A crucificação de Jesus é, para muitos, um mistério desconcertante. Por que Deus escolheria salvar a humanidade por meio do sofrimento atroz de Seu Filho? Não seria irracional esse caminho? Ele não poderia simplesmente nos perdoar sem tamanha dor?
Sim, Deus é onipotente e poderia ter escolhido qualquer outro meio para nos redimir. Um simples sorriso de Jesus, mesmo quando ainda criança, teria valor infinito diante de Deus e poderia, por si só, resgatar toda a humanidade. No entanto, Deus não age apenas com poder, mas também com sabedoria e amor. E foi justamente por sabedoria e amor que Ele escolheu a cruz. A seguir, três razões profundas para essa escolha.
1. Um Sacrifício Compreensível a Todos os Povos
O tema do sacrifício é universal. Em todas as culturas antigas encontramos a prática de oferecer sacrifícios a alguma divindade, seja para pedir perdão, agradecer ou demonstrar reverência. Essa realidade está inscrita na natureza humana. Ao se apresentar como sacrifício, Jesus fala a uma linguagem que todos os povos, de todos os tempos, podem entender.
Na cruz, Jesus se entrega como o sacrifício definitivo. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (cf. Jo 1,29). Todos os sacrifícios anteriores, tanto no judaísmo quanto nas outras religiões, apontavam para esse ato supremo de amor e redenção.
2. A Seriedade do Pecado e a Profundidade do Amor
O sacrifício da cruz revela, de forma dramática, duas verdades fundamentais: a gravidade do pecado e a imensidão do amor de Deus.
Ao permitir que Seu Filho fosse crucificado, Deus nos mostra o quanto o pecado é uma ofensa séria à Sua santidade. A morte do Filho de Deus foi o preço da nossa redenção. Isso nos faz refletir profundamente sobre as consequências de nossas faltas.
Mas, ao mesmo tempo, a cruz é a prova máxima do amor divino. “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Jesus aceitou livremente a cruz por amor a nós. É um amor que não se escandaliza com nossas misérias, mas se oferece como remédio para elas.
3. O Cumprimento da Páscoa Judaica
Para os judeus, a Páscoa era a celebração da libertação do Egito, marcada pelo sacrifício do cordeiro pascal. Esse evento foi uma prefiguração da verdadeira Páscoa que se realizaria em Cristo.
Na cruz, Jesus é o novo Cordeiro imolado. Sua morte coincide com a celebração da Páscoa judaica, não por acaso, mas por desígnio divino. Por meio de Seu sacrifício, somos libertos da escravidão do pecado e conduzidos para a vida eterna. Como escreveu São Paulo: “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado” (1Cor 5,7).
Conclusão: A Sabedoria da Cruz
A crucificação não foi uma escolha irracional, mas profundamente racional e amorosa. Deus não se limita a perdoar com um gesto qualquer, mas escolhe um caminho que fala à humanidade de forma universal, que revela a gravidade do pecado, o alcance do amor divino e o cumprimento das promessas da Antiga Aliança.
Por isso, para nós cristãos, a cruz não é escândalo nem loucura, mas poder e sabedoria de Deus (cf. 1Cor 1,18-24). E nela encontramos a plena revelação do amor redentor do Pai, realizado no Filho, pela graça do Espírito Santo.