Onde estão os corpos de Henoque e Elias arrebatados aos céus?

Em nossa resposta, deveremos em primeiro lugar notar que a maneira um tanto misteriosa como a S. Escritura se refere a Henoque (cf. Gên 5,22-24; Eclo 44,16; Hebr 11,5) e Elias (3 e 4 Rs), enaltecendo a vida e o transe desses justos, deu lugar a que os pósteros tendessem a acrescentar traços novos à genuína figura dos dois homens de Deus; principalmente a missão de Elias tornou-se objeto de reflexão e elaboração por parte das gerações judaicas e cristãs. É o que explica, se afirmem hoje em dia a respeito de Henoque e Elias algumas proposições que carecem de fundamento nas fontes bíblicas mesmas e se devem principalmente à piedade popular. Será preciso, portanto, em nosso estudo discernir bem o que está na S. Escritura, daquilo que se narra à margem desta. É o que vamos fazer nos parágrafos abaixo.

1. Uma nova sentença de exegese

Os textos de Gên 5,24 e 2Rs 2,11s sugerem que Henoque e Elias foram arrebatados vivos aos céus; daí decorrem as duas questões formuladas no cabeçalho deste artigo.

Eis, porém, que exegetas contemporâneos (católicos e não católicos) julgam dever dar nova interpretação às passagens citadas, nova interpretação que revolve por completo toda a problemática referente aos dois mencionados personagens.

Vejamos, pois, como raciocinam tais comentadores. Começaremos pelo que diz respeito a

1) ELIAS. Eis o texto a ser considerado:

4 RS 2,1 «Eis o que se deu no dia em que o Senhor arrebatou Elias ao céu num turbilhão : Elias e Eliseu partiram de Galgala… 9 — Elias disse a Eliseu : ‘Pede-me algo antes que eu seja arrebatado de junto a ti; que poderia eu fazer por ti ?’ — Eliseu respondeu : ‘Seja-me concedida dupla porção do teu espírito’. 10 — ‘Pedes coisa difícil, replicou Elias. Entretanto se me vires quando eu for arrebatado de ti, isso te será dado; mas, se não me vires, não te será dado’. 11 Continuando eles o seu caminho, entretidos a conversar, eis que de repente um carro de fogo e cavalos de fogo os separaram um do outro, e Elias subiu ao céu num turbilhão. 12 Vendo isto, Eliseu exclamou: “Meu pai, meu pai! Carro e cavaleiros de Israel!’ E não o viu mais. Tomando então as suas vestes, rasgou-as em duas partes. 13 Apanhou o manto que Elias deixara cair, e, voltando até o Jordão, parou à beira do rio».

Os exegetas reconhecem de maneira geral que este texto refere o transe de Elias tal como Eliseu o viu. A corrente moderna, porém, acrescenta que se trata de uma visão extática de Eliseu, como parece insinuar o próprio autor sagrado. Sim; quando Eliseu pediu a Elias dupla porção do seu espírito, respondeu Elias : «Se me vires quando eu for arrebatado…»; a visão condicional aqui mencionada parece ser uma visão gratuita, carismática; em outros termos: significaria um êxtase profético, semelhante ao que tiveram outros homens de Deus. como Miquéias, quando viu os céus abertos (cf. Rs 22,19-22),… o discípulo de Eliseu, quando percebeu as montanhas cobertas de cavalos e carros de fogo (cf. 2Rs 6,17),… Isaías, ao contemplar o trono de Deus (cf. Is 6,1-13), ou ainda Amos (cf. Am 9,1). — Verificado isto, concluem os referidos exegetas: do fato de que Eliseu, em êxtase, contemplou Elias elevado aos céus, não se poderia deduzir que paralelamente, na realidade histórica, Elias tenha terminado seus dias na terra por um arrebatamento, escapando assim ao império da morte.

Poder-se-ia então definir o significado exato do episódio de 2Rs 2,12s ?

Eis como o interpreta a sentença mais recente.

