de Maria.
Sendo Maria Santíssima essa mulher que tem por selo uma inimizade inconciliável com a serpente infernal, não é possível que creiamos que ela tenha estado por um momento sequer na amizade dessa mesma serpente, o que só é possível pelo pecado. Ou se está em amizade com Deus ou se está em amizade com o diabo. O meio termo não existe. É impossível, pois, que Maria Santíssima tivesse sido manchada pela nódoa do pecado original, ainda que pelo mais breve momento de sua existência. Quando se fala em pecado, não há nem que se pensar no nome de Maria.
O quarto motivo é a eleição da Virgem Santíssima para mãe do Divino Redentor.
Um dos livros sapienciais afirma, e com muita razão, que “a glória dos filhos são os pais” (Pr 17, 6). Ninguém há que, tendo o mínimo de prudência, possa negar que é preferível a uma pessoa nascer de pais pobres ou ignorantes a ser tido por vil de nascença. Ter pais comprometidos com imoralidades conhecidas por todos é uma grande vergonha para qualquer pessoa.
Deus, podendo dar ao amado Filho a criatura mais nobre por Mãe, daria por acaso uma mulher que tivesse sido manchada pelo pecado? Daria Deus a Satanás ocasião de zombar do Divino Salvador acusando-o de vil nascimento? Que aqui ninguém se engane! Nós daríamos graças a Deus se nossa mãe segundo a natureza fosse muito santa, e por certo ignoraríamos o fato de que foi concebida em pecado, porque todos partilhamos da mesma maldição. Mas a Cristo, santo e perfeitíssimo, Deus de Deus, Luz da Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, não se daria da mesma forma, pois o que aqui está em jogo é muito mais elevado.
Aqui devemos ir além para compreender que não há graça no mundo que algum santo tenha tido e que Maria Santíssima não teve mil vezes mais. Se quisermos uma comparação, teríamos que a glória de todos os santos, sejam eles humanos ou anjos, diante da glória da Virgem Maria, é como uma fagulha diante da resplandecência do sol. Que pode iluminar uma fagulha em um campo iluminado pelo sol do meio dia? Não podemos fazer ideia da santidade de Maria Santíssima!
Cabe aqui ainda outra reflexão. Deus que preservou os anjos do Céu da ruína e que gerou Adão e Eva sem qualquer mancha de pecado não poderia ter preservado a Virgem Maria no intento de preparar para o seu Filho uma habitação terrena que lhe fosse digna? Não foi o corpo de Maria Santíssima o templo não construído por mãos humanas que abrigou o Divino Verbo por quarenta semanas? Ademais, não foi da carne e do sangue de Maria Santíssima que Deus fez para si um corpo humano? Seria próprio que tal carne e tal sangue tivessem sido manchados pelo pecado?
De fato, é inconcebível que Deus procedesse de modo distinto. Qualquer pensamento em contrário rebaixa Deus em sua perfeição, e por isso mesmo deve ser considerado herético e blasfemo, pelo que devemos professar com toda a Fé que Maria Santíssima foi concebida sem pecado. Amém.
Mas como dissemos, não somente a Deus-Pai convinha preservar Maria da mancha do pecado original. Também o Filho e o Divino Espírito tiveram seus motivos para tal.
O que se pode destacar do Filho é que Ele, podendo fazer para si uma mãe ilibada, certamente não tomaria por mãe aquela que tivesse conhecido o pecado. Há algo em Cristo diferente de todos os demais seres humanos que é a capacidade de ter escolhido para si uma mãe e um pai. Costumamos nos referir a S. José como pai adotivo de Cristo, mas seria mais correto que o chamássemos de pai adotado, pois não foi ele quem escolheu Cristo por filho, mas este que o escolheu por pai. O mesmo se sucede com a Virgem Maria. Cristo não só pôde escolher para si uma mãe, como Ele mesmo a criou, uma vez que Ele é o Verbo Eterno pelo qual todas as coisas foram criadas.
No entanto, o que mais me chama atenção nesse ponto é que Cristo, sendo Deus, é o mesmo que deu ao povo de Israel um mandamento que diz: “honra teu pai e tua mãe”. Esse mandamento é tão importante que a ele está associada a primeira promessa do decálogo, que é “para que teus dias se prolonguem sobre a terra que te dá o Senhor, teu Deus” (Ex 20, 12). Além disso, esse mandamento é o primeiro que versa sobre o amor que é devido ao próximo, e foi disposto por Deus antes mesmo da proibição do assassinato. Deus está nisso mostrando que o que devemos a nossos pais é mais do que o que devemos a todos os demais seres humanos em termos de honra. O motivo é simples: os pais nos deram o dom da vida, e nada há que podemos fazer para recompensá-los na justa medida. Pode se tratar do pior pai do mundo: sem ele, você ainda estaria no nada, sem qualquer esperança de um dia gozar a felicidade de Deus no Céu.
