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Unidade e Trindade de Deus

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Como é que são três?

Nenhum de nós gostaríamos de ter de explicar um problema de física quântica ou nuclear para uma criança de cinco anos. Na verdade, isso seria impossível, haja vista existir uma imensa distância entre a inteligência de uma criança de cinco anos e os avanços da física moderna. Para que serve essa comparação boba? Bom, se conseguimos imaginar a diferença entre o conhecimento da criança em relação àquele da ciência, podemos fazê-lo também relacionando a mente humana – ainda que a mais brilhante delas – e a verdadeira natureza de Deus. Se a primeira distância é imensa, a segunda é infinita. A mente humana tem um limite para aquilo que pode conhecer e, como vimos no segundo encontro, Deus é infinito; logo é impossível ao ser humano – em seu intelecto – alcançar a Deus em suas profundidades. 

Por isso, quando Deus revela-se a nós, Ele precisa contentar-se em apenas revelar-nos qual é aquela verdade que está revelando. O “como”, a essência, daquilo que Deus nos revela está fora do nosso alcance nesta vida, por isso nem Deus explica-as para nós. 

E uma dessas verdades reveladas por Deus, que já foi tratada por centenas de tratados teológicos, é a que diz que, havendo um só Deus, existem n’Ele três Pessoas divinas – Pai, Filho e Espírito Santo. A natureza divina é uma, mas há três Pessoas divinas. O Padre Leo Trese, referência para nossas catequeses, diz:

No plano humano, “natureza” e “pessoa” são praticamente uma e mesma coisa. Se num quarto há três pessoas, três naturezas humanas estão lá presentes; se estivesse presente uma só natureza humana, haveria uma só pessoa.

(TRESE; 1999; p. 26)

Diz São Pio X em seu Catecismo Menor:

37. O que significa “Unidade de Deus”?
Unidade de Deus significa que existe um único Deus. 

38. O que significa “Trindade de Deus”?
Trindade de Deus significa que em Deus existem três Pessoas iguais e realmente distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. 

Assim, o ato de pensarmos em Deus como três Pessoas e uma só natureza é como dar um soco em ponta de faca. 

A essas verdades reveladas por Deus, que fogem da capacidade cognoscente – isto é, a capacidade que tem de conhecer a algo – do nosso intelecto, chamamos de mistérios da fé. Cremos nelas, porque foram reveladas a nós por Deus. Mas só poderemos compreendê-las de maneira integral e apreender a sua essência, quando Deus manifestar-se plenamente a nós, no céu.

O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. E, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé e a luz que os ilumina.

(CIC, 234)

Mais uma vez, citamos São Pio X:

40. Nós compreendemos como as três Pessoas divinas, embora realmente distintas, são um único Deus?
Nós não compreendemos nem podemos compreender como as três Pessoas divinas, embora realmente distintas são um único Deus: é um mistério.

Fica claro que é Doutrina da Igreja que a Trindade seja um mistério da fé. Não podemos compreendê-la, mas o teólogos, ao longo dos séculos, nos deram pequenos esclarecimentos sobre a sua natureza. Desse modo, eles (os teólogos) explicam que a distinção entres as pessoas divinas se dá através da relação que existe entre elas. 

Temos Deus Pai, que contempla a Si mesmo na sua própria mente divina, vendo-se como Ele realmente é. Nós também fazemos isso, algumas vezes, quando concentramos o olhar em nosso interior e formamos um pensamento sobre a nossa própria pessoa. 

Mas o modo como conhecemos a nós mesmos é deveras imperfeito, se comparado com o modo que Deus conhece a Si mesmo. Mas, mesmo que nos conhecêssemos de maneira perfeita; isto é, ainda que o conceito que temos acerca de nós mesmos fosse perfeito, ele não poderia sair do nosso interior. Explica o Pe. Leo:

O pensamento deixaria de existir, mesmo em minha mente, tão logo eu voltasse a minha atenção para outra coisa. A razão é que a existência e a vida não são parte necessária de um retrato meu. Houve um tempo em que eu não existia em absoluto, e hoje eu voltaria imediatamente ao nada se Deus não me mantivesse na existência.

(TRESE; 1999; p.27)

Mas com Deus a situação é outra: Como vimos no segundo encontro, a natureza de Deus é existir. Só podemos concebê-lo de maneira adequada dizendo que ele é o Ser que nunca teve princípio, que foi e sempre será. A definição correta de Deus é aquela que Ele mesmo deu-nos no livro do Êxodo: “Eu sou Aquele que É” (Ex 3, 14). 

Diz o Catecismo da Igreja Católica:

Ao revelar o seu nome misterioso de YAHWEH (Javé), «Eu sou Aquele que É», ou «Eu sou Aquele que Sou», ou ainda «Eu sou quem Eu sou», Deus diz Quem é e com que nome deve ser chamado. Este nome divino é misterioso, tal como Deus é mistério. E, ao mesmo tempo, um nome revelado e como que a recusa dum nome. É assim que Deus exprime melhor o que Ele é, infinitamente acima de tudo o que podemos compreender ou dizer: Ele é o «Deus escondido» (Is 45, 15), o seu nome é inefável (7), e é o Deus que Se faz próximo dos homens.

