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Exegese Católica e Infalibilidade da Igreja

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A exegese católica tem mudado suas sentenças, parecendo em muitos pontos concordar com os autores racionalistas contemporâneos. Não seria isto traição? Onde vamos parar ao fazer concessões à mentalidade liberal moderna? Amanhã os exegetas católicos não trocarão de novo seus pontos de vista? Os próprios Evangelhos não serão também interpretados diversamente? Nisso tudo onde fica a infalibilidade da Igreja?

As questões formuladas deixam de constituir problemas desde que se esclareçam os dois seguintes pontos: a) por que motivo a exegese moderna mudou várias sentenças professadas pelos autores medievais ? b) qual tem sido no caso a atitude da autoridade infalível da Igreja? Elucidemos, pois, sucessivamente estes dois itens.

1. Porque a exegese mudou?

Quem de maneira superficial observa a história dos debates filosófico-religiosos dos últimos 150 anos, talvez colha a impressão de que o genuíno pensamento católico é infenso às inovações modernas em matéria de exegese. A prova disso seria a resistência que os estudiosos católicos opuseram às primeiras teorias dos críticos e evolucionistas em meados do século passado. Parece, porém, que essa relutância se mostrou inútil, dada a evidência com que aos poucos se foram impondo as teses da crítica moderna. Em consequência, os exegetas católicos (ou, como se diz comumente, a Igreja) haveriam resolvido pactuar com a ciência contemporânea, a fim de não capitularem por completo. Assim procedendo, porém, haveriam realizado lamentável obra de traição.

Esta interpretação dos fatos, por muito plausível que pareça, não corresponde à realidade. Fica então aberta a questão: quais seriam os motivos da dupla atitude das escolas católicas perante as tendências da crítica moderna?

Reconstituamos com brevidade a genuína história dos acontecimentos.

1.1. Uma bomba explode: alarme. . . Até o início do século passado, os exegetas seguiam fielmente uma norma de valor indiscutível para a interpretação de qualquer texto de literatura: «O intérprete não se deve afastar do sentido literal do texto, a menos que haja claros indícios de emprego metafórico das palavras» (norma ainda oportunamente incutida pela Pontifícia Comissão Bíblica aos 23 de junho de 1305 ; Enchir. biblic. No 154). — Supõe-se sempre que quem fala ou escreve, esteja empregando os vocábulos em sentido próprio, e não em sentido impróprio.

Ora, lendo as primeiras páginas da Bíblia, os antigos não tinham indício algum de que tais textos não deviam ser entendidos ao pé da letra: com efeito, a geologia, a paleontologia, a astronomia, etc. na Idade Média nada tinham a opor à concepção de que o mundo foi criado em seis dias de 24 horas, … o sol, a lua e as estreias apareceram depois da luz,… o homem foi formado a partir do barro…

Eis, porém, que, a contar dos primeiros decênios do século passado, as ciências naturais foram descobrindo dados novos e formulando hipóteses inovadoras; surgiram, sim, teorias evolucionistas no setor da biologia, da antropologia, da sociologia; aventou-se a possibilidade de que o Pentateuco (os cinco livros de Moisés) e outros opúsculos bíblicos tenham sido redigidos a partir de documentos-fontes, mediante a colaboração de autores diversos, etc.

Tais teses não somente eram inovadoras; elas vinham outrossim apregoadas por autores de mentalidade ateia ou, ao menos, pouco cristã, como Wellhausen, Darwin, Haeckel, Karl Marx, Augusto Comte…

Uma das figuras mais representativas dos exegetas racionalistas do séc. XIX é Wellhausen. Este autor servia-se da tese das fontes do Pentateuco para arquitetar a respeito da história sagrada uma teoria evolucionista e anticristã: o povo de Israel teria sido politeísta, e só gradativamente haveria purificado sua religiosidade para chegar em época tardia ao monoteísmo. Na Bíblia haveria vestígios dessa mentalidade pagã do povo de Deus!

