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Que eles sejam um

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Compreendendo o escândalo da Igreja da Alemanha

Com a publicidade que foi dada aos acontecimentos dos dois últimos anos envolvendo a Igreja da Alemanha, julguei oportuno escrever um artigo sobre o assunto. A princípio tentei fazê-lo breve, mas a autocobrança por proporcionar um conteúdo de qualidade, digno da atenção de meus leitores, fez-me ocupar generosas páginas. 

Partindo dos fatos, farei uma análise das causas do escândalo e das possíveis conseqüências que podemos esperar, indicando o que a situação exige especificamente de nós, os fiéis leigos. O artigo serve também como uma boa catequese sobre temas importantes, e muitas são as referências que deixei para o aprofundamento do estudo. De tudo o que será dito, julgo que o mais importante será a breve reflexão sobre a importância da unidade da Igreja para a nossa própria salvação, pois infelizmente ainda há quem julgue que um fato dessa natureza não é um chamado à conversão.

Tomei conhecimento desse assunto na noite de sábado, após ter assistido a live de fechamento da jornada de apologética promovida pelo apostolado Cooperadores da Verdade. Maravilhado pelo testemunho do ex-pastor protestante Eduardo Faria, que ouviu o chamado do Espírito Santo para converter-se à Fé Católica, não podia eu imaginar que um contra-testemunho tão grande estava prestes a ocupar a maior parte de meus pensamentos pelos dias que se seguiram.

Movido que sou por uma tendência de sempre procurar estar atento aos “sinais da figueira”, conforme o ensinamento do Divino Mestre, vejo-me como que vivendo duas vidas quando me deparo com situações como a que está acontecendo na Igreja da Alemanha: Por fora, vou vivendo e cumprindo todas as minhas obrigações, mas por dentro não cesso de ruminar toda aquela realidade e invariavelmente me vejo conjecturando o que eu poderia fazer a respeito.

Aqui é necessário cautela, tanto para que você, meu caro leitor, não pense ser esse o modo mais correto de se proceder e também para que você tenha bem claro o conteúdo desses pensamentos. 

Em primeiro lugar, deve-se ter cuidado com o julgamento que todos os fatos terríveis que acontecem anunciam a iminente volta do Messias. Esse tipo de pensamento é temerário porque Jesus nos disse que não nos é dado conhecer os momentos que o Pai fixou em seu poder (At 1, 7), embora tenha nos exortado a sempre estarmos atentos aos sinais para tomarmos as medidas que os tempos exigem, segundo a sabedoria do Evangelho (Lc 21 29-31). 

Lendo-se atentamente o Novo Testamento, perceberemos que sempre foi uma constante entre os fiéis, incluindo os próprios Apóstolos, que era iminente a volta de Cristo. Dois mil anos se passaram, e ainda esperamos o Divino Salvador. Esse pensamento, no entanto, não nos abandonou, e o milenarismo que da esperança messiânica se segue é origem de muitos erros (alguns deles heréticos, diga-se de passagem).  Também é por uma desordem nesse tipo de pensamento que se dá voz a muitos que se apresentam como profetas e que acabam por serem desacreditados na prova do tempo.

Em segundo lugar, note que meus pensamentos não divagam sobre o que deve o Santo Padre ou as demais autoridades da Igreja fazerem, mas àquilo que eu posso fazer. Não cabe a mim (e provavelmente também não cabe a você) deliberar sobre as medidas que devem ser tomadas por tais pessoas, pois nós ignoramos a maior parte das circunstâncias concretas que envolvem decisões dessa natureza. Há um grande mal que encontra abrigo nos corações zelosos pela Fé: Achar que tudo deve ser resolvido com maior rigor, “como era lá atrás”.

Tenho aprendido que a humildade tem seu lugar quando não pensamos no que faríamos em uma posição que jamais ocuparemos. Já ouvi de recém-convertido leigo que faria isto ou aquilo se estivesse no lugar do Papa para tomar esta ou aquela decisão. Confesso que ouvir uma coisa dessas me faz arregalar os olhos. Penso comigo: Será que ele não enxerga a vanglória em uma fala desse tipo? Em bom português: “Quem ele pensa que é?”.