Note-se que o cenário de «arrebatamento» de Elias é o cenário simbólico que costuma enquadrar as teofanias ou manifestações de Javé na história sagrada: o fogo e o vento forte denotam, sem dúvida, a presença de Javé em Êx 3,2; 24,17; Jz 13,20 ; Is 30, 27; Ez l,4s ; Dan 7,9s ; o carro de fogo, portanto, em 2Rs 2,11 não parece significar senão a força divina que atraiu Elias. E para que o terá atraído ? — Provàvelmente para um colóquio místico em lugar retirado ou elevado acima da terra, colóquio semelhante aos que se deram na vida dos grandes profetas de Israel, seja no monte Sinai (com Moisés, cf. Êx 3 ; 19; com Elias, cf. Rs 19), seja no templo de Jerusalém (com Isaias, em Is 6), seja no santuário de Betei (com Amós, em Am 9,1). Terminado o êxtase de Elias (que Eliseu, especialmente agraciado por Deus, pôde contemplar), aquele profeta terá voltado ao seu estado normal, vindo a morrer pouco depois disso. A morte de Elias parece insinuada aos mencionados exegetas modernos pelo fato de que Elias rasgou suas vestes e recolheu o manto de Elias, ao verificar o desaparecimento definitivo do mestre, (cf. 2Rs 2,12s). — O Padre Spadafora faz observar que o verbo hebraico laqah, tomar, arrebatar, o qual domina a narrativa de 2Rs 2,3-13, designa «a intervenção de Deus na morte serena do justo» em textos como SI 48,16; Is 53,8 e até mesmo Gên 5,24 (episódio de Henoque); cf. o artigo Elia, em «Enciclopédia Cattolica» V. Roma 1950, 233. — Observam outrossim os comentadores que o trecho de 2Rs 2 de modo nenhum nos diz que Elias não morreu; verdade é que a lacônica e misteriosa construção de frases dessa passagem era apta a sugerir aos leitores tal conclusão (como, aliás, se depreende de passagens bíblicas posteriormente redigidas, como Mal 3,23s [Vg 4,5s] ; Eclo 48,10 ; 1 Mac 2, 58).

2) Quanto a HENOQUE, eis o que a Bíblia nos diz a seu respeito:

«Henoque caminhou com Deus… Toda a duração da vida de Henoque foi de trezentos e sessenta e cinco anos. Henoque caminhou com Deus; a seguir, desapareceu, pois Deus o arrebatou» (Gên 5, 21.23s).

A última frase do texto acima poder-se-ia entender também do seguinte modo : «Após uma de suas comunicações com Deus, Henoque não mais voltou (à companhia dos vivos)».

Alguns exegetas modernos julgam que tais dizeres são demasiado sóbrios para se deduzir algo de certo sobre o fim de vida de Henoque. O verbo laqah, ocorrente em Gên 5,24, significaria apenas, como no caso de Elias, que Henoque gozou de íntima união com Deus, sem que isto implicasse em isenção da morte; essa íntima união é ademais atestada pelo «caminhar com Deus» tão característico de Henoque, assim como pela cifra de 365 anos, que assemelha a vida deste justo à passagem de um sol sobre a terra.

«O arrebatamento de Henoque relatado por fonte antiquíssima do Código Sacerdotal (isto é, por um dos mais antigos documentos que entraram na composição do Gênesis), tem nitidamente o caráter de uma epopeia (poema que decanta o maravilhoso) primitiva. O significado desse texto arcaico permanece obscuro» (J. Steinmann, Élie dans 1’Ancien Testament, em «Élie le prophète» I. Paris 1956,114).

Steinmann chega a dizer que «lendas semelhantes às que circulavam a propósito de Frederico Barbarroxa (+1190), atribuíram misteriosa sobrevivência física a Henoque e Elias» (ibd. 114).

É nos termos acima que se apresentam duas recentes teses de exegetas católicos a respeito do desfecho da vida de Elias e Henoque nesta terra.

Que dizer de tais explicações?

Elas têm contra si o testemunho da tradição judaica e cristã, que até o nosso século sempre eximiu da morte Henoque e Elias (verdade é que se trata não de tradição dogmática, mas exegética apenas, a qual por si não se impõe à fé dos cristãos). Além do mais, os argumentos literários e filológicos apresentados pelos autores da inovação não parecem dirimentes. Como quer que seja, o que nos interessa aqui observar, é que a sentença segundo a qual Henoque e Elias já morreram, é aceita dentro dos quadros da exegese católica. Ora quem a aceita, já não propõe as questões formuladas no cabeçalho deste artigo.