Ora, é possível crer que aquele que escreveu essa lei não honrasse sua mãe tanto quanto lhe fosse possível? Meu caro irmão, responda-me com sinceridade: estando em seu poder preservar sua mãe ou seu pai do pecado original, você teria deixado de fazê-lo? Se você, sendo mal, faria isso por amor de seus pais, o que dizer do Divino Verbo, que sabe amar mais as pedras do que nós seres humanos sabemos amar o nosso semelhante?
Considero que não me é necessário perscrutar os demais motivos apresentados nesse ponto por Santo Afonso de Ligório. Até aqui, somente uma obstinação muito grande ou um medo demoníaco é capaz de mover uma pessoa a permanecer negando essa realidade. Só me restaria rezar por essa alma.
Por fim, devemos dizer que também ao Divino Espírito Santo convinha preservar Maria de toda a mancha do pecado, uma vez que a elegeu por esposa. O Divino Espírito Santo é Deus, Deus puríssimo e santíssimo, amor que emana do coração do Filho para o Pai e do Pai para o Filho. É ele o Espírito que dá a vida e que falou pelos profetas. É Ele a alma da Santa Igreja. É para ter concedido-o por dom a todos aqueles que crêem que Jesus Cristo padeceu os tormentos da cruz.
Esse Divino Espírito aproximou-se de Maria Santíssima quando ela disse o seu fiat. Chamou-a de minha esposa, minha pombinha, minha predileta, e prometeu amá-la para todo o sempre. Disse-lhe coisas misteriosas, de como a havia amado desde o princípio, e de tudo o que fez para naquele momento tê-la toda para si. Vendo o coração da Virgem se dilatar de amor, tocou-a com intimidade. Em um ato misterioso, místico, milagroso, tomou as entranhas de sua doce esposa arrebatada em êxtase e delas criou um corpo para o Divino Redentor. Teria o Divino Espírito Santo feito o mesmo se não a tivesse antes preservado de toda a mácula?
Meu irmão, você já consegue compreender os parâmetros que Deus estabelece? Já consegue entender que Ele, Rei dos reis e Senhor dos senhores, só nos aceita a nós por sua infinita bondade? De fato, somos como que pobres mendigos que clamam pelo pão na frente do palácio. Nunca nos consideremos dignos da presença de Deus, mas tenhamos sempre esperança em sua bondade e não desperdicemos uma oportunidade sequer de retribuir sua generosidade.
O que pretendo eu falando todas essas coisas a respeito da Imaculada Conceição da Virgem Maria? Tento revelar o mistério contido nos dizeres do anjo: “encontraste graça diante de Deus”.
Até aqui ficou claro que Maria sempre foi cheia de graça, pois desde o momento de sua concepção excedeu a todas as demais criaturas em glória, pureza e santidade. Como pôde ter a Santa Mãe de Deus “encontrado” graça se sempre a teve?
Na oração da Salve Regina, a Igreja se refere a Nossa Senhora como vida. O que é a vida, na acepção mais profunda, senão a união com Deus pelo vínculo da perfeita Caridade? É por isso que as Sagradas Escrituras se referem a todos aqueles que vivem em pecado como que mortos. Sobre estes paira a justa ira de Deus, e se morrerem nesse estado, estarão fadados ao inferno, que é a privação de Deus, fonte da vida e tudo o que nela há de bom e belo. Ademais, o homem em pecado está privado da Graça Santificante, que é o dom do Espírito Santo concedido aqueles que crêem. Sem a Graça Santificante, o homem não vive segundo o fim para o qual foi criado, e eu penso que seria melhor a tal homem nunca ter nascido. Quando a Igreja se dirige à Virgem Maria como vida, quer com isso dizer que somente por seu intermédio podemos encontrar a vida, que é a Graça do Espírito Santo pela qual somos feitos filhos e filhas de Deus.
Que aqui ninguém se escandalize! Muitos santos ensinam que somente e tão somente por intermédio da Virgem Maria pode o homem encontrar a vida, que é a Graça do Espírito Santo. O próprio Espírito deixou isso claro quando demonstrou nos Evangelhos que sem o consentimento da Virgem Maria o Divino Verbo não teria vindo ao mundo. Cristo que veio ao mundo por meio de Maria só aceitará aqueles que estão no mundo se estes d’Ele se aproximarem por meio dela. Sendo ela uma pura criatura humana, ao contrário de Cristo que é Deus, é ela a ponte que conecta os homens com a humanidade de Cristo, que é o autor da Graça.