Que contra-testemunho é esse a que eu me referi no início? Depois de ter assistido a live dos Cooperadores, acessei o YouTube para assistir um vídeo com tarja de urgência de um instituto católico chamado Centro Dom Bosco. O título do vídeo é “O clero alemão incorre em cisma ao promover a ‘bênção dos apaixonados’”? 

Vamos entender um pouco melhor.

Em 2019, teve início na Alemanha o que foi chamado Caminho Sinodal. A primeira distinção que deve ser feita é entre um denominado caminho sinodal e um Sínodo propriamente dito. O Sínodo, segundo a Constituição Dogmática Lumen Gentium, n. 22, é a reunião dos Bispos que, tendo à frente o Bispo de Roma (o Papa), deliberam sobre questões que devem vincular toda a Igreja Universal. Aqui ganham especial relevo as matérias de fé (o que se deve crer) e de moral (o que é lícito ou não fazer), mas não somente isso. As questões de maior relevância da Igreja são geralmente decididas através dos Sínodos, uma vez que compete aos Bispos da Igreja em união ao Bispo de Roma o exercício dos poderes conferidos à Igreja pelo próprio Senhor Jesus Cristo, segundo o que dispõe o Evangelho:

Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo o que desligares na terra será desligado no céu.

(Mt 16, 19)

Essa participação no Bispo do múnus conferido por Cristo a S. Pedro está presente na referida Constituição, embora ela mesma ressalte por diversas vezes que a primazia sempre foi a de S. Pedro, e que os Bispos do mundo todo nada podem definir se não forem para isso convocados e presididos pelo Santo Padre. Mesmo nesse caso, é necessário que o Santo Padre confirme o Concílio:

[…] é sabido que o encargo de ligar e desligar conferido a Pedro (Mt. 16,19), foi também atribuído ao colégio dos Apóstolos unido à sua cabeça (Mt. 18,18; 28, 16-20).

Nunca se dá um Concílio Ecumênico sem que seja como tal confirmado ou pelo menos aceite pelo sucessor de Pedro; e é prerrogativa do Romano Pontífice convocar estes Concílios, presidi-los e confirmá-los.

Se estamos falando na Constituição Lumen Gentium, é necessário deixar claro desde já que um Sínodo: 

“enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus e, enquanto reunido sob uma só cabeça, revela a unidade do redil de Cristo”.

Tão grande é a importância dada pela Igreja ao tema, que no Concílio Vaticano I a primazia de S. Pedro foi declarada dogma de Fé, deixando claro que aquele que contrariar tal realidade incorre no terrível pecado de heresia. É o que está escrito na Constituição Dogmática Pastor Aeternus:

Se, pois, alguém disser que o Apóstolo S. Pedro não foi constituído por Jesus Cristo príncipe de todos os Apóstolos e chefe visível de toda a Igreja militante; ou disser que ele não recebeu direta e imediatamente do mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo o primado de verdadeira e própria jurisdição, mas apenas o primado de honra, seja excomungado.

Eis aí demonstrado o motivo da necessidade da primazia do sucessor de S. Pedro: a unidade da Igreja. Sobre esse assunto, que para mim é o que tem maior importância em toda essa discussão, falarei ao final.

Espero que até aqui você, meu caro leitor, tenha entendido que o que teve início na Alemanha no ano de 2019 não é um Sínodo, mas sim um movimento de membros do Clero e fiéis leigos para deliberarem alguns assuntos que julgam importantes. O nome dado por eles mesmos ao movimento é Caminho Sinodal. Nesse nome eu vejo uma intenção: Fazer com que os temas propostos fossem levados à discussão da Igreja Universal por meio de um Sínodo. Longe de mim afirmar que essa intenção exista na cabeça do Santo Padre! Só ao Papa Francisco compete hoje convocar um Sínodo e, como veremos, ele agiu conforme o Magistério da Igreja em todos os pronunciamentos que fez a respeito do Caminho Sinodal da Alemanha.

Veja o que diz um excerto de uma matéria da Unisinos publicada no dia 3 de julho de 2019, intitulada “Carta do Papa à Igreja alemã: elogio e leve crítica”:

Sob a pressão do escândalo dos abusos, os bispos católicos finalmente deram início de um “percurso sinodal vinculante” para a renovação da Igreja.

