Ressurreição, Ascensão e Segunda Vinda de Cristo. Creio no Espírito Santo
Ouca esta aula:
Fontes primárias
1. Textos de títulos idênticos no site do Opus Dei;
2. §§ 631 – 747 do Catecismo da Igreja Católica.
Pela divisão feita na ementa, hoje deveríamos estudar a Ressurreição (artigo 5o), Ascenção (artigo 6o) e Segunda Vinda de Cristo (artigo 7o), bem como a fé no Espírito Santo (artigo 8o) e na Igreja (artigo 9o). Porém, preparando a aula, resolvi deixar o art. 9o para a próxima aula, na qual falaremos da Comunhão dos Santos e da História da Igreja.
A unidade temática exige essa reunião. E é mesmo necessário pela quantidade de tópicos necessários para bem explicar cada artigo. Por si só, cada um exige mais do que uma aula, e seria contraproducente tratar de todos em uma só.
Hoje, portanto, falaremos dos últimos mistérios da vida e obra de Cristo e do Espírito Santo enviado a nós por Cristo.
Na aula passada, falei do motivo pelo qual a vida e a morte de Cristo nos trouxeram a Redenção. Não por substituir a nossa pena, mas por redimir cada pequena realidade humana pela sua vida perfeita. Hoje falaremos da última realidade redimida, que é também a última vilã: a morte.
Artigo 5º: “Jesus Cristo desceu aos infernos, ressuscitou dos mortos no terceiro dia”
§1. Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em Si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada.” Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a conhecê-Lo e a amá-Lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade da sua família, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador, quando os tempos se cumpriram. N’Ele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos e, portanto, os herdeiros da sua vida bem-aventurada.”
Na aula passada falei que a salvação se dá por Participação, por participarmos na natureza divina de Cristo e, desse modo, participarmos da sua vida e morte. Hoje o quadro se completará, pois se a obra de Cristo termina na morte, nossa fé é vã, como diz São Paulo (I Co 15,14).
A ressurreição pode ser chamada de terceiro fundamento da fé cristã, em conjunto com a Santíssima Trindade e com a Encarnação. Sob outra ótica, porém, ela está dentro do mistério da Encarnação, não sendo um fundamento autônomo. De um modo ou de outro, o fato é que ela é essencial. Se não cremos que Cristo ressuscitou, não podemos crer que nós ressuscitaremos, logo a morte é o fim, o que leva a um niilismo.
Espiritualmente, isso tem consequências ainda mais graves, pois a ressurreição é a garantia de salvação para nós. Sabemos que o pecado nos trouxe, com justiça, a morte (Rm 6, 23). Se a morte física é o fim, a morte espiritual também. Se Cristo apenas tiver morrido, a morte continua a última inimiga da humanidade, ainda forte o suficiente para subjugá-la.
A morte é vencida pela ressureição. Percebam que homem algum pode voltar à vida. Uma vez que a alma foi separada do corpo, apenas a ação divina pode restaurar a união. Mesmo o mais elevado dos homens, que viveu mais retamente e que, em vida, submeteu seu corpo perfeitamente à sua alma não pode, em morte, restaurar a união.
Apenas alguém que fosse verdadeiro homem e verdadeiro Deus poderia operar essa obra em si. Por isso só Cristo poderia ressuscitar. Por isso também só ele poderia, assim fazendo, vencer a morte corporal e espiritual, pois vencer a morte é vencer o pecado.
A última obra redentora de Cristo, portanto, tem um duplo efeito: nos liberta do pecado e nos abre as portas de uma nova vida (§654). Duplo efeito que é quase um e o mesmo, pois estar livre do pecado é viver uma nova vida, e viver uma nova vida é estar livre do pecado.
O batismo, como veremos com mais detalhes depois, é símbolo da morte e ressurreição de Cristo que realiza em nós a purificação do pecado e a entrada na Igreja, corpo de Cristo, que nos garante – enquanto nela permanecermos – a ressurreição dos nossos corpos após nossa morte e a vida eterna.
Que o batismo seja administrado unicamente pela Igreja – mesmo naqueles que estão fora dela – é prova de que apenas dentro dela podemos ser salvos. Como dito, a salvação é por participação na vida, obra, morte e ressureição de Cristo, o único justo e o único salvo (§655).
Artigo 6º: “subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai Todo-Poderoso”
O 6o artigo do Credo nos informa que Cristo não apenas morreu e ressuscitou, mas que, depois de certo tempo, subiu aos céus e juntou-se a Deus Pai. A importância particular desse ponto da nossa fé é que a garantia que temos de que podemos ser salvos e participar da vida divina é que Cristo está nos Céus, Ele que não é apenas Deus, mas também homem.
A entrada de Cristo nos Céus não é um fato fortuito, nem indica apenas o destino individual da humanidade de Cristo: é o fato que marca a entrada da humanidade nos Céus. Se nós podemos crer e esperar que, morrendo em Graça, iremos para os Céus – mesmo que passando antes pelo Purgatório –, é porque, antes de nós, Cristo lá entrou, o primeiro homem, em corpo e alma, que entrou nos céus.
Por isso que, antes disso, Ele desceu aos infernos. Por isso que havia algo como o limbo, uma antessala dos infernos. Lá estavam as almas de todos os justos que viveram no Antigo Testamento, judeus e gentios, que viveram retamente e amaram a Deus. Estavam lá esperando a Salvação chegar. Só então entraram nos Céus, não antes.