Diante de tal corrente de pensamento, entende-se que a primeira reação dos católicos tenha sido a de repulsa: em vista da associação (contingente, sem dúvida, mas bem real) que se dava entre ciência moderna e filosofia anticristã, a muitos parecia que, para manter a fé religiosa, era preciso fechar os olhos às mencionadas teorias inovadoras ou mesmo condená-las em bloco; não somente teólogos, mas também prelados da Santa Igreja, julgaram-se obrigados a tomar tal atitude, justamente para não atraiçoar o patrimônio da fé.

Formaram-se assim dois setores bem delimitados: de um lado, estavam os que desejavam guardar a fé em Deus e no Cristo e, por isto, julgavam dever conservar as posições exegéticas antigas, distanciando-se cada vez mais da evidência científica; do outro lado, puseram-se os que preferiam seguir os resultados da ciência e, por isto, julgavam dever rejeitar a fé em Deus e nas Escrituras Sagradas. No tocante às origens do mundo e do homem em particular, o dilema se formulava: Ou criação (com a Bíblia) ou evolução (com a Ciência)… Durante algum tempo, as posições pareciam irredutíveis.

Aos poucos, porém, elas se foram aproximando…

1.2. Primeiro ensaio de conciliação: o «concordismo». Uma primeira tentativa de conciliação foi o chamado «concordismo». Seguindo este sistema, o exegeta olhava para as mais recentes teses da ciência e procurava interpretar a Bíblia de acordo com elas, sujeitando-se por vezes a professar sentenças artificiais e violentadoras do texto sagrado. Embora os resultados desse método fossem harmonia e concórdia (ao menos aparentes) entre ciência e fé, a nova tática exegética era condenável, pois de certo modo equivalia a uma traição. Com efeito, a atenção, que tais «concordistas» dispensavam à letra da Escritura Sagrada era insuficiente; os critérios adotados na exegese eram as teorias das ciências naturais (astronomia, biologia, etc.); a Bíblia vinha assim acomodada a padrões não-bíblicos; seus intérpretes, sem o saber nem querer, a desvirtuavam e esvaziavam.

Eis um ou outro espécime de textos didáticos inspirados pelo método concordista:

Moigno, na obra «Les splendeurs de la foi», em 1881 asseverava: «Está claramente comprovado, como disse antes de nós o grande Ampère, que Moisés teve, em ciências, uma erudição tão profunda quanto a do nosso século — ou que ele era divinamente inspirado». Tal autor exaltava «essa intuição de gênio que adivinha os mistérios da natureza, em harmonia com os oráculos da ciência mais adiantada».

Aliás, já em 1810 J. de Maistre opinava: «O Gênesis basta para sabermos como o mundo começou».

Em 1848 o famoso pregador Lacordaire afirmava: «Moisés possuía, quinze séculos antes da era crista, uma ciência que só devia desabrochar três mil anos mais tarde».

Lapparent parece ser o autor de sentença muito famosa: «Se eu tivesse que resumir em quarenta linhas as conclusões mais autênticas da geologia, copiaria o texto do Gênesis, isto é, a história da criação do mundo tal como a traçou Moisés» (citado em «Essai sur Dieu, rhommp et l’univers», enciclopédia dirigida por J. de Bivort de la Saudée, 1951, 156).

A «Bible populaire» de Drioux, publicada em 1864, trazia a seguinte introdução: «É certo que se encontram na Escritura… todos os preceitos políticos, todas as modalidades de estilo… Coisa estupenda:… nosso século, que é tão maravilhoso por suas invenções e descobertas, parece só ter apreendido os segredos da natureza e rasgado os véus que recobrem seus mistérios, para se aproximar dos dados fornecidos pelos livros sagrados sobre a origem do homem e a criação de todos os seres» (pág. I e II).