Visando, porém, elucidar o mais possível o assunto, consideremos agora a sentença tradicional referente aos dois homens de Deus, e procuremos esclarecer as perguntas que a ela se prendem.

2. Onde estarão?

Os autores judeus e cristãos que asseveram o arrebatamento de Henoque e Elias vivos aos céus, não estão de acordo entre si sobre o local em que se possam encontrar os seus corpos.

Entre os judeus antigos, Elias ocupava lugar importante nas tradições rabínicas, principalmente a partir do séc. IX a.C. Era tido como intercessor junto a Deus em favor do seu povo; os rabinos narravam que ele aparecia muitas vezes sobre a Terra, fosse para instruir os rabinos, fosse para curar os doentes, fosse para punir os pecadores. Contudo o que mais se afirmava, era que voltaria à Terra como Precursor do Messias, a fim de excitar o povo de Israel à penitência (daí as numerosas alusões à vinda de Elias nos SS. Evangelhos; cí. Mt 17,10s; 11,14; 27,47.49; Lc 1,17; Jo 1,21.25).

O companheiro de Elias no desempenho da tarefa de preparar imediatamente a vinda do Messias seria, conforme algumas escolas rabínicas, Moisés. Este não teria morrido (embora a S. Escritura mencione claramente o seu desenlace em Dt 34,5); estaria atualmente vivendo junto de Deus, prestes a voltar ao mundo na era messiânica! Todavia, ao lado de afirmações deste gênero, não se lê, nas tradições rabínicas, indicação precisa sobre o lugar onde possam estar os corpos de Elias, Moisés, Henoque, etc.; apenas alguns mestres ousavam afirmar que esses justos se achavam no paraíso terrestre (de Adão e Eva) transferido pelo Senhor Deus para fora deste mundo.

A tradição cristã não se mostrou mais segura sobre esses assuntos.

Ao passo que o texto hebraico de 2Rs 2,11 diz simplesmente que Elias subiu aos céus, os tradutores gregos desse texto, na edição dos LXX, escreveram «hoos eis ton ouranon» (como que para os céus); por sua vez, os primeiros tradutores latinos puseram «quasl in caelum» (como que…).

Na Idade Média, São Tomás, retomando a opinião de antigos escritores cristãos (como Tertuliano, S. Ireneu e outros), propunha o paraíso terrestre, transferido para longe deste mundo, qual mansão dos corpos de Elias e Henoque:

«Elias foi arrebatado para o céu aéreo, não, porém, para o céu empírio (de fogo), que é a mansão dos santos. De modo semelhante, foi Henoque arrebatado ao paraíso terrestre, onde se crê que ele viverá com Elias até a vinda do Anticristo» (Suma Teológica III 49, 5 ad 2).

Nesse texto, «céu aéreo» significa o paraíso de Adão e Eva sequestrado pelo Senhor Deus para um lugar qualquer da atmosfera terrestre, ao passo que o «céu empírio ou de fogo» designaria (conforme, aliás, o modo de pensar comum dos medievais) o lugar refulgente (não quente, porém) onde os justos são premiados para todo o sempre.

Não se deve atribuir autoridade decisiva à opinião abraçada por São Tomás, no caso; ela versa sobre um assunto em que não se podem propor senão conjecturas. A existência do paraíso terrestre transferido para longe desta Terra, como, aliás, toda a geografia do Além que é explanada na literatura exegética medieval, exprimem pressupostos e teses dos antigos que hoje em dia estão abandonados pelos teólogos.

Em conclusão: dado que Henoque e Elias existam realmente em corpo e alma fora deste mundo (hipótese que, como vimos, em nossos dias já não encontra unânime aceitação), será necessário renunciar a indicar o lugar de sua atual mansão.

3. Voltarão à Terra?

É comum dizer-se que Henoque e Elias imediatamente antes do juízo final aparecerão de novo neste mundo, onde darão testemunho a Cristo perante o Anticristo; finalmente pagarão seu tributo à morte, para depois serem ressuscitados e reinarem na glória dos justos.