O Professor Pedro Affonseca, no vídeo do Centro Dom Bosco que mencionei anteriormente, relata que o Papa Francisco, vários Cardeais e vários Bispos alertaram, no ato de convocação do Caminho Sinodal, “que não poderiam ser discutidos assuntos relacionados e da competência da Igreja Universal” [4:40]. No entanto, em um ato de loucura (e que não me censurem os que são mais cautelosos que eu no uso das palavras, pois para mim desafiar os dogmas da Igreja é loucura), o Caminho Sinodal se pôs a discutir quatro temas que não poderiam, de modo algum, ser objeto de deliberação pelo Clero local. São eles:

  1. O poder na Igreja
  2. A moral sexual
  3. O celibato sacerdotal
  4. A ordenação de mulheres

Veja o que está na mesma matéria da Unisinos que mencionei acima:

Deveremos tratar principalmente dos temas: poder, moral sexual da Igreja e forma de vida dos sacerdotes

Tentarei falar em poucas linhas o que pretende o Caminho Sinodal alcançar nesses quatro pilares de discussão, demonstrando como todas as inovações pretendidas são impossíveis pelo fato de se levantarem contra dogmas já estabelecidos pela Igreja que são, por sua própria natureza, impassíveis de modificação.

Na discussão sobre o poder, o questionamento se levanta contra a estrutura hierárquica em vigor desde o nascimento da Igreja. Como sabemos, a Igreja não é uma oligarquia, muito menos uma democracia, e sim uma monarquia. Do Santo Padre sempre será a palavra final, e não somente quando se pronunciar ex cátedra a respeito da fé e da moral, mas em qualquer circunstância e sobre qualquer assunto. O Santo Padre tem o pleno e supremo poder de jurisdição sobre toda a Igreja! É o que diz a Constituição Dogmática Pastor Aeternus:

Se, pois alguém disser que ao Romano Pontífice cabe apenas o ofício de inspeção ou direção, mas não o pleno e supremo poder de jurisdição sobre toda a Igreja, não só nas coisas referentes à fé e aos costumes, mas também nas que se referem à disciplina e ao governo da Igreja, espalhada por todo o mundo;ou disser que ele só goza da parte principal deste supremo poder, e não de toda a sua plenitude; ou disser que este seu poder não é ordinário e imediato, quer sobre todas e cada uma das igrejas quer sobre todos e cada um dos pastores e fiéis, seja excomungado.

O que se pretende com esse questionamento? Instaurar um regime análogo ao democrático dentro da Igreja, de modo que as decisões sejam tomadas conjuntamente entre todos os fiéis. Não sei dizer ao certo como isso se daria no pensamento deles – se por representação, voto direto ou até mesmo ambos – mas fato é que o sistema monárquico é considerado pelos defensores dessa pauta como “ultrapassado”.

Acontece que o exercício do poder na Igreja não é algo que pode ser modificado, segundo o que eu entendo, embora eu devo confessar que não sou um grande estudioso do assunto. Nem por isso tomo a minha opinião por indigna de crédito, pois eu a julgo bem consistente. Jesus Cristo, após a profissão de Fé de S. Pedro, concedeu-lhe primeiramente o que chamamos “o poder das chaves”, conforme o trecho do Evangelho de S. Mateus que citei anteriormente. Mesmo tendo o Concílio Vaticano II definido na Constituição Lumen Gentium que esse poder se estende aos demais Apóstolos, a mesma Constituição não pode contrariar o que está disposto na Pastor Aeternus, de modo que fica subentendido, pela hermenêutica da continuidade, que a palavra final sempre será a do sucessor de S. Pedro.

Uma objeção que levantam contra isso é a de que Cristo agiu segundo os costumes da época. Os defensores dessa tese dizem que a democracia moderna era um regime impensável à época, pelo que Cristo teve de dispor as coisas de tal modo, como muitas vezes vemos nas Sagradas Escrituras medidas que foram tomadas por questões circunstanciais, mais notadamente no Antigo Testamento. 

