Em nosso último encontro, recomendei-te que começasse a oferecer uma Ave-Maria em honra à Santa Mãe de Deus todos os dias ao despertar e antes de dormir.
Acredite-me que essa não foi uma recomendação a esmo, mas uma prática profundamente significativa e determinante para a tua constância em tudo aquilo que a grande maratona da vida espiritual vai exigir.
Antes de tudo, é necessário saber que a nossa vida espiritual tem início no Batismo, e isso acontece porque por meio dele recebemos a Graça, que é o dom de Deus pelo qual nossos pecados são perdoados e nossos atos passam a ter um valor especial, dando-nos diante de Deus aquilo que a Igreja chama de méritos. Também por meio da Graça crescemos nas três virtudes mais importantes da vida espiritual, que são a Fé, a Esperança e a Caridade, e são essas as virtudes, trabalhadas até a máxima excelência, que santificam uma alma.
Se um dia lhe perguntarem o que faz um S. Francisco de Assis, um Sto. Antônio de Pádua, uma Sta. Teresa D’Ávila, um Sto. Padre Pio, responda confiantemente, sem qualquer medo de errar: a Fé, a Esperança e a Caridade!
Uma vez batizados e estado de Graça, precisamos nos comprometer a abandonar o pecado mortal, e esse propósito deve abranger todos os pecados mortais (sem nenhuma exceção) pelo resto de nossas vidas!
Muito poderia se falar disso, mas devo dizer-te que não fazê-lo é o mesmo que pretender, dentro de um casamento, comprometer-se a ser muito bom para a sua esposa em tudo, exceto na fidelidade conjugal. Seria absurdo propor isso a uma mulher, e todos dariam razão à mulher que se recusasse a permanecer no convívio conjugal se o marido estivesse resolvido a manter suas amantes, mas há quem pense que é absurdo da parte de Deus exigir isso de nós.
O elo que nos une a Deus e à vida eterna é a Graça, e esse elo só pode ser rompido por meio do pecado mortal. É chamado mortal porque tem por conseqüência a morte da alma, que é o rompimento de seu relacionamento com Deus em um ato de profunda inimizade. Espero que até aqui já tenhas tomado a consciência que estar em estado de graça é a primeira regra do jogo!
Como eu disse, muito poderia se falar sobre esse assunto, e esse é um tópico realmente necessário a ser estudado por todos aqueles que iniciam a preparação para a grande corrida. Já imaginou preparar-se com afinco e consistência por anos e anos para ser desclassificado da maratona por infringir uma regra básica durante a competição? Digo-te que, ainda que sejas o melhor atleta dentre todos os participantes, o juiz não será condescendente com erros tão elementares e certamente te desclassificará.
Portanto, o que devo recomendar-te é que abras o Catecismo da Igreja Católica e passes a meditar todos os dias os textos contidos a partir do § 1.691, pois ali estão não somente as regras do jogo, mas o motivo pelo qual as mesmas foram instituídas. Ao final, espero que sejas capaz de ver a ordem e a beleza de todas essas coisas, de modo a poder dizer, assim como pude eu, que realmente deve ser assim.
Se preferires aprofundar-te no assunto por meio de aulas (eu mesmo prefiro que me expliquem oralmente tudo aquilo que me recomendam ler), podes entrar em contato comigo pelo direct do Instagram (@aduccineto). Possuo materiais excelentes e gratuitos sobre o assunto e ficaria muito feliz em compartilhar!
De tudo isso, posso dizer-te que a principal virtude que falta àquele que deseja encontrar a Graça em sua vida e não consegue é a Fé. Talvez você discorde de mim dizendo que a ti falta na verdade a temperança ou a justiça, mas devo insistir dizendo que o que te falta é a Fé. Não sem motivo disse o Apóstolo que “sois salvos pela fé, e isto não provém de vossos méritos, mas é dom de Deus” (Ef 2, 8). O Apóstolo não quer dizer com isso, como pretenderam alguns protestantes, que basta crer para ser salvo, mas que o início da vida da Graça é a Fé!
