O ser humano é uma espécie de ponto entre os mundos da matéria e do espírito. Como já dissemos nas catequese passadas, a alma do homem é uma substância espiritual, muito parecida com a natureza dos anjos; já o corpo humano é matéria; isto é, uma substância física. Fica clara a natureza “híbrida” do ser humano, pois ele não é somente espírito, como os anjos, nem um ser sem alma racional, como os animais. Por isso o homem é chamado de animal racional, por ser composto de alma racional e corpo.
O corpo humano é de uma complexidade e beleza de operação sem igual. Nossos órgãos trabalham sem parar por 24 horas por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano. Tudo isso sem que precisemos dar qualquer comando voluntário. Poderíamos aqui citar uma série enorme de qualidades e maravilhas do corpo humano, mas não nos convém fazê-lo nesta breve catequese.
Apesar das maravilhas que nosso corpo possui, ele compreende apenas a “metade” daquilo que somos e a metade menos preciosa que temos. De qualquer forma, ele é um dom que temos de apreciar e zelar.
Recorramos aos ensinamentos de São Pio X e do Catecismo da Igreja Católica para corroborar aquilo que acabamos de dizer:
48) Qual é a criatura mais nobre que Deus colocou sobre a terra?
A criatura mais nobre que Deus colocou sobre a terra, é o homem.49) Que é o homem?
O homem é uma criatura racional, composta de alma e corpo. O corpo do homem participa na dignidade da «imagem de Deus»: é corpo humano precisamente por ser animado pela alma espiritual, e a pessoa humana na sua totalidade é que é destinada a tornar-se, no Corpo (Místico) de Cristo, templo do Espírito (CIC, 364)
Alma
Assim descreve o Padre Leo Trese, em seu A Fé Explicada, a união entre a alma e o corpo humano, que em conjunto formam o nosso ser:
O homem tem corpo, mas é mais que um animal. Como os anjos, o homem tem um espírito imortal, mas é menos que um anjo. No homem se encontram o mundo da matéria e o do espírito. Alma e corpo se fundem numa substância completa que é o ente humano.
(TRESE; 1999; p. 42)
A união existente entre alma e corpo não tem caráter meramente circunstancial. O corpo não é apenas um instrumento da alma, eles foram feitos um para o outro. A união existente entre os dois é tão profunda que, enquanto estamos nesta vida, um não pode viver sem o outro. Parafraseando o Pe. Leo, podemos comparar a união entre alma e corpo com aquela que existe entre o zinco e o cobre; quando estes dois metais são fundidos e misturados, dão origem a uma nova substância, um novo metal, o bronze. O bronze não é nem zinco, nem cobre. É uma substância nova, da mesma forma, alma e corpo juntam-se para dar origem ao homem.
Diz o CIC:
A pessoa humana, criada à imagem de Deus, é um ser ao mesmo tempo corporal e espiritual. A narrativa bíblica exprime esta realidade numa linguagem simbólica, quando afirma que “Deus formou o homem com o pó da terra, insuflou-lhe pelas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se num ser vivo” (Gn 2, 7). O homem, no seu ser total, foi, portanto, querido por Deus.
(CIC, 362)
A unidade da alma e do corpo é tão profunda que se deve considerar a alma como a «forma» do corpo (232); quer dizer, é graças à alma espiritual que o corpo, constituído de matéria, é um corpo humano e vivo. No homem, o espírito e a matéria não são duas naturezas unidas, mas a sua união forma uma única natureza.
(CIC, 365)
Podemos observar esta união intima existente entre alma e corpo, quando sentimos alguma dor; quando isso acontece, não é só o nosso corpo que sente a dor, mas todo o nosso ser. De igual modo, quando nossa alma é atacada por preocupações e inquietações, isso reflete em nosso corpo.
Portanto, não podemos tratar o corpo com desprezo, pois sem ele não poderíamos perceber – ainda que esta percepção não seja perfeita – aquilo que está acontecendo com nossa alma.
Muitas vezes, a palavra alma designa, nas Sagradas Escrituras, a vida humana, ou a pessoa humana no seu todo. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem e de maior valor na sua pessoa, aquilo que particularmente faz dele imagem de Deus: alma significa o princípio espiritual no homem.
(CIC, 363)
Se a complexidade do funcionamento de nosso corpo é algo maravilhoso e aponta para o poder de Deus, muito mais magnífica é a obra divina realizada em nossas almas.
Sabemos que a alma é um espírito; logo, é um ser imaterial. Por não ter matéria, não está “preso” há única localidade do nosso corpo, seja cabeça, mãos, pernas etc. A nossa alma somente não integra aquilo que deixa de ser uma parte viva do nosso corpo. Por isso, haverá a
separação entre alma e corpo na hora de nossa morte. Morrem nossos corpos, mas não nossas almas, pois são substâncias e, por conseguinte, não possuem em si divisões que possam levá-la ao perecimento ou destruição.
Ensina São Pio X:
52) Morre a alma humana com o corpo?
A alma humana nunca morre; a fé e a mesma razão provam que ela é imortal.
Imagem e Semelhança de Deus
Não é sem fundamentos ou base que dizemos que Deus nos criou à sua imagem e semelhança. Enquanto nosso corpo é um reflexo do poder divino, a nossa alma é um especial retrato do seu Divino Autor. Claro que um retrato imperfeito, mas ainda assim uma imagem do Espírito que é Deus. Diz o Padre Leo Trese:
O poder da nossa inteligência, pelo qual conhecemos e compreendemos verdades, raciocinamos e deduzimos novas verdades e fazemos juízos sobre o bem e o mal, reflete o Deus que tudo sabe e tudo conhece. O poder da nossa livre vontade, pela qual deliberadamente decidimos fazer uma coisa ou não, é uma semelhança da liberdade infinita que Deus possui; e, evidentemente, a nossa imortalidade é uma centelha da imortalidade absoluta de Deus.
(TRESE; 1999; p.44)
Como a vida íntima de Deus baseia-se no conhecimento que Ele possui de Si mesmo (Deus Filho) e no amor que possui por Si mesmo (Deus Espírito Santo), mais nos aproximaremos de Deus se mais utilizarmos nossa inteligência para conhecê-Lo e nossa vontade para amá-Lo.
Encerramos com um trecho do Catecismo e da Igreja Católica e outro do Catecismo Maior de São Pio X:
Porque é à imagem de Deus, o indivíduo humano possui a dignidade de pessoa: ele não é somente alguma coisa, mas alguém. É capaz de se conhecer, de se possuir e de livremente se dar e entrar em comunhão com outras pessoas. E é chamado, pela graça, a uma Aliança com o seu Criador, a dar-Lhe uma resposta de fé e amor que mais ninguém pode dar em seu lugar.
(CIC, 357)
55) Por que se diz que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus?
Diz-se que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, porque a alma humana é espiritual e racional, livre na sua ação, capaz de conhecer e de amar a Deus, e de gozá-Lo eternamente, perfeições que refletem em nós um raio da infinita grandeza de Deus.
Esta foi uma catequese introdutória, continuaremos falando sobre este tema na próxima catequese.
Referências Bibliográficas
- Catecismo da Igreja Católica; Catecismo Maior de São Pio X;
- TRESE; Leo John. A fé explicada / Leo J. Trese; tradução de Isabel Perez. – 7a ed. – São Paulo: Quadrante, 1999.