Acontece que somente o próprio Deus pode revogar aquilo que foi por ele disposto outrora, não cabendo a ninguém, nem mesmo ao Santo Padre e a todos os Bispos do mundo em união a ele, colocar-se acima da Palavra do próprio Deus. Por maior que tenha sido o poder confiado a S. Pedro, nunca puderam ele e seus sucessores, segundo o Mgistério da Igreja, acrescentar, suprimir ou alterar qualquer texto das Sagradas Escrituras, tampouco alterar a Lei Natural (apenas para citar duas dentre todas as limitações).

A Lei de Moisés foi revogada no que diz respeito às leis cerimoniais, aos ritos, aos sacrifícios expiatórios e à observância estrita do sábado, mas isso tudo porque Jesus Cristo revogou todas essas coisas expressamente, sendo Ele mesmo Deus. No entanto, o mesmo Cristo foi claro quando disse que a Lei em seu conteúdo estritamente moral não foi abolida, tendo recebido seu pleno sentido no mandamento do amor (Mt 22 37-40).  S. Paulo explica o motivo de modo bem sucinto: Aquele que ama não mata, não rouba, não comete adultério, não levanta falso testemunho etc. (Rm 13, 9 e Gl 5, 14).

Parece-me que o modo como Cristo organizou sua Igreja é definitivo e acabado, devendo permanecer assim por toda a Eternidade. Parece extremo falar isso, uma vez que não podemos compreender com clareza como se darão as coisas na Vida Eterna, mas fato é que a interpretação anagógica de um dos dizeres de Jesus Cristo dá uma idéia disso:

Em verdade vos digo: No dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória, vós, que haveis me seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel (Mt 19, 28).

Portanto, para mim é impossível modificar a monarquia eclesial, pois ela foi instituída de modo definitivo pelo próprio Cristo.

O segundo ponto de discussão é a moral sexual. O questionamento que se levanta é sobre a possibilidade de concessão de bênção sacerdotal e recepção da comunhão eucarística por parte de pessoas que mantém relações sexuais ilícitas. Como sabemos, a relação sexual entre duas pessoas do mesmo sexo e qualquer relação sexual fora do matrimônio legítimo são consideradas pela Igreja como um pecado grave, não havendo parvidade de matéria nesse assunto. 

Em relação ao casamento, a Igreja entende ser impossível a dissolução de um matrimônio contraído validamente, tendo Nosso Senhor Jesus Cristo dito que “são os dois uma só carne” e que “o que Deus uniu não separe o homem” (Mt 19, 6). 

Novamente, voltamos às limitações dos poderes conferidos a S. Pedro por Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja tem poder de disciplinar as condições necessárias para a celebração do Sacramento do Matrimônio, como de fato o faz, mas não tem o poder de desfazer o caráter que é imprimido na pessoa pelo mesmo Sacramento. Se o fizesse, estaria contrariando a própria realidade criada por Deus. Nesse ponto, espero que não haja confusão entre o divórcio e a anulação de um casamento.

Isso quer dizer que as pessoas casadas que, tendo se separado (ou até mesmo divorciado pela lei civil), relacionam-se com outras, estão em pecado de adultério, independentemente de terem se casado novamente pela lei civil. Jesus Cristo deixou isso bem claro quando disse:

Eu vos digo que todo aquele que repudia sua mulher, exceto no caso de matrimônio ilegítimo, e desposa outra, comete adultério. E aquele que desposa uma mulher rejeitada, comete também adultério (Mt 19, 9).

Sobre a homossexualidade, claras são as palavras do Apóstolo, sagradas como canônicas pela Igreja:

Acaso não sabeis que os injustos não hão de possuir o Reino de Deus? Não vos enganeis: nem os impuros, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os devassos, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus (I Co 6 9-10). 

Isso quer dizer que todos os que se sentem sexualmente atraídos por pessoas do mesmo sexo estão condenados ao inferno? Jamais! Lembremos sempre que só há pecado onde há consentimento. Um heterossexual entregue às paixões sexuais e que morra sem arrependimento será condenado ao inferno, ao passo que um homossexual casto que morra em estado de graça será admitido no Reino de Deus.

