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Como se justificam as imagens nas Igrejas?

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O Senhor vedou aos israelitas a confecção de imagens, estátuas, etc., visto que na antiguidade pré-cristã facilmente se atribuía a esses artefatos um caráter religioso; eram considerados pelos pagãos como símbolos em que a Divindade estava presente, ou como a Divindade mesma. Dada essa ideologia dos povos vizinhos de Israel, o uso de imagens acarretava perigo para a fé monoteísta dos hebreus, que as poderiam ter na mesma conta em que as tinham os idólatras (coisa que de fato se dava quando os israelitas transgrediam o preceito do Êxodo; cf. 4 Rs 18,4; Ez 8,3-18). Justamente para evitar a confecção de imagens, o Senhor não tomava forma nem figura quando falava a Israel; apenas fazia notar a sua presença por meio de raios, trovões, ventos, etc. Destarte subtraia ao seu povo qualquer ponto de apoio para fabricar alguma representação de Deus; o próprio Javé se dignou revelar o motivo da proibição no texto de Dt 4,15s, paralelo a Ex 20,4s:

“Estai atentos; já que não vistes forma nenhuma no dia em que Javé no Korebe vos falou, em meio ao fogo, não prevariqueis e não façais imagem esculpida a representar o que quer que seja”.

Em resumo, a proibição no Antigo Testamento era condicionada: 1) pelo perigo de idolatria que continuamente ameaçava Israel; 2) pelo fato, correlativo ao anterior, de que o Senhor Deus nunca se manifestava com alguma forma ou figura que pudesse ser reproduzida.

Não obstante, em certos casos, tomadas as cautelas contra o perigo de idolatria, o Senhor não somente permitiu, mas até mandou, se confeccionassem imagens sagradas, a fim de elevar a piedade de Israel, Foi, por exemplo, o que se deu na fabricação da Arca da Aliança: por ordem explícita de Javé, Moisés colocou dois querubins de ouro sobre o Propiciatório da Arca, tendo as asas voltadas para o alto e as faces dirigidas para a placa sagrada de metal; era pelo Propiciatório assim configurado que Javé falava ao seu povo (cf. Ex 25,17-22); em vista disto, a Bíblia costuma dizer que “Javé está assentado sobre os querubins” (cf. 1 Sam 4,4; 2 Sam 6,2; 4 Rs 19,15; SI 79,2; 98,1). No Templo construído por Salomão, diz ainda o texto sagrado que foram confeccionados querubins de madeira preciosa para ficar junto à Arca da Aliança (cf. 3 Rs 6,23-28); e mais: as paredes do Templo foram todas revestidas de imagens de querubins (cf. 3 Rs 6,29s). Tais obras se fizeram, sem dúvida, com a ordem ou a aprovação do próprio Deus (cf. 1 Crôn 22,8-13), que, já no deserto, “comunicara a Beseleel o seu espírito — espírito de sabedoria, inteligência e ciência — para realizar toda espécie de obras, para conceber e executar projetos de obras em ouro, prata e bronze… assim como para talhar a madeira” (cf. Ex 31,1-5). Vê-se assim com que apreço Deus considerava as esculturas de seu Templo, já mesmo no regime do Antigo Testamento.

Passaram-se, porém, os séculos… O mesmo Senhor que se mantivera invisível, quis tomar corpo humano e viver na terra; quis assim dirigir-se aos homens mediante uma figura (a do Cristo Jesus) que, sem dúvida, devia ser bem impressionante.

Em consequência, as gerações cristãs compreenderam que, segundo o método da pedagogia divina, mais do que nunca atualizado na Encarnação, deveriam procurar subir ao invisível passando pelo visível que Cristo nos apresentou; a meditação das fases da vida de Jesus e a representação artística das mesmas se tornaram recursos com que o povo fiel procurou aproximar-se do Filho de Deus; a reprodução em tela ou escultura dos episódios da história sagrada ficou sendo o “catecismo dos iletrados”, como diziam escritores antigos. E a bom direito; por que não aproveitar da aprendizagem pelos olhos depois que o próprio Deus se dignou, pela Encarnação, oferecer tantas cenas à nossa contemplação? Nem há que temer o perigo da idolatria ou do politeísmo: o mundo cristão não costuma ser tentado por este erro, como tentado era o povo de Israel.

Na base, pois, destas considerações, os cristãos perceberam que o preceito de não fazer imagens no Antigo Testamento tinha o papel de pedagogo (condutor de criança, destinado a cessar um dia a sua função) que a Lei de Moisés tinha em geral junto ao povo de Israel. Foi o que se afirmou solenemente no século 8º quando surgiu explicitamente a dúvida sobre a liceidade de expor imagens nos templos; a tendência iconoclasta não prevaleceu.