Não sei se é possível responder de forma definitiva porque as coisas foram dispostas desse modo. Quem indaga o porquê de Deus ter procedido dessa forma diante da hipótese de que podemos recorrer diretamente a Cristo está questionando os desígnios do próprio Deus. O mesmo Deus que fez para Adão um corpo do pó da terra, sem que a princípio houvesse nesse corpo qualquer pecado, não poderia ter feito o mesmo em relação ao Verbo Divino? É certo que poderia! Não o fez porque não quis, e esse é o motivo cabal. Mas sabemos que a vontade de Deus não é arbitrária, mas conforme toda a perfeição e bondade, de modo que podemos entender que o modo mais perfeito pelo qual Deus poderia redimir o homem foi por ele adotado.
Pois bem, se a Igreja se refere a Maria Santíssima como vida, ao passo que o anjo disse a ela que havia encontrado graça diante de Deus, temos que a explicação mais razoável para isso é que Maria Santíssima não encontrou graça para si, pois sempre a teve em abundância, mas para todo o gênero humano. É por isso que a Igreja coloca nos lábios de Maria Santíssima as seguintes palavras:
Feliz o homem que me ouve e que vela todos os dias à minha porta e guarda os umbrais de minha casa! Pois quem me acha encontra a vida e alcança o favor do Senhor.
(Pr 8, 34-35)
Disso tudo a lição que nos fica é que se procuramos a Graça de Deus, que é o dom pelo qual alcançamos a salvação e a santificação já nessa vida, devemos recorrer à Maria Santíssima todos os dias de nossa vida, e um dos modos mais perfeitos de fazê-lo é por meio do Santo Rosário, ou ao menos do Santo Terço.
A pobre alma que se vê privada da vida da Graça por algum pecado que tenha cometido, ou mesmo a que esteja vindo de uma longa vida de pecados, não tem o porquê amargar a falta de esperança diante de tão consoladora perspectiva. A essa alma nada mais recomendável que recorrer à Maria Santíssima, honrando-a por meio de leituras espirituais, pequenas preces ao longo do dia e o Santo Terço muito bem meditado. Essa alma deve chamar Maria Santíssima pelos títulos de Mãe de Deus, Advogada dos Pecadores e Mãe Auxiliadora. É certo que a Virgem Maria não tardará em vir para socorrer, alcançando da parte de Deus todas as virtudes necessárias para que a alma possa se desprender dos pecados que a privam da vida da Graça, fazendo n’Ela surgir o mesmo Cristo que o Divino Espírito gerou em seu ventre virginal.
Além disso, todos nós, que embora a caminho da santidade somos pecadores e por vezes levados de um lado para o outro pelos ventos impetuosos das paixões, devemos sempre recorrer a Maria Santíssima se quisermos nos manter na vida da Graça. Sem o auxílio dessa Mãe poderosíssima é quase certo que sucumbiremos diante da prova. Temamos, pois, pelo dia que deixamos de oferecer a Ela nossas preces e de honrá-la com a récita do Santo Terço, pois esse é o dia escolhido pelo diabo para minar o caminho de nossa salvação.
Guardemos sempre no coração as palavras de S. Bernardo:
“Procuremos a graça, mas a procuremos por meio de Maria”.
E você, meu caro irmão, o que tem feito diante da queda? Tem se entregado à tristeza, ao desespero, ao desânimo? Tem aceitado os maus pensamentos de que não há salvação em Deus para você? Tem dado ouvidos às dúvida? Não, meu caro irmão, não aconteça isso com você, pois você é um filho de Maria Santíssima.
Meu amado, eu exorto você a nesses momentos, e até mesmo antes, quando a tentação vier ao seu encontro, invocar a Santa Mãe de Deus. Diga com toda a confiança aquela antiga oração conhecida como a primeira prece da Igreja à Virgem Maria, e que se chama sub tuum praesidium:
À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém.
Faça isso, invocando também os méritos de Cristo na cruz, e você verá como a Virgem Maria não tardará em vir como Mãe Auxiliadora que é, seja bendita para sempre. Amém.
Espero que com a graça de Deus possamos nos encontrar novamente para prosseguir a meditação desse mistério, e espero que você já tenha conseguido perceber quantas lições importantíssimas devemos aprender na escola do Santo Rosário.
Que Deus abençoe a todos e ao apostolado Cooperadores da Verdade.