Três Problemas Práticos do Sola Scriptura

O princípio do Sola Scriptura, segundo o qual somente a Sagrada Escritura é a autoridade suprema em matérias de fé e moral, é um dos pilares da Reforma protestante. Contudo, apesar de sua aparente simplicidade e atratividade, esse princípio se mostra impraticável, autocontraditório e causador de diversos problemas eclesiológicos e pastorais. Neste artigo, vamos explorar três dos principais problemas práticos que emergem dessa doutrina.

1. Anarquia Hermenêutica

Um dos frutos mais visíveis do Sola Scriptura é a anarquia interpretativa que ele gera. Com base nesse princípio, cada indivíduo ou grupo se sente autorizado a interpretar a Escritura por conta própria, sob a alegada iluminação do Espírito Santo. O resultado disso é o surgimento de milhares de denominações protestantes, com doutrinas contraditórias, todas afirmando basear-se exclusivamente na Bíblia.

Esse caos doutrinal revela a fragilidade prática do Sola Scriptura. Como pode ser um princípio confiável aquele que, ao ser seguido, leva inevitavelmente à divisão e à confusão? G.K. Chesterton, com sua sagacidade, afirmou: “A Bíblia não pode ser o acordo quando ela é a causa do desacordo”. De fato, sem uma autoridade visível que interprete autenticamente a Escritura, a unidade da fé torna-se inalcançável.

2. Sectarismo e Denominacionalismo

Outro problema grave do Sola Scriptura é sua incapacidade de definir com precisão quais doutrinas são centrais e obrigatórias para os cristãos. Como não existe um critério objetivo fora da Escritura para determinar o “essencial” da fé, surgem diversas interpretações sobre quais ensinamentos devem ser considerados centrais e quais são secundários.

O próprio conceito de Sola Scriptura é entendido de formas diferentes entre os protestantes. Alguns acreditam que apenas doutrinas expressas explicitamente na Bíblia devem ser aceitas; outros admitem doutrinas que estão implicitamente contidas; há ainda quem inclua a tradição reformada como critério hermenêutico. Isso gera um ciclo de divisões, com comunidades se separando continuamente, cada uma alegando ter a interpretação correta.

3. Deterioração da Autoridade e da Disciplina Pastoral

No contexto do Sola Scriptura, também se fragiliza a autoridade dos pastores e líderes eclesiais. Quando um fiel se opõe ao ensinamento ou correção de seu líder espiritual, ambos podem alegar basear-se na Escritura, “com a assistência do Espírito Santo”. Mas quem decide quem está certo? Sem uma autoridade visível e unificadora, como a do Magistério da Igreja Católica, não há critério definitivo para resolver essas questões.

Esse problema eclesiológico demonstra que a Bíblia, por si só, não basta como instrumento de unidade e disciplina na Igreja. A ausência de um Magistério autêntico leva à fragmentação e ao relativismo doutrinal, onde cada indivíduo se torna “papa de si mesmo”.

O Fracasso do Sola Scriptura na Prática

O Sola Scriptura é indefensável: é antibíblico, não possui respaldo histórico, e é a raiz do caos eclesiológico que se observa no mundo protestante. A Igreja Católica, com sabedoria e fidelidade à Tradição Apostólica, nunca aceitou esse princípio. Desde os tempos dos Apóstolos, a Revelação divina sempre foi transmitida por meio da Escritura e da Tradição, interpretadas pelo Magistério.

Nós, católicos, devemos estar atentos para não nos deixarmos influenciar por esse erro. A fé verdadeira exige uma unidade que só pode ser garantida pela autoridade instituída por Cristo: a Sua Igreja, coluna e sustentáculo da verdade (cf. 1Tm 3,15).