Robeaux, na «Bible de L’enfance, de la jeunesse et des familles», em 1898 escrevia: «A narrativa de Moisés, diz Buffon, constitui um relato preciso e filosófico da criação…

Jafé foi o pai dos povos da Europa e do norte da Ásia; Cã, o pai dos povos da África, e Sem, o dos outros povos da Ásia, em particular, dos hebreus… O estudo das línguas provou realmente que todos os povos se podem agrupar em três grandes famílias» (pág. 6 e 19).

Já propusemos crítica minuciosa do concordismo em «P. R.» 23/1959, qu. 3. Em poucas palavras: o concordismo falha gravemente por pressupor que a Bíblia Sagrada visa explanar o mesmo objeto que as ciências profanas, isto é, os fenômenos da natureza. Na verdade, os autores bíblicos apenas aludem em termos pré-científicos a esses fenômenos a fim de elevar o leitor à compreensão de verdades sobrenaturais. Não é, portanto, necessário que Moisés tenha tido a erudição cientifica do séc. XX!

1.3. Segundo ensaio de conciliação: o Modernismo. Enquanto os concordistas tentavam, do seu modo, realizar a aproximação dos exegetas com os cientistas, no início do séc. XX verificava-se outra tentativa de obter o mesmo efeito, tentativa, porém, que só contribuiu para disseminar entre muitos teólogos ortodoxos ainda maior desconfiança para com as teses da ciência e da filosofia modernas. Tal ensaio era o chamado «Modernismo».

O Modernismo representa, sim, um esforço (esforço infeliz, porém) de adaptar a doutrina cristã (em particular, a exegese bíblica) à mentalidade contemporânea; guardando a nomenclatura da teologia tradicional («dogma, fé, inspiração, revelação», etc.), os modernistas esvaziavam o seu conteúdo, pois atribuíam à mensagem cristã um caráter relativista: a religião, em suma, não seria senão a expressão do senso místico subjetivo do homem condicionado pelas circunstâncias de sua respectiva época ; em consequência, o que é verdade religiosa em determinada fase da história, já não é tal em outros tempos. Mais uma vez o conceito de evolução entrava em jogo para servir a uma filosofia anticristã… ! Alguns sacerdotes católicos, fascinados pela «elegância» das proposições modernistas e possivelmente desejosos de realizar uma catequese mais adaptada ao homem do séc. XX, aderiram aos novos erros, tornando-se apóstatas notórios (entre eles sobressaiam Loisy, Tyrrell, Buonaiuti, Murri, Minocchi).

Em reação ao Modernismo, muitos exegetas ortodoxos se fecharam em posições medievais. A Pontifícia Comissão Bíblica em Roma chegou a publicar instruções que restringiam a liberdade de trabalho dos estudiosos católicos, principalmente no que dizia respeito ao Antigo Testamento.

1.4. A obra do Pe. Lagrange. É de certa importância notar, a este propósito, o que se deu com o famoso Pe. Marie-Joseph Lagrange O.P. (1855-1938).

Em 1890, a mandado dos Superiores religiosos, Lagrange dava inicio à Escola Bíblica de Jerusalém, onde procurou de todos os modos atualizar os estudos bíblicos, utilizando os mais variados recursos da cultura moderna; a princípio, o Rev. Padre regia pessoalmente as cadeiras de hebraico, assírio, árabe, arqueologia e introdução geral na S. Escritura. Em 1892 fundou a «Revue biblique», e em 1902 a coleção «Études bibliques», destinada a comentar a S. Escritura do ponto de vista doutrinário, histórico e literário. Em 1903 foi nomeado por Leão XIII membro da recém-fundada Pontifícia Comissão Bíblica.

