No mundo protestante, a questão do batismo é motivo de divergências doutrinárias consideráveis. Enquanto luteranos, metodistas e anglicanos defendem uma compreensão sacramental muito próxima à católica — vendo o batismo como um verdadeiro meio de comunicação da graça divina —, outras confissões reformadas o reduzem a um mero rito simbólico, uma expressão pública de adesão à fé.
Contudo, ao examinarmos o Novo Testamento com atenção, não encontramos nenhuma passagem que afirme que o batismo é apenas um símbolo. Pelo contrário, a Escritura é clara e abundante em declarar o batismo como um meio de graça, remissão dos pecados e caminho ordinário para a salvação.
Testemunho da Escritura sobre o batismo
A necessidade do batismo é afirmada pelo próprio Cristo. Em Marcos 16,16, Ele declara: “Quem crer e for batizado será salvo”. E em João 3,5, Jesus diz a Nicodemos: “Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no Reino de Deus”.
Essas palavras demonstram que o batismo não é apenas um sinal exterior, mas um nascimento espiritual, uma verdadeira participação na vida divina.
O livro dos Atos dos Apóstolos também confirma isso em várias ocasiões:
- “Cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados” (Atos 2,38).
- “Levanta-te. Recebe o batismo e purifica-te dos teus pecados” (Atos 22,16).
A linguagem é direta: o batismo purifica, redime, regenera. São Paulo reforça essa doutrina ao escrever a Tito: “Ele nos salvou mediante o batismo da regeneração e da renovação pelo Espírito Santo” (Tito 3,5). Aqui, o Apóstolo dos Gentios associa o batismo não a um ato simbólico, mas ao próprio momento da salvação e da obra santificadora do Espírito.
São Pedro, por sua vez, ao recordar o episódio do dilúvio, afirma: “Essa água prefigurava o batismo de agora, que salva também a vós” (1Pedro 3,21). O texto é inequívoco: o batismo salva.
O batismo como meio ordinário de salvação
Diante dessas evidências, a Igreja Católica ensina, com base na Revelação, que o batismo é necessário para a salvação (cf. Catecismo da Igreja Católica, 1257). Isso não significa que Deus esteja preso aos sacramentos, mas que nós estamos obrigados a recebê-los, pois foram instituídos por Cristo como meios ordinários de salvação.
Recusar conscientemente o batismo, sabendo que ele foi ordenado por Cristo como meio de acesso à vida nova, é rejeitar a salvação nos termos que Deus determinou. Como escreveu Santo Irineu: “Onde está a Igreja, lá está o Espírito de Deus; e onde está o Espírito de Deus, lá está a Igreja e toda graça” (Adversus Haereses).
E os que morrem sem o batismo?
A pergunta é legítima: e aqueles que, sem culpa própria, morrem sem receber o batismo? A Igreja responde com confiança na misericórdia divina. Deus pode agir extraordinariamente fora dos sacramentos, e não exclui da salvação aqueles que, sem conhecer o Evangelho, procuram sinceramente a verdade e fazem a vontade de Deus conforme a compreendem (cf. CIC 1260).
Conclusão: Um sacramento de vida eterna
O batismo é, portanto, muito mais do que um rito simbólico. Ele é o sacramento da fé, da purificação, do renascimento, da incorporação a Cristo e à Igreja. Através dele, participamos da morte e ressurreição de Cristo, tornamo-nos filhos de Deus e templos do Espírito Santo.
Negar o caráter salvífico do batismo é negar o ensinamento claro das Escrituras e da Tradição apostólica. Por isso, devemos valorizar profundamente esse sacramento, reconhecer sua necessidade e anunciá-lo com fidelidade.
Afinal, foi o próprio Senhor quem disse: “Ide, pois, fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).