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Missas Gregorianas

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O que dizer do privilégio das Missas gregorianas, após as quais uma alma seria imediatamente libertada do purgatório?

É comum afirmar-se que uma série de trinta Missas celebradas, uma por dia, sem interrupção alguma, merece para determinada alma do purgatório a remissão de toda a pena temporal.

Para se julgar o valor desta crença, é oportuno recordar a sua origem.

Está baseada remotamente numa narrativa de S. Gregório Magno, Papa (+604), o qual, antes de subir ao Pontificado, foi Abade do Mosteiro de S. André em Roma, onde relata ter ocorrido o caso seguinte:

Na comunidade de Gregório, um dos monges guardava, às ocultas e à revelia da Regra comum, três moedas de ouro em seu poder. Veio, porém, a adoecer gravemente; em consequência, os irmãos que o tratavam, chegaram a descobrir o dinheiro escondido. O Abade então, desejoso de despertar a consciência dos monges e impedir se repetisse tal infração, determinou que, caso falecesse o transgressor, seria sepultado com o seu dinheiro fora do cemitério comum. Com efeito, o enfermo, após haver-se arrependido de sua falta, morreu, e foi enterrado à parte, o que muito impressionou a comunidade. Após isto, o Abade Gregório, que vivia solícito pela sorte do defunto, julgando-o no purgatório, mandou a um de seus religiosos iniciasse uma série ininterrupta de trinta Missas em sufrágio do irmão. A ordem estava sendo executada sem que alguém pensasse em contar os dias de celebração, quando numa noite a alma do monge transgressor apareceu a quem por ele celebrava, dizendo-lhe que até então sofrera, mas acabava de ser admitido na mansão celeste. Foi por essa ocasião que os irmãos pensaram em calcular o número de Santas Missas oferecidas, verificando com surpresa que a aparição se dera justamente após a trigésima celebração.

Este episódio, narrado por S. Gregório sem a intenção de deduzir daí alguma regra, aos poucos na Idade Média foi sendo considerado como normativo: a Abadia beneditina de Cluny (séc. X/XI) conservou entre os seus costumes a praxe das trinta Missas «gregorianas», a qual se difundiu no povo cristão, juntamente com a convicção de que o Senhor, por sua Misericórdia, concedia a remissão das penas do purgatório à alma a quem fosse aplicada a série sagrada. Ao lado, porém, das trinta Missas gregorianas, os medievais costumavam celebrar séries de 3, 5, 6, 7, 9, até mesmo de 41, 44 e 45 Missas pelos defuntos, séries não raro inspiradas em narrativas análogas à que acima citamos. A Igreja nunca definiu a eficácia especial de alguma dessas séries de Missas. No séc. XVI, quando se efetuou uma reforma da Liturgia, as autoridades eclesiásticas houveram por bem só permitir para o futuro a série das Missas gregorianas, cancelando as demais congêneres; com esta atitude, porém, a Igreja não intencionou em absoluto garantir a crença popular concernente aos frutos das Missas gregorianas. Não há na Tradição cristã fato nem documento algum que possa servir de base plenamente segura a tal crença; o próprio S. Gregório Magno, narrando o caso acima referido, não visava tirar do mesmo alguma conclusão geral. Em favor da praxe está apenas o fato de que a Igreja a aprovou e aprova, sem, porém, decidir algo sobre os efeitos a ela anexos.

A título de ilustração, pode-se acrescentar que, aos 17 de março de 1934, o Santo Ofício rejeitou o uso, recentemente instaurado na Polônia, de celebrar 44 Missas por uma pessoa ainda viva, a fim de que sua alma fosse, conforme uma pretensa «Revelação Divina», libertada do purgatório três dias após a morte. Tal praxe e crença foram julgadas supersticiosas.

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