A Oração pelos Mortos é Antibíblica?

A prática de orar pelos mortos é frequentemente criticada por alguns grupos protestantes que a consideram “antibíblica”. Mas seria isso verdade? Uma análise séria das Escrituras e da história da Igreja mostra que não.

Uma prática universal, não exclusiva do catolicismo romano

A oração pelos mortos não é uma invenção católica medieval. Pelo contrário, trata-se de uma prática universal e antiquaíssima entre os cristãos. Até mesmo os judeus, antes da vinda de Cristo, já intercediam pelos falecidos, como testemunha o Segundo Livro dos Macabeus.

O testemunho de II Macabeus

Em II Macabeus 12,42-46, lemos que Judas Macabeus, ao encontrar soldados mortos com amuletos pagãos, orou por eles e organizou uma coleta para que se oferecessem sacrifícios expiatórios em Jerusalém. O texto é claro:

“Fez com que se oferecesse um sacrifício expiatório pelos mortos, para que fossem livres de seus pecados” (2 Mac 12,46).

Esse trecho demonstra que a crença na eficácia da oração pelos defuntos fazia parte da fé judaica vivida nos tempos de Cristo.

É verdade que os protestantes rejeitam o Segundo Livro dos Macabeus como canônico. No entanto, não podem negar seu valor histórico. Trata-se de um documento que atesta uma prática comum e aceita entre os judeus, e portanto, é altamente provável que Jesus e os Apóstolos estivessem familiarizados com essa tradição.

O Novo Testamento e a oração por Onesíforo

No Novo Testamento, encontramos indícios claros dessa prática. Em 2 Timóteo 1,16-18, São Paulo diz:

“O Senhor conceda misericórdia à casa de Onesíforo (…). O Senhor lhe conceda, naquele Dia, encontrar misericórdia diante do Senhor.”

Note-se que Paulo usa o tempo passado ao referir-se a Onesíforo, ao passo que saúda diretamente os outros irmãos. Em 2 Timóteo 4,19, ele menciona novamente “a casa de Onesíforo”, sem cumprimentar o próprio Onesíforo. Por isso, muitos estudiosos conclui que Onesíforo já havia falecido, e Paulo estava orando por ele. Trata-se, portanto, de um exemplo claro de intercessão por um fiel falecido, exatamente como fazemos ainda hoje na Igreja.

A Tradição viva da Igreja

Além das Escrituras, temos também a Tradição da Igreja, que sempre conservou a oração pelos mortos como expressão de caridade cristã. Desde os primeiros séculos, encontramos registros nas catacumbas, nas liturgias e nos escritos dos Padres da Igreja, mostrando que os cristãos ofereciam preces, Missas e sufrágios pelos fiéis defuntos.

Conclusão: Uma prática bíblica, histórica e caridosa

A oração pelos mortos não é antibíblica. Ela está presente nas Escrituras, alicerçada na Tradição e vivida desde os primeiros cristãos. É uma manifestação de amor, de esperança e de comunhão com aqueles que partiram na graça de Deus, mas que ainda aguardam a purificação final para entrar plenamente na bem-aventurança eterna.

Como disse São João Crisóstomo: “Não hesitemos em socorrer os que partiram e oferecer as nossas orações por eles”.

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