(CIC; 206)

Se o conceito que Deus possui de Deus de Si mesmo é um pensamento perfeito, necessariamente ele (o pensamento) deverá incluir a existência, já que existir é próprio da natureza de Deus. Por isso, a imagem que Deus vê de si mesmo, o Pensamento vivo em que Deus expressa a Si mesmo de maneira perfeita, a Palavra silenciosa com que Deus, na eternidade, expressa a Si mesmo chamamos de Deus Filho.

Deus Pai é Deus conhecendo-se a Si mesmo; Deus Filho é a expressão do conhecimento que Deus tem de Si. Assim, a segunda Pessoa da Santíssima Trindade é chamada Filho, precisamente porque é gerada desde toda a eternidade, engendrada na mente divina do Pai. Também a chamamos Verbo de Deus, porque é a “Palavra mental” em que a mente divina expressa o pensamento sobre Si mesmo.

(TRESE; 1999; p.28)

Deus Pai e Deus Filho contemplam a natureza que possuem em comum. Ao contemplarem essa natureza, veem tudo o que há de bom e belo; tudo aquilo que é capaz de produzir o amor em seu grau mais perfeito. Essa contemplação gera um ato de amor infinito. E o amor de Deus sobre Si mesmo, assim como o conhecimento de Deus sobre Si mesmo, precisa ser vivo. Este amor perfeito, infinito, intenso, que é gerado pela eterna relação existente da relação entre Deus Pai e Deus Filho, é quem chamamos de Deus Espírito Santo.

São Pio X resume a relação entre as três Pessoas divinas da seguinte forma:

44. Por que o Pai é a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade?
O Pai é a Primeira Pessoa da Santíssima Trindade porque não procede de outra Pessoa e d’Ele procede as outras duas, isto é, o Filho e o Espírito Santo.

45. Por que o Filho é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade?
O Filho é a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade porque é gerado pelo Pai e é, conjuntamente com o Pai, princípio do Espírito Santo.

46. Por que o Espírito Santo é a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade?
O Espírito Santo é Terceira Pessoa da Santíssima Trindade porque procede do Pai e do Filho. 

Se diante do conceito da Trindade nos sentimos perdidos e confusos, não temos porque ficarmos chateados ou frustrados por isso. Como já foi dito, este é um mistério de fé. Nem mesmo a mais brilhante das mentes humanas, nem o maior dos teólogos poderia compreendê-lo realmente. 

Não podemos nos frustrar por haver mistérios. Isso é próprio dos soberbos que acham serem capazes de abarcar em si mesmos o infinito e a insondável natureza de Deus. 

Mas há um erro que podemos cair quando falamos na Trindade: não podemos pensar que Deus Pai “veio primeiro” que as outras duas Pessoas. As três divinas Pessoas são igualmente eternas, porque são da mesma natureza divina. Deus Filho e Deus Espírito Santo não são subordinados ao Pai; nenhuma das Pessoas tem mais poder, sabedoria ou amor do que as outras. As três são igualmente perfeitas. 

Sobre isso, nos ensina São Pio X:

49. As três pessoas divinas são iguais, ou há uma maior, mais poderosa e mais sábia? 
Sendo um único Deus, as três Pessoas divinas são iguais em tudo e têm igualmente em comum toda a perfeição e toda operação; se bem que certas perfeições e as obras correspondentes atribuem-se mais a uma pessoa que à outra, como poder e a criação ao Pai. 

Sobre atribuirmos mais certas perfeições e suas obras correspondentes a um Pessoa que às outras, diz São Pio X, desta vez em seu Catecismo Maior:

30. Por que então a criação se atribui particularmente ao Pai? 
Atribui-se a criação particularmente ao Pai porque a criação é feito da onipotência divina, a qual se atribui particularmente ao Pai, como se atribui a sabedoria ao Filho e a bondade ao Espírito Santo, embora todas as três Pessoas tenham a mesma onipotência, sabedoria e bondade. 

Deus Pai é o Criador, Deus Filho é o Redentor, Deus Espírito Santo é o Santificador. Mas, apesar disso, o que Um deles faz, Todos o fazem; onde Um está, estão os Três.

Toda a economia divina é obra comum das três pessoas divinas. Assim como não tem senão uma e a mesma natureza, a Trindade não tem senão uma e a mesma operação.

(CIC, 258)

Este é o mistério da Santíssima Trindade. A Unidade Trina, a fonte de todo amor. Que vive em uma eterna felicidade. Felicidade que nos espera e que somos chamados a viver um dia, no céu.


  • Catecismo da Igreja Católica;
  • Catecismo Menor de São Pio X;
  • Catecismo Maior de São Pio X;
  • TRESE; Leo John. A fé explicada / Leo J. Trese; tradução de Isabel Perez. – 7ª ed. –
  • São Paulo: Quadrante, 1999.
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