Em resumo, a Santa Lei de Deus proíbe toda e qualquer relação sexual fora do matrimônio legítimo, e tal matrimônio só pode existir entre homem e mulher. Vários são os motivos para isso, que estão inclusive ancorados na própria Lei Natural, mas não é o objetivo desse artigo dar uma explicação detalhada sobre o assunto. Aos que se interessarem pelo aprofundamento na matéria, peço que falem comigo pelo direct do Instagram (@aduccineto) para que eu encaminhe os bons materiais de que disponho. 

O que se pretende com o questionamento da moral? A modificação do núcleo básico da sociedade e da própria Igreja, que é a família. Modificação é uma palavra suave, para dizer bem a verdade. A conseqüência de semelhante “moral” é a destruição completa da família. A história do mundo nos últimos 100 anos não me deixa mentir: Inicia-se com o divórcio, termina-se em genocídio (eutanásia, aborto etc.).

Novamente eu digo: Isso talvez não fique claro pelos poucos argumentos que estou apresentando nesse artigo. É necessário aprofundar-se no assunto. Por isso sugiro aos que ainda não compreendem bem a razão de ser de todas essas coisas que me procurem no Instagram.

A comunhão eucarística por pessoas que vivem em pecado grave é um pecado de sacrilégio, isto é, pecado gravíssimo. Sempre se entendeu dessa maneira. Os Santos Padres eram inclusive resistentes à ideia da comunhão diária, tamanho o zelo que tinham pelo Sacramento do Corpo e Sangue de Cristo. Desde o início da cristandade os Apóstolos ensinam isso, como podemos ver na exortação de S. Paulo aos Coríntios:

Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpável do corpo e do sangue do Senhor. Que cada um examine a si mesmo e, assim, coma desse pão e beba desse cálice. Aquele que o come e o bebe sem distinguir o corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação. Essa é a razão por que entre vós há muitos adoentados e fracos, e muitos mortos (I Co 11 27-30).  

Como são peremptórias as palavras do Apóstolo! É muito semelhante ao que Deus disse a Adão e Eva no Jardim do Éden: “Se comerdes dele [do fruto da árvore da ciência do bem e do mal], certamente morrereis” (Gn 2, 17). Imagine você que há um alimento no mundo que todo aquele que come torna-se imediatamente réu do fogo do inferno. Esse alimento existe, e é a Hóstia consagrada para aqueles que a recebem tendo na consciência pecado grave. Evidentemente que para tudo há perdão até o último suspiro, mas ai daquele que morrer nesse estado!

Sobre a bênção sacerdotal aos pares homoafetivos, a Congregação pela Doutrina da Fé manifestou-se dizendo que não há qualquer possibilidade. A explicação dada é que as bênçãos sacerdotais são sacramentais que, “instituídas de certo modo à imitação dos sacramentos, reportam-se sempre e principalmente a efeitos espirituais, que se obtêm por impetração da Igreja”.

Continua dizendo que tais bênçãos, para guardar coerência com a natureza própria dos sacramentais, “devem ser aplicadas somente sobre aquilo que é objetiva e positivamente ordenado a receber a exprimir a graça, em função dos desígnios de Deus inscritos na criação e plenamente revelados por Cristo Senhor”. Sendo assim, “não é possível conceder uma bênção a relações, ou mesmo a parcerias estáveis, que implicam uma prática sexual fora do matrimônio, como é o caso das uniões entre pessoas do mesmo sexo”.

Em suma, a Carta Resposta conclui dizendo que não é possível à Igreja abençoar o pecado, o que é evidente. Para ler a íntegra do documento acesse: https://bit.ly/resposta-cdf.

No final da Carta está escrito o seguinte:

O Sumo Pontífice Francisco, no curso de uma Audiência concedida ao abaixo assinado Secretário desta Congregação, foi informado e deu seu assentimento à publicação do mencionado Responsum ad dubium, com a Nota explicativa anexa.

Dado em Roma, da Sede da Congregação para a Doutrina da Fé, aos 22 de fevereiro de 2021, Festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo.

Duas coisas são dignas de nota. A primeira é que o Sumo Pontífice foi informado do conteúdo da Carta e deu seu assentimento para que fosse publicada. A segunda é que a data parece ser providencial, pois nesse dia é comemorada a Festa da Cátedra de São Pedro, Apóstolo, aquele mesmo que recebeu de Cristo o poder de governar a Santa Igreja e dar a palavra final. 