A orientação de trabalho do Pe. Lagrange se resumia na fórmula que ele mesmo concebeu: «Em espírito católico e em espírito científico» (Revue biblique 1892, pág. 11). Assim Inspirado, o exegeta serviu-se muito dos métodos de critica do texto postos em prática pelos autores liberais e modernos; preconizou a existência de gêneros literários na Sagrada Escritura, isto é, de regras de estilo e redação acomodados a cada um dos diversos assuntos explanados na Bíblia; em consequência, trechos da Bíblia tidos sem restrição como textos de história deveriam ser interpretados menos literalmente. Embora o professor de Jerusalém guardasse em tudo a mais pura ortodoxia e fidelidade absoluta ao magistério da Igreja, algumas de suas proposições pareciam pouco oportunas na época, prestando-se a equívocos mais do que à edificação.

À vista disso, o Patriarca de Jerusalém em 1903 chamou a atenção do Santo Ofício para as idéias aparentemente revolucionárias do Pe. Lagrange; o Papa Leão XIII, porém, defendeu o exegeta. Os anos de 1905-1914 foram penosos para o douto religioso, que sentia pesarem sobre si suspeitas gerais de heterodoxia. Os Superiores em 1912 o removeram do magistério e da cidade de Jerusalém. Voltou, porém, a esta em 1913, menos de um ano depois de partir, e em breve retomou suas atividades de professor e escritor. Finalmente, o Papa Bento XV, logo que subiu ao pontificado (1914), impôs silêncio às vozes temerosas contrárias ao Pe. Lagrange.

Ao ser momentaneamente afastado da cátedra em 1912, Lagrange, conservando o autêntico espírito sobrenatural, escreveu em suas notas íntimas: «Poderia alguém justificar-se indefinidamente contra as suspeitas? Tinha eu recurso mais seguro do que o silêncio e o apelo a Deus?» Na mesma época escreveu ao Papa S. Pio X: «Meu primeiro movimento foi, e meu último movimento será, o de me submeter com o espírito e o coração, sem reserva, às ordens do Vigário de Jesus Cristo…». Alguns meses mais tarde, declarava em um de seus sermões: «Filhos de celtas que somos nós, estamos habituados a dedicar-nos inteiramente; não sabemos marcar o passo. Se o Papa quiser moderar nossos esforços, se mandar que não nos adiantemos na direção para a qual nos impele a generosidade, será essa a nossa provação… Ainda que o Papa dissesse aos seus soldados: ‘Não sois feitos para combater, ide vigiar a bagagem’, obedeceríamos com alegria…».

1.5. Finalmente, a solução. Passou-se a crise modernista. O exemplo do Pe. Lagrange e de outros beneméritos estudiosos católicos demonstrara claramente que é possível unir a erudição moderna com a mais autêntica doutrina cristã; evidenciara, portanto, quão contingente e desnecessária era a associação dos dados das ciências naturais com uma filosofia materialista. Em consequência, foi-se avultando entre os intelectuais católicos a tendência a utilizar todo o aparato da cultura moderna para melhor ilustrar a verdade revelada, principalmente as páginas bíblicas ; a própria Santa Sé foi suspendendo as medidas coibitivas tomadas nos anos da crise… Do outro lado, os homens de ciência passaram a distinguir mais nitidamente entre os resultados das pesquisas empíricas e as interpretações filosóficas que a tais resultados haviam dado os materialistas do séc. XIX e do início do séc. XX. O fruto dessa revisão geral de posições foi a elaboração de sínteses harmoniosas, em que tanto a erudição humana como a fé cristã estão empenhadas no entendimento mais profundo da Sagrada Escritura e de questões filosófico-religiosas em geral.

Toda a tendência católica à síntese, no campo da exegese, chegou ao seu ponto de cristalização oficial quando em 1943 o S. Padre Pio XII publicou a encíclica «Divino afflante Spiritu», encíclica que foi saudada como «uma rajada de ar fresco, de ozônio, depois da tempestade» (Monsenhor Charue, bispo de Namur, no prefácio à edição de L». Cerfaux: Encyclique sur les études bibliques. Bruxelles 1945).