Quais os fundamentos dessa crença?

a) No tocante a Elias, a tradição judaica pré-cristã admitia que Elias voltaria como Precursor do Messias. O texto do profeta Malaquias (3,23s; Vg 4,5s), dava expressão a essa expectativa judaica. Contudo o Senhor Jesus explicou qual o sentido da apregoada volta de Elias à Terra: as qualidades de ânimo do profeta — zelo pela causa de Deus, destemida exortação à penitência — deveriam manifestar-se na pessoa de João Batista, o imediato Precursor do Salvador; de fato, o Batista, pregando energicamente no limiar da era cristã, realizou tarefa paralela à de Elias no séc. IX a. C. Por isto também Cristo houve por bem por o ponto final à expectativa judaica, asseverando, com explícita referência a São João Batista, que Elias já veio; cf. Mt 17,10.12s.

b) Entre os cristãos, apesar das palavras de Cristo, persistiu a crença na volta de Elias, alimentada, em parte, por famoso texto do Apocalipse (11,1-13), ao qual voltaremos agora nossa atenção:

APC 11, 1 «Foi-me dada uma vara semelhante a uma vara de agrimensor, e disseram-me: ‘Levanta-te! Mede o templo de Deus e o altar com seus adoradores. 2 O adro, fora do templo, porém, deixa-o de lado e não o meças: foi dado aos gentios, que hão de calcar aos pés a cidade santa por quarenta e dois meses. 3 Mas incumbirei as minhas duas testemunhas vestidas de saco de profetizarem durante mil duzentos e sessenta dias. 4 São eles as duas oliveiras e os dois candelabros que se mantêm diante do Senhor da terra. 5 Se alguém lhes quiser causar dano, sairá fogo de suas bocas e devorará os inimigos. Com efeito, se alguém os quiser ferir, cumpre que assim seja morto. 6 Esses homens têm o poder de fechar o céu para que não caia chuva durante os dias de sua profecia ; têm poder sobre as águas, para transformá-las em sangue, e poder sobre a terra, para a ferir, sempre que quiserem, com toda espécie de flagelos. 7 Mas, depois de terem terminado o seu testemunho, a Fera que sobe do abismo lhes fará guerra, os vencerá e os matará. 8 Seus cadáveres (jazerão) na praça da grande cidade que se chama espiritualmente’ Sodoma e Egito (onde o seu Senhor foi crucificado). 9 Muitos homens dentre os povos, as tribos, as línguas e as nações virão para ver seus cadáveres por três dias e .meio, e não permitirão que sejam sepultados. 10 Os habitantes da Terra alegrar-se-ão por causa deles, felicitar-se-ão mutuamente e mandarão presentes uns aos outros, porque esses dois profetas tinham sido seu tormento. 11 Mas, depois de três dias e meio, um sopro de vida, vindo de Deus, os penetrou. Puseram-se de pé, e grande terror caiu sobre aqueles que os viam. 12 Ouviram forte voz do céu que dizia : ‘Subi aqui!’. Subiram então para o céu numa nuvem, enquanto seus inimigos os olhavam. 13 Naquela mesma hora produziu-se grande terremoto, caiu uma décima parte da cidade, e pereceram no terremoto sete mil pessoas. As demais, aterrorizadas, deram glória ao Deus do céu».

Como se vê, o autor sagrado, ao descrever uma cena que alguns comentadores (erradamente) julgam ser a do fim do mundo, afirma que

— dois varões aparecerão sobre a Terra e durante 42 meses apregoarão a Verdade;

— possuirão mesmo o poder de realizar prodígios semelhantes aos que Moisés e Elias outrora obtiveram de Deus.

Sim. Elias fez descer fogo do céu sobre os inimigos de Javé (cf. 2Rs 1,10 e Apc 11,5); fechou os céus a fim de que não chovesse (cf. Rs 17,1 e Apc 11,6a); além disto, vestia-se de um saco, como as duas testemunhas (cf. 2Rs 1,8 e Apc 11,3). — A respeito de Moisés, lê-se que converteu águas em sangue e assolou a Terra com pragas diversas; cf. Êx 7,17-11,10 e Apc 11,6b;

— acabarão, porém, vitimados pelo Adversário, que os matará ;

— finalmente, após três dias e meio, ressuscitarão e serão elevados aos céus.