O terceiro ponto de discussão foi nomeado “a forma de vida dos sacerdotes”. Resolveram apresentar por meio desse eufemismo o questionamento sobre a obrigatoriedade do celibato sacerdotal. Não é a primeira ou a segunda e nem a terceira vez que o assunto é objeto de discussão. As justificativas que usam para o fim da obrigatoriedade do celibato sacerdotal são as mais diversas, transitando entre razoáveis e dignas de explicação até as mais incoerentes e maliciosas, as quais não mereceriam sequer uma resposta não estivesse o mundo submergido em tanto erro.

O que se pretende com isso é a abolição do celibato sacerdotal tal como foi instituído por Cristo. Como são muitos os argumentos que eu teria de levantar sobre esse assunto a fim de defender a necessidade do celibato dos sacerdotes, prefiro remeter você, meu caro leitor, a um documento da Igreja que deve servir como pontapé inicial para o aprofundamento da matéria. Trata-se do Decreto Presbyterorum Ordinis, n. 16, do Papa S. Paulo VI. Sugiro que, após ler o texto, pesquise pelas abundantes referências constantes das notas de rodapé. 

O quarto ponto de discussão é sobre a “participação da mulher na Igreja”. Novamente se trata de um eufemismo, pois o que realmente está sendo questionado é a proibição de ordenação de mulheres para o diaconato e o presbiterato. A intenção é fazer surgir as figuras da “diaconisa” e da “presbítera”. 

Sabemos que isso não é possível, pois nos dizeres do Papa S. João Paulo II, “a ordenação sacerdotal, pela qual se transmite a missão, que Cristo confiou aos seus Apóstolos, de ensinar, santificar e governar os fiéis, foi na Igreja Católica, desde o início e sempre, exclusivamente reservada aos homens”. Mais sobre o assunto pode ser consultado na Carta Apostólica Ordinatio Sacerdotalis, do Papa S. João Paulo II e na Declaração Inter Insigniores, do Papa S. Paulo VI.

Fato é que com a Igreja construindo a sociedade a partir da difusão do Evangelho, as mulheres foram aos poucos vendo reconhecida a sua dignidade no meio de uma sociedade para a qual eram ontologicamente inferiores aos homens. Os Evangelhos mencionam continuamente as santas mulheres que seguiam Jesus Cristo, prestando-lhe inestimáveis serviços em seu apostolado. Referem-se também à primeira aparição de Cristo após a ressurreição, demonstrando que foram as mulheres as escolhidas para dar início ao testemunho desse fato central de nossa Fé. Acima de tudo isso, temos a figura de Maria Santíssima, a Grande Mulher, a Medianeira de todas as Graças, aquela foi assunta ao Céu em corpo e alma e que é venerada como Rainha do Céu e da Terra, partilhando o reinado de seu Filho e tida pelos fiéis de toda a Igreja como Co-redentora do gênero humano. 

A criatura que está sobre todas as criaturas, sejam elas angélicas ou humanas, é uma mulher (seja bendita para sempre. Amém)!

No entanto, os mesmos Evangelhos deixam claro que Nosso Senhor Jesus Cristo constituiu o colégio Apostólico somente de homens, pelo que não pode a Igreja – novamente pelas limitações dos poderes a ela conferidos – insurgir-se contra aquilo que foi determinado por seu Divino Fundador.

Até aqui explicamos em síntese tudo o que está se passando e os fundamentos pelos quais os anseios de parte do Clero da Igreja da Alemanha não podem de modo algum encontrar abrigo seguro.

No entanto, devemos falar em bom português o que significaria a aceitação de qualquer uma dessas propostas: 

A aceitação de qualquer uma das propostas do Caminho Sinodal significaria destruição da Igreja.