O pensamento de Pio XII nesse documento assim se pode resumir:

A Bíblia é, em sua primeira face, uma peça literária: apresenta uma mensagem divina envolvida dentro de veste linguística humana. Por conseguinte, o único Critério autêntico para se penetrar no seu conteúdo doutrinário será a análise da letra ou do sentido literal do texto. Não há dúvida, os autores sagrados, ao redigirem as páginas bíblicas, serviram-se dos diversos recursos de linguagem que estavam em voga no mundo oriental onde viviam. — À vista disso, torna-se imprescindível ao exegeta reconstituir fielmente o ambiente histórico, geográfico, assim como a mentalidade e o expressionismo dos homens antigos ; é necessário, em outras palavras, que o intérprete moderno retroceda em espírito até os séculos pré-cristãos para entender devidamente o que os autores bíblicos queriam dizer ao usarem tais e tais expressões. Ora nessa tarefa o exegeta é valiosamente auxiliado pelos resultados modernos da arqueologia, da filologia, da assiriologia, da egiptologia, etc., de sorte que, longe de estabelecer divórcio entre tais disciplinas profanas e a ciência sagrada, o estudioso católico tem a obrigação de se servir delas para bem realizar a sua missão religiosa.

Tenha-se em vista, entre outras, a seguinte advertência do S. Padre:

«Os nossos especialistas de estudos bíblicos… não desprezem descoberta alguma da arqueologia ou da história antiga ou da ciência das antigas literaturas, que possa servir ao melhor conhecimento da mentalidade dos antigos escritores, do seu modo e arte de raciocinar, narrar e escrever. E neste campo saibam os seculares católicos que não só contribuirão para o progresso das ciências profanas, senão que também prestarão assinalado serviço à causa cristã, se com a devida diligência e aplicação se derem à exploração e ao estudo da antiguidade, e concorrerem assim para a boa solução de problemas até agora ainda mal solucionados e obscuros. Pois todo conhecimento humano, embora não sagrado, por isso mesmo que é uma participação finita da infinita ciência de Deus, tem já de per si uma sua dignidade e excelência própria; mas eleva-se a nova e mais alta dignidade e quase consagração, quando se emprega em fazer brilhar com clara luz as coisas divinas…

E todos os demais filhos da Igreja lembrem-se de que devem julgar não só com justiça, mas com a maior caridade as fadigas desses valiosos operários da vinha do Senhor; guardem-se daquele zelo pouco prudente que crê dever atacar ou declarar suspeita qualquer novidade unicamente pelo fato de ser novidade» (transcrito da «Revista Eclesiástica Brasileira» 4 [1944] 459-61).

Em outros termos: o Pontífice recomendava a consideração do gênero literário próprio de cada livro sagrado. Tal consideração, conforme o Sto. Padre, não deve ser tida como recurso de apologética desesperada nem como traiçoeira concessão à mentalidade moderna, mas constitui um instrumento normal de exegese, pois a Bíblia é livro no qual a Palavra de Deus se «encarna» na palavra do homem, tomando tudo que esta tem de estilo e expressionismo circunstancial, regional e temporal…

Aliás, poucos anos antes da publicação da encíclica «Divino afflante Spiritu», registrara-se episódio muito significativo.

Um pequeno grupo de eclesiásticos da Itália dirigira ao episcopado e aos Superiores Religiosos daquela nação um opúsculo intitulado: «Um grave perigo para a Igreja e as almas: o sistema crítico-científico no estudo e na interpretação da Sagrada Escritura». A obra denunciava os métodos científicos de exegese como se fossem manifestações de racionalismo, naturalismo e modernismo. Pois bem: em 1941 a Pontifícia Comissão Bíblica rejeitava os dizeres do libelo incutindo desde então a orientação dada pela encíclica «Divino afflante Spiritu»: acautelem-se os exegetas e pregadores contra a errônea tendência a provocar a edificação dos fiéis, apresentando-lhes alegorias piedosas e fantasistas em lugar do sentido óbvio do texto sagrado; toda explicação edificante da Sagrada Escritura há de ser baseada no sentido literal da mesma; é este sentido que o pregador e o comentador têm que averiguar com exatidão antes de proporem qualquer lição ascético-mística em nome da Bíblia Sagrada.

