A família carmelita é uma escola de santidade. Podemos facilmente constatar isso a partir dos inúmeros santos vindos desta magnífica ordem religiosa, que influenciaram não somente ela, mas toda a história da Cristandade. Lembremo-nos também de que de lá também saíram três grandes Doutores da Igreja: São João da Cruz, Santa Teresa de Ávila, e a minha amada Santa Teresinha do Menino Jesus.
Servo de Deus Jean Thierry Ebogo
Todavia, mesmo transcorrido tantos séculos, a Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria do Monte Carmelo continua a cultivar verdadeiras sementes de santidade que nos evocam ao que dizia a Santa de Lisieux: “não tenho nada mais que o hoje”. Assim, uma vez que o Santo Espírito de Deus continua a suscitar a santidade das almas por meio do Santo Escapulário Marrom, escolho falar hoje de um amigo do céu ainda pouco conhecido no Brasil, mas cuja história é capaz de gritar aos corações que a santidade nos dias de hoje é possível: falo do Servo de Deus Jean Thierry Ebogo.
Nascido na cidade de Bamenda, na República de Camarões, em 04 de fevereiro de 1982, Jean era ainda muito pequeno quando começou a ajudar sua família vendendo sorvetes de limão sob o sol escaldante. Era uma criança completamente normal, mas ainda cedo tocada pela graça, pois, ao presenciar os missionários católicos naquela ilha, encantou-se com as cruzes que estes levavam ao pescoço, nascendo, a partir daí, a sua grande vontade de ser sacerdote.
Seguindo seu coração, não mediu esforços para alcançar a empreitada: aos 21 anos ingressa no Carmelo de Nkoabang, sendo admitido para o noviciado, no ano seguinte. Escolheu seu próprio nome para o religioso, acrescentando apenas “do Menino Jesus e da Paixão”, num tom que considero extremamente profético. Seguia assim sua vida almejando a graça do sacerdócio, quando bateu à sua porta uma notícia que, aos olhos do mundo, seria encarada com, no mínimo, frustração: um tumor maligno no seu joelho direito fora descoberto. Infelizmente, foi inevitável a amputação de sua perna, o que ele, apesar da tristeza natural que qualquer ser humano sente ao passar por tal situação, encarou com uma felicidade sobrenatural, oferecendo-se como vítima pelo seu chamado ao sacerdócio.
Entretanto, as notícias não eram as melhores, pois, apesar da amputação da perna e do tratamento com quimioterapia, Jean não melhorava, motivo pelo qual decidiram, em 2005, transportá-lo para a Itália, em Concesa, para dar continuidade ao tratamento, na tentativa de salvar sua vida.
Sua situação era tão crítica que o médico italiano responsável por atendê-lo chegou a exclamar que aquele pequeno e humilde irmão era verdadeiramente “um santo”, pois era humanamente impossível que suportasse tamanha dor sem nenhuma quixa. A essa altura, todos sabiam que seu prognóstico não era dos mais animadores, mas Jean permanecia firme pedindo sua cura única e exclusivamente para se tornar sacerdote.
Porém as coisas não saem sempre como nós queremos, desejamos ou pensamos, tendo o bom Deus suas razões para agir assim. Em razão do agravamento de seu estado de saúde, o provincial do Carmelo de Camarões, Padre Gabrielli Matavelli, autorizou que Jean Thierry professasse os votos perpétuos, tornando-se um frade carmelita, o que aconteceu no hospital, em 08 de dezembro de 2005, na Solenidade da Imaculada Conceição.
Cerca de um mês depois, a alma do irmão Jean Thierry do Menino Jesus e da Paixão voou e foi se encontrar com Aquele a quem ele tanto amou em vida, e a quem tanto queria servir como sacerdote. Seu odor de santidade era notório, pois, após sua partida para a vida eterna, seu corpo foi transladado de volta ao seu país natal, e uma multidão de amigos se reuniu para fazer a despedida. Atualmente seu túmulo recebe fiéis que pedem graças por sua intercessão. Seu processo de beatificação foi aberto no ano de 2013, na Diocese de Milão, Itália.
Ao presenciar esse pequeno recorte da vida de Jean, podemos nos perguntar: por qual razão Deus não atendeu o pedido daquele jovem, permitindo ao menos que ele pudesse se tornar sacerdote? Se eu dissesse que sei a resposta eu mentiria. Na vida cristã temos que conviver, por vezes, com essas dúvidas, e convertê-las num “para quê”. O fato é que, muito embora o Servo de Deus Jean não tenha sido sacerdote pelo sacramento da Ordem, com toda certeza o foi pelo desejo intenso que tinha na alma, o que se confirma quando ele afirma em seu leito de morte que intercederia por uma “uma chuva de vocações sólidas para o sacerdócio e a vida consagrada” para o Carmelo africano, e, consoante o site ACN, “não somente nos Camarões, a sua pátria, mas também na vizinha República Centro Africana, numerosas vocações têm florescido.”, o que nos faz pensar que Deus fez muito mais através de Jean Thierry do que teria feito se ele tivesse se tornado sacerdote (suposições minhas). Deus quis a “imolação” dessa pequena alma para mostrar ao mundo como deve ser a alma de um padre: abnegada de si mesma, desejosa de salvar almas. Talvez possamos dizer que Jean Thierry Ebongo tenha sido a vítima no seu próprio sacerdócio..
Teresinha queria ser missionária, e tornou-se a padroeira das missões sem sequer ter saído da França. Jean Thierry quis ser padre, e tem se tornado responsável por muitas vocações em seu continente, muito embora nunca tenha sido, de fato, sacerdote. Finalizo com o questionamento: e se deixarmos que nossos desejos sejam superados pelo desejo Deus. Não seria uma maravilha?