Como se entende, as autoridades eclesiásticas têm exercido controle sobre os tipos de imagens utilizadas no culto cristão;

nunca poderão ser inspiradas unicamente pelo esteticismo ou pela devoção popular exuberante, fantasista. Assim é que o Papa Urbano VIII em 1629 condenou a representação da Santíssima Trindade sob a forma de um tronco humano com três cabeças (monstruosidade!); em 1745 Bento XIV rejeitou a cena de três pessoas humanas sentadas uma ao lado da outra para significar a Trindade Divina. Uma das principais razões dessas reprovações é que o Espírito Santo nunca apareceu sob forma humana; a Igreja quer que a arte cristã, para representar as Pessoas Divinas, só reproduza elementos mediante os quais estas aparecem na história sagrada ou na Bíblia: assim ao Filho será de todo oportuno atribuir figura humana; ao Espírito Santo só convém os símbolos da pomba (tenha-se em vista o batismo de Jesus, em Mt 3,16) ou das línguas de fogo (cf. a narrativa de Pentecostes, em At 2,3); quanto ao Pai Eterno, é representado por um Dedo ou uma Mão, sinais de ação e poder (note-se a expressão de Jesus em Lc 11,20: “Se é pelo Dedo de Deus que expulso os demônios.,.”) ou pelo tipo de um Ancião, consoante a profecia de Dan 7,9, que vê o Filho do homem adiantando-se em direção de venerável e antigo Varão de cabeleira branca, sentado sobre um trono.

Claro está que as imagens não são objeto de adoração por parte dos católicos. Esta forma de culto (que consiste em reconhecer a soberania absoluta do ser cultuado) convém a Deus só: nunca poderá ser compartilhada nem com a Virgem Mãe de Deus, nem com algum santo, muito menos ainda com figuras inanimadas. Estas são apenas sinais que, impressionando a nossa sensibilidade, devem estimular o espírito para aderir mais plenamente ao Bem Invisível que é Deus, ou para se dirigir a um amigo de Deus já existente na glória, um Santo.

E para que (pergunta-se com particular insistência) havemos de elevar o nosso pensamento aos Santos?

Certamente não para os adorar, mas primeiramente para louvar e glorificar o Todo-Poderoso por motivo da obra grandiosa que Ele realizou em seus Santos (os Santos são manifestações do Senhor, que só nos querem encaminhar para o Senhor); em segundo lugar, para pedir a esses Santos que, na qualidade de eleitos de Deus, queiram interceder por nós, que ainda cerremos perigo; o Santo nada pode conceder por si mesmo; pode, porém, por suas preces ajudar-nos a obter do único Doador as graças de que necessitamos.

Ainda vêm a propósito neste assunto as Atas do VIII Congresso Evangélico de Arte Sacra realizado em Karlsruhe (Alemanha) no ano de 1956. Duas teses bem distintas se defrontaram nos debates:

a) os Reformados (Calvinistas) defendiam a opinião, tradicional entre os Protestantes, de que as imagens são contrárias à Escritura Sagrada e acarretam o perigo de idolatria;

b) os Luteranos, porém, replicaram que o preceito de Cristo mandando aos discípulos pregar o Evangelho em todas as línguas, inclui também uso da linguagem figurada do artista (pintor ou escultor). Lembravam que a Bíblia se serviu de imagens, palavras de sentido metafórico, para exprimir verdades divinas; Cristo mesmo falou em metáforas variadas, de sorte que o pintor protestante Rembrandt não hesitou em pintar cenas dos Santos Evangelhos. Acrescentavam os Luteranos que quem, com Lutero, reconhece na música o veículo apto da fé e do amor dos cristãos, não pode deixar de reconhecer também nas representações óticas aptíssimo instrumento para exprimir a verdade revelada. Por que admitir, de um lado, as impressões auditivas na catequese e no culto e, de outro lado, rejeitar as impressões visuais? Estas parecem ainda mais eficientes do que aquelas (documentação colhida no semanário “Der christliche Sonntag”, Herder, 14 Oktober 1956, 327).

Assim é que a antiga cláusula de Ex 20, 4s dada ao povo de Deus ainda muito rude, vai sendo, entre os próprios Protestantes, mais e mais interpretada à luz do conjunto da Revelação, que é toda irradiada pela Encarnação do Filho de Deus.

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