1.6. Reflexões finais. Não se poderiam conceber diretivas mais sábias para os estudos bíblicos do que as que se acham consignadas nos dois documentos do pontificado de Pio XII que acabamos de citar. Como se vê, não é, de um lado nem o medo dos milagres nem o desejo de agradar à mentalidade moderna, nem, de outro lado, o gosto dos milagres e a aspiração a exaltar a ação extraordinária de Deus, que deve guiar o leitor e o comentador da Sagrada Escritura; o critério é objetivo e igual para todo e qualquer estudioso: é o exame do sentido literal do texto com sua escala de matizes que deve ser tomado como base de qualquer interpretação religiosa da Bíblia.

Feita esta observação, verifica-se outrossim o que se há de responder à pergunta : onde vamos parar na remodelação da exegese ? — Dizíamos que o critério para remodelar ou não remodelar não é nem o racionalismo nem a mística, mas é a filologia do texto… Ora inegavelmente esta, nos últimos decênios, pôde ser mais explorada, pois têm sido descobertas bibliotecas e peças literárias dos antigos assírios, babilônios, egípcios…, cuja linguística comparada com a das páginas bíblicas ajuda valiosamente o exegeta a penetrar no sentido literal da Escritura. É possível que para o futuro ainda novos documentos orientais vão sendo descobertos e decifrados de modo a projetar ainda mais luz sobre os textos bíblicos. Na medida, portanto, em que se pode esperar melhor conhecimento da linguística oriental (seja israelita, seja não israelita), pode-se também admitir, para o futuro, alguma conclusão nova em pontos acidentais de exegese do Antigo Testamento (os pontos essenciais já estão esclarecidos e documentados).

Quanto ao texto dos Santos Evangelhos, deve-se observar que foi redigido segundo as categorias da historiografia do início da era cristã ; ora essas categorias já nos são suficientemente conhecidas, de sorte que não restem dúvidas sobre o gênero literário dos Evangelhos e sobre a mensagem própria de cada Evangelista.

Mais uma vez seja lícito frisar: são critérios sempre objetivos, independentes de gosto ou moda, que norteiam a posição do exegeta católico diante das perguntas assinaladas no cabeçalho deste artigo.

2. E a infalibilidade da Igreja ?

2.1. Antes do mais. será oportuno recordar que o magistério infalível da Igreja

a) só se exerce em matéria de fé e de costumes;

b) é manifestado
— ordináriamente: pelo ensinamento unânime do episcopado unido ao Supremo Pastor o Papa;

— extraordinariamente: por uma definição de Concilio ecumênico; por uma definição papal «ex cathedra» (definição em que o Papa intenciona falar como Vigário de Jesus Cristo, dirigindo-se a todos os fiéis em matéria de fé e de costumes).

Sobre a infalibilidade do magistério da Igreja, veja-se «P. R.» 14/1959, qu. 2 e 3.

2.2. Agora, para se entender a atitude da Igreja no decorrer da história da exegese, levar-se-á em conta o seguinte:

Na antiguidade e na Idade Média, os exegetas, seguindo uma óbvia regra de hermenêutica (já comentada no início deste artigo), costumavam tomar ao pé da letra os capítulos da Bíblia que envolvem questões de ciências profanas (não se viam motivos para atitude contrária). Já que essa interpretação era serenamente admitida por todos os cristãos, o magistério da Igreja nunca se viu solicitado a se pronunciar solenemente sobre esse proceder, de mais a mais que versava em grande parte sobre questões pertencentes não à fé e aos costumes, mas às ciências profanas.