A ascensão, portanto, é um “acontecimento ao mesmo tempo histórico e transcendente”, pois, dando-se com o Verbo Encarnado, dá-se com o homem e com Deus, e marca a transição da glória de Cristo ressuscitado à de Cristo exaltado à direita do Pai (§660).
Ao sentar-se à direita do Pai, Cristo dá início ao Reino do Messias, ao Reino de Deus (§664). A Igreja, que Ele veio instituir aqui, é esse Reino, é o Reino de Deus, guiada pelo Espírito Santo por meio dos Apóstolos, especialmente pelo Bispo de Roma. Os sacerdotes aqui são participantes do sacerdócio de Cristo, aquele que é o eterno sacerdote (§662).
Não deve haver dúvidas entre nós: a vida da Igreja é a vida de Cristo. Tudo que temos não apenas nos foi dado por Ele, mas é Dele. Os sacramentos não existiriam se Cristo não estivesse exercendo perpetuamente sua função de sacerdote junto de Deus Pai.
Artigo 7º: “donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.”
Cristo também exerce a função de juiz. É Rei, Sacerdote e Juiz. Mas não a exerce por enquanto, não para nós que estamos vivos. O juízo de Cristo está reservado para o fim das nossas vidas e, especialmente, para o fim da humanidade, da História.
Quanto a esse ponto existe uma questão que muito me interessa, e sobre a qual falarei mais detalhadamente na aula sobre a Teologia da História Católica, que é o problema do milenarismo, das filosofias da história, do movimento revolucionário e da tentativa humana – dominante nos nossos dias – de realizar aqui e agora o juízo de Cristo sobre os homens, dividindo as ovelhas dos bodes, e de estabelecer o Reino de Deus pela ação política organizada.
A Igreja nos adverte para além de qualquer dúvida que essa ideia, bem como essa postura, é herética e destruidora da vida humana. Por esse motivo a finalidade da vida católica não é “transformar esse mundo em um lugar melhor”, mas lutar o bom combate pela evangelização do mundo, a fim de que todas as pessoas tenham a oportunidade de conversão.
Nesse processo, às vezes a sociedade irá melhorar, às vezes irá piorar; às vezes a Igreja será aceita, às vezes rejeitada e perseguida; às vezes ela será a única força de ordem na sociedade, às vezes será uma força de desordem – como acontece quando ela converte massivamente as populações de uma determinada nação e termina desestruturando os fundamentos religiosos do poder político.
O que importa, para nós, é a salvação das almas, não, ao menos não em primeiro lugar, a melhoria das condições materiais de vida aqui. Toda obra de caridade é boa, mas o seu fim último não é acabar com os males, e sim levar as pessoas à Cristo. É amá-las como Cristo as amou, desejando que todas se salvem, mesmo que pereçam nessa vida – e, no final, todos pereceremos.
Artigo 8º: “Creio no Espírito Santo.”
“§1. Deus, infinitamente perfeito e bem-aventurado em Si mesmo, num desígnio de pura bondade, criou livremente o homem para o tornar participante da sua vida bem-aventurada.” Eis por que, desde sempre e em todo lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-Lo, a conhecê-Lo e a amá-Lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, dispersos pelo pecado, para a unidade da sua família, a Igreja. Faz isto por meio do Filho, que enviou como Redentor e Salvador, quando os tempos se cumpriram. N’Ele e por Ele, chama os homens a se tornarem, no Espírito Santo, seus filhos adotivos e, portanto, os herdeiros da sua vida bem-aventurada.”
O 7o artigo do Credo foi o último especificamente sobre a vida e a obra de Cristo aqui na terra. Falaremos agora da última pessoa da Santíssima Trindade, o Espírito Santo, e da obra conjunta das três pessoas na Igreja – esse segundo tópico a partir da próxima aula.
Vimos quando falamos de Deus Pai que o Espírito Santo é o amor entre o pai e o filho. Ele procede, portanto, de ambos e coexiste com eles, tendo a mesma substância divina e participando de toda obra divina. Podemos, é claro, apontar funções e ações mais específicas para cada pessoas. O fato é que todas agem em conjunto desde a criação.
Especificamente, porém, ao Espírito é atribuída a função de confirmador ou inspirador da Verdade. O Credo Niceno-Constantinopolitano declara que “Ele que falou pelos profetas”. Sua função se torna mais clara quando da fundação da Igreja. Desde o momento em que São Pedro afirma que Cristo é o Filho de Deus (Mt 16,16) até hoje, é Ele que revela a Verdade ao intelecto humano.
Seu papel, portanto, é o de sustentar a Igreja na fé, de transmitir aos homens a graça por meio dos sacramentos (que estudaremos na terceira parte do Catecismo), de fazer progredir a compreensão da Revelação (desenvolvimento da doutrina da Igreja, de que tratamos brevemente em alguns momentos, e de permitir que os homens participem da natureza divina de Cristo, da Santíssima Trindade.
Sendo Ele o amor divino, é por Ele que Deus nos ama e, do mesmo modo, que nós podemos amar a Deus. O vínculo de amor que se forma entre a alma humana e Deus acontece pelo Espírito Santo. A participação humana na vida divina não seria possível sem o Espírito.
Prof. Rafael Cronje Mateus
Dada no Centro Cultural Alvorada, no dia 02 de junho de 2021.