Você deve se questionar se eu estou afirmando ser essa a intenção das pessoas que estão promovendo o Caminho Sinodal. Meu caro irmão, você sabe que é difícil julgar intenções, pois temos de reconhecer que mesmo no Clero, com toda a formação disponível, abunda a ignorância sobre os temas mais elementares, como por exemplo a moral sexual (quantos são os Padres que não consideram os pequenos prazeres venéreos consentidos como pecado grave?). Mas penso que não podemos ser ingênuos o bastante para acreditar que todos eles não sabem para quem estão trabalhando – e novamente em bom português é necessário dizer: para o diabo. É razoável crer, portanto, que parte dessas pessoas age com conhecimento de causa e propósito deliberado.

Acontece que nessa segunda-feira, no dia 10 de maio de 2021, às 19h (horário de Berlim), cerca de 2.500 membros do Clero da Igreja da Alemanha, em flagrante desobediência à resposta dada pela Congregação pela Doutrina da Fé (cujo conteúdo obteve anuência e autorização para a publicação por parte do Santo Padre), levou a efeito uma campanha chamada “bênção dos apaixonados”. Essa campanha consistiu em um mutirão de bênçãos concedidas às uniões homoafetivas e contou com a participação de diversas Paróquias.

Esse verdadeiro escândalo promovido por parte do Clero da Igreja da Alemanha levou autoridades eclesiásticas e um grande número de fiéis a pedirem ao Papa que tome providências urgentes. Como eu disse, não cabe a mim julgar qual é a medida mais prudente a ser tomada pelo Santo Padre. Quando eu digo isso, não é falsa modéstia: Eu realmente não faço ideia! Mas uma coisa é certa: A opinião que tem circulado de que o ato de desobediência caracteriza um ato cismático parece correta, não só pela tipificação do ato naquilo que prescreve o Código de Direito Canônico (CDC, Cânon 751), mas pela própria intenção dos agentes. Veja o que Michael Schromin escreveu para o Publik-Forum, publicado no dia 02 de julho de 2019: 

“Disputa monástica”: com essas palavras, um papa, Leão X, havia liquidado os pedidos de Martim Lutero. Um erro fatal de avaliação, como mostra a história. A disputa monástica levou à divisão da Igreja, uma divisão que – apesar de todos os esforços ecumênicos – presumivelmente não poderá mais ser anulada.

Que as mudanças religiosas e a pesquisa teológica da Alemanhanão sejam favoravelmente acolhidas no Vaticano, é uma tradição. Em um período que vai de Lutero, do infeliz dogma da infalibilidade e da cisão dos vétero-católicos, até a falta de respeito do sínodo de Würzburg (1971-1975). Amargas rupturas e emigrações internas poderiam ter sido evitadas.

Em seguida, o autor do artigo infame fala sobre a importância de discutir os assuntos até aqui tratados. Para mim, o tom de ameaça é claro: Ou o Papa aceita a discussão de tais assuntos, ou a Igreja da Alemanha pode dar o seu grito de independência ou morte. É digno de lamentação que essas pessoas parecem não saber que nesse caso a “independência” significa escravidão e morte.

Vale ressaltar que tive acesso a essa matéria por uma tradução disponível no site do Instituto Humanitas Unisinos, que é um desses institutos da ala progressista da Igreja (refiro-me a eles assim apenas para me fazer entender, pois de modo algum esse instituto pode ser considerado “da Igreja”, tal como a quase totalidade dos membros da ala progressista).

Antes de prosseguirmos para a meditação que deve servir de desfecho para esse artigo, deixo aqui uma passagem das Escrituras que sempre me vem à mente quando penso nos poderosos que parecem trabalhar dia e noite pela destruição da Igreja e de seus filhos mais fiéis:

Por que se tumultuam as nações? Por que tramam os povos vãs conspirações? Erguem-se juntos os reis da terra, e os príncipes se unem para conspirar contra o Senhor e contra seu Ungido. “Quebremos o seu jugo – dizem eles – e sacudamos para longe de nós suas cadeias!” (Sl 2, 1-3).

Jesus cuida de sua Igreja. É certo que no final recompensará a cada um segundo suas obras. Maran atah!

E nós?

Em primeiro lugar, devemos rezar, e rezar muito! Devemos pedir a Maria Santíssima que peça a seu Divino Filho pela unidade da Igreja. A humanidade bem merece todos os castigos da parte de Deus, porque nos dois últimos Séculos aumentou o número e gravidade de seus delitos de forma nunca antes vista em toda a sua história. Mas Maria Santíssima, que tudo pode junto a seu Filho, é capaz de lhe aplacar a justa ira, desde que nós façamos tudo o que ela nos pediu em Fátima. Rezemos, pois, e façamos penitência na intenção da unidade da Igreja e da conversão do Clero desviado. Lembremos sempre que os presbíteros sofrem provações que nós leigos sequer podemos imaginar. Não são eles as pessoas de quem o diabo realmente tem medo? É certo que sim, pois um santo Sacerdote é capaz de derrotar legiões e mais legiões vindas do inferno. Bem por isso o diabo não poupa esforços para desviar um Sacerdote do reto caminho.

Reze o Terço todos os dias. Não se considere imune a tais erros. Sem a ajuda de Nossa Senhora, que prometeu proteção contra as heresias para quem praticasse essa devoção, você não poderá avançar muito. A Igreja a chama de “sede da Sabedoria”. É a excelsa virtude da Sabedoria que torna o homem capaz de debelar o erro, sem o que não há triunfo contra a heresia. Se você deseja se aprofundar para rezar melhor o Santo Terço, leia os últimos artigos que o Petter tem publicado em minha coluna Fé pelo ouvir, disponível no site dos Cooperadores da Verdade.

Em segundo lugar, devemos conhecer, amar e defender a Fé Católica, inclusive dos falsos católicos, sejam eles Bispos, Sacerdotes, Diáconos, religiosos ou leigos! E se você acha que é temerário de minha parte dizer isso, deixe-me refrescar sua memória com alguns nomes: Ário, Pelágio, Apolinário, Macedônio, Nestório, Lutero. Não preciso de muito para lhe dizer que os maiores traidores da Igreja de Cristo foram os próprios Bispos da Igreja, e isso já estava anunciado no próprio Judas Iscariotes. O Corpo deverá padecer tudo o que Cristo Cabeça padeceu.

Por fim, é necessário que divulguemos os acontecimentos e os bons materiais que têm sido produzidos sobre o assunto. É por isso que aqui vai o meu apelo para que esse humilde artigo seja compartilhado com o maior número de pessoas possível, não tanto pela profundidade de seu conteúdo, mas por servir como uma boa introdução, um bom ponto de partida. O Centro Dom Bosco tem gravado vídeos nos últimos dias sobre o assunto; vale muito a pena conferir. Por fim (e não estou sendo pago para isso!), adquira o curso de apologética dos Cooperadores da Verdade. Quem assistiu as lives sabe a diferença que faz um conhecimento mais profundo da nossa Fé!

Se você já desenvolve um trabalho nas redes sociais produzindo conteúdos dessa natureza, faça também você textos ou vídeos para dar publicidade ao fato. Se você desempenha alguma função de ensino dentro da Igreja, seja você Padre, Diácono, religioso ou até mesmo catequista, não se esqueça de tratar desse assunto com as pessoas que foram confiadas aos seus cuidados. É muito importante uma orientação lúcida e prudente, tanto para mostrar o erro como para corrigir os excessos nascidos do zelo dos fiéis. 

Julgo necessário encerrar esses artigos com uma breve reflexão sobre a unidade da Igreja. Jesus Cristo, na Última Ceia, pediu isto ao Pai:

“Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17, 21).

Veja que da unidade da Igreja depende a salvação do mundo, pois sem Fé em Jesus Cristo é impossível alcançar a salvação, pelo que o diabo sempre fez e sempre fará ao longo do nosso tempo grandes apostas pela divisão da cristandade por meio de heresias e escândalos. Não pense somente em você e na sua família. Tenha amor pelo próximo. Ame até mesmo o inimigo. Que recompensa tem aquele que só ama aqueles que o amam? Pense, por tudo o que é mais sagrado, nas inúmeras almas que podem se perder se você não agir! Saia imediatamente da bolha do egoísmo e, a exemplo de Maria Santíssima, enxergue o mundo ao seu redor e trabalhe pela salvação dele!

Tenhamos coragem! Combatamos o bom combate! Cristo venceu e os que permanecerem fiéis até o fim ganharão a coroa da glória eterna!

Que Deus abençoe a todos e ao apostolado Cooperadores da Verdade.

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