Vou dar-te uma explicação teológica sobre isso. Evito fazê-lo porque não sou tão capaz, mas nesse ponto acredito que posso dar-te algum esclarecimento. A Fé pode ser entendida como um tipo de conhecimento que ilumina a razão. Ao invés de ser o conhecimento natural que temos sobre as coisas, é um conhecimento divino que nos vem por meio da revelação de Deus aos homens. Esse conhecimento tem por objeto o próprio Deus. No entanto, para aceitar o conhecimento que Deus nos dá sobre Si mesmo, seus atributos, seus feitos, suas vontades, necessitamos de Fé, pois todo o conhecimento exige da alma humana um ato de vontade, de arbítrio. Portanto, para bem conhecer a Deus e viver segundo aquilo que é do seu agrado, é indispensável que se tenha a Fé, e é justamente por isso que também disse o Apóstolo que “sem Fé é impossível agradar a Deus” (Hb 11, 6).
E assim voltamos à Santíssima Virgem Maria.
A Santa Mãe Imaculada foi colocada por Deus, por um mistério da Divina Providência, como um canal da misericórdia de Deus, com a promessa de que todos aqueles que a Deus pedirem algo necessário à salvação e santificação por meio d’Ela hão de obter.
Deus fez a Virgem Maria de tal modo que nela não há nada que possa causar o assombro no homem. Grande é a Glória de Deus, e muito terrível a ponto de fazer com que os homens caiam por terra como mortos! Excelsa é a Glória da Santíssima Virgem, mas é ela toda cheia de doçura e amor materno, de modo a atrair os homens pecadores à divina Graça.
É esse o motivo pelo qual a Santa Igreja a chama vida e doçura na oração da Salve Rainha. É vida, porque nos conduz à Graça que é a vida da alma; é doçura, pois nela tudo é um convite para a confiança no amor de uma mãe.
Pondere sobre o que disse S. Boaventura a esse respeito: “Ouvi-o, vós que procurais o reino de Deus: honrai a Santíssima Virgem Maria e achareis vida juntamente com a eterna salvação”. Bem por isso S. Bernardo a todos exorta que procurem a graça, mas que a procurem por meio de Maria.
Se fores pensar bem, esse mistério já está contido desde há muito nas páginas da Escritura, pois o Anjo do Senhor, ao ter com a Santíssima Virgem no mistério da anunciação, disse-lhe que não temesse, pois havia encontrado graça diante de Deus (Lc 1, 30). Mas se ensina a Santa Igreja que Maria nunca se viu privada da graça, como é que pode tê-la encontrado naquele momento? A verdade é que a encontrou não para si, mas para todos nós, pecadores, quando se tornou uma criatura tão amada que atraiu o próprio Verbo Eterno para o seu seio virginal.
Vejam que grande mistério!
Com tudo isso quero encorajar-te, meu irmão, a começar uma jornada de confiança irrestrita no auxílio dessa poderosíssima Mãe. A Graça que tanto procuras está em sua posse, e basta pedi-la a Ela, honrando-a como bem merece, para que obtenhas tudo quanto necessita a tua pobre alma pecadora.
Por que então não começar desde já? Peça com confiança à Santa Mãe de Deus antes de lhe dirigir as Ave-Marias a Fé de que tanto necessitas para encontrar a Graça de Deus. Ela certamente irá ao seu infinito depósito de Graças para derramar com abundância a Fé em teu coração, e nunca mais serás o mesmo!
Voltando ao simbolismo da grande corrida, peço-te que passes a ver a Santíssima Virgem Maria como sua mãe compassiva, sua esposa auxiliadora, sua patrocinadora riquíssima, sua treinadora com histórico de formar os maiores campeões do mundo. Garanto-te que ela é tudo isso e muito, muito mais do que o que possas dela conceber!
Esse encontro foi o início de uma série que será toda dedicada somente à Santíssima Mãe de Deus. Quero proclamar-te, com todo o vigor do meu coração, as Glórias de Maria, indicando-te devoções seguras que podem facilmente ser incorporadas em teu dia-a-dia para melhor te relacionares com a Santa Mãe Deus.
Sigamos, pois, o caminho de S. José e de S. João, que na Santíssima Virgem Maria encontraram o manancial de águas puríssimas que os levou à grande santidade e à coroa da glória eterna.
Que Deus abençoe a todos e ao apostolado Cooperadores da Verdade!