Ao procurar identificar as duas testemunhas anônimas, os exegetas, até nossos tempos, quase unanimemente indicavam ao menos Elias, visto que este profeta foi arrebatado aos céus… Quanto à outra testemunha, pensaram em Henoque, pois também se lê a seu respeito que deixou este mundo sem ter passado pela morte… Henoque e Elias, portanto, deveriam voltar à Terra antes da consumação da história ! — Outros exegetas pensaram em Moisés, pois alguns traços das duas testemunhas apocalípticas são, sem dúvida, derivados da figura histórica de Moisés… Alguns estudiosos ainda propuseram Jeremias, visto que a Escritura não refere a sua morte e assevera que seria um dia «Profeta entre as nações» (fora de Israel), coisa que não coube a Jeremias no Antigo Testamento (cf. Jer 1,5).

Na verdade, o episódio de Apc parece pedir interpretação bem diversa, ou seja, muito mais sóbria. — Sem desenvolver aqui o sistema mais plausível de exegese do Apocalipse, frisaremos apenas que a cena de Apc 11 muito provavelmente se refere à história da Igreja em toda a sua amplidão através dos séculos. Nesse currículo a Esposa de Cristo jamais deixa de proferir ao mundo o testemunho da verdade. Ora esse «testemunhar» da Igreja se acha simbolizado em Apc 11 pelos dois varões misteriosos, pois, conforme a Lei de Moisés, «qualquer afirmação verídica tem que ser expressa pela palavra de duas testemunhas» (cf. Dt 19,15 ; Jo 8,17).

O testemunho da Igreja assim simbolizado em Apc 11 é o testemunho que dão a Cristo os mártires, os confessores, os doutores e os justos em geral, em quem o Espírito Santo vive através dos tempos; tal testemunho pode ser tido como «profecia» (isto é, palavra proferida em nome de Deus) continua (cf. Apc 19,10).

A duração desse pronunciamento é de 1260 dias — o que vem a ser: 42 meses ou 3 1/2 anos, isto é, a metade de 7 anos. Visto que 7 exprimiria, segundo a mentalidade antiga, plenitude e consumação, 3 1/2 designa, no nosso caso, justamente uma época de demanda da plenitude. Tal é, sem dúvida, o período de combate contra o erro em prol da verdade, que caracteriza a história da Igreja entre a primeira e a segunda vinda de Cristo. — É, pois, durante 1260 dias, isto é, durante toda a sua história, que a Igreja (representada pelas duas testemunhas) apregoa o Evangelho neste mundo. E é durante três dias e meio, isto é, em segmentos de sua história, que a Igreja sucumbe aqui e ali aos golpes do Adversário, em virtude de perseguições, heresias ou cismas nesta ou naquela região. A voz da Igreja, porém, será finalmente vitoriosa.

Note-se ainda que as testemunhas de Apc 11 (ou também o testemunho da verdade e da vida proferido pela Igreja ao mundo) são descritas com traços de Elias, Moisés, Jesus (filho de Josedeque), Zorobabel (cf. Zac 4,2s) e — muito mais duvidosa e pàlidamente — com traços de Henoque, porque nos cristãos continua a viver o Espírito que animou e moveu esses grandes varões do Antigo Testamento. Não se procure outra explicação, mais precisa, (a qual não poderia deixar de ser forçada ou artificial) para os traços característicos das duas testemunhas do Apocalipse. Seria, portanto, gratuito concluir desta passagem que o autor sagrado queria predizer a volta ao mundo e o martírio de Henoque e Elias.

Numa derradeira observação, lembraremos que, se não há fundamento real para sustentar a segunda vinda ao mundo desses dois varões, convém não acentuar tal crença na catequese e na pregação. Antes, chamaremos a atenção dos nossos pupilos para os traços espirituais e religiosos que caracterizam Henoque e Elias; ao contemplá-los, o cristão aprenderá mais e mais a caminhar na presença de Deus, sem divagar inutilmente pelo mundo das conjecturas…

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