As escolas católicas medievais, portanto, ensinavam as teses de que o mundo foi feito em seis dias de 24 horas, … de que o gênero humano tem 5 ou 7 mil anos de existência, … de que o dilúvio foi geograficamente universal, etc. Tais proposições não constituem o ensinamento do texto bíblico como tal nem foram alguma vez ratificadas pelo magistério infalível da Sta. Igreja; representavam simplesmente a interpretação que os teólogos e exegetas (homens da Igreja, mas não a Igreja como tal) davam ao texto bíblico. — Essas proposições eram, sem dúvida, inconsistentes do ponto de vista das ciências naturais; observe-se, porém, que não estava, nem está, dentro da missão da Igreja ensinar alguma coisa sobre tais assuntos de índole profana; as incumbências da Igreja são religiosas, visando santificar as almas, isto é, levá-las a Deus e à vida eterna. Por isto, as mencionadas sentenças podiam ser transmitidas de geração a geração, sem que sofresse detrimento a tarefa específica da Santa Igreja; na verdade, inúmeras almas se santificaram, mesmo abraçando aquelas proposições que no setor das ciências eram deficientes; tais concepções não estorvavam a salvação dos fiéis (para a obtenção da vida eterna, que importa saber quantas raças e sub-raças de animais viveram sobre a Terra?).

Terminou-se a Idade Média… Quando, em época moderna, as novas teorias dos cientistas pareceram solapar as concepções cristãs, os teólogos e prelados reagiram contra elas. Note-se, porém, que também dessa vez o magistério infalível da Igreja não se pronunciou sobre o assunto ; houve, sim, declarações de Congregações e de Comissões da Santa Sé, etc., mas nunca alguma definição solene sobre as novas técnicas exegéticas e suas conclusões. Quando finalmente Pio XII estimulou os estudiosos católicos a utilizarem o cabedal da ciência moderna para penetrarem no sentido do texto sagrado, Pio XII nem falou «ex cathedra», nem se opôs a algum pronunciamento anteriormente emanado do magistério infalível da Igreja.

Como se depreende, em toda essa mudança de exegese estão envolvidas apenas as personalidades de teólogos e estudiosos católicos, não, porém, a infalibilidade da Sta. Igreja como tal. Nem é necessário que o magistério solene da Igreja se exerça a propósito de qualquer questão, mesmo que esta toque o dogma ou a moral; as definições de concílios ecumênicos ou do Romano Pontífice sempre foram ocasionadas por controvérsias dogmáticas, heresias, em suma, por circunstâncias extraordinárias da vida da Igreja.

No tocante à Sagrada Escritura em particular, Pio XIX fazia observar na encíclica «Divino afflante Spiritu» que poucos são os textos cujo sentido haja sido definido pelo magistério extraordinário da Igreja:

«Tenham os fiéis presente que as diretivas e leis dadas pela Igreja versam sobre assuntos de fé e costumes, e que, entre as muitas coisas que se leem nos Livros Santos…, poucas são aquelas cujo sentido tenha sido declarado pela autoridade da Igreja; nem são mais numerosas aquelas das quais tenhamos a sentença unânime dos Padres. Restam, pois, muitas e muito importantes questões em cuja discussão e explicação se pode e deve exercitar livremente o gênio e a perspicácia dos intérpretes católicos» (transcrito da «Revista Eclesiástica Brasileira» 4 [1944] 461).

Quanto às deficiências de interpretação dos exegetas antigos, sabemos que não podem ser tidas como deficiências do texto bíblico como tal (os homens pensavam que o texto bíblico falava de um determinado modo, quando de fato ele assim não falava), nem se devem a descuido de tais estudiosos. Elas se explicam simplesmente pelo fato de que os homens antigos não dispunham dos recursos de trabalho, ou seja, dos conhecimentos filológicos, arqueológicos, historiográficos… de que hoje usufruímos para melhor interpretar a face humana da Bíblia. Não houve culpa nisso, nem houve detrimento para a salvação das almas. Não queira, portanto, o observador moderno julgar os antepassados com rigor